Demétrio
Estou deitado nessa cama faz um pouco mais de nove horas, ouvindo o bip irritante da máquina que me lembra a todo segundo o porque estou aqui.
Pedi a Gavin para ir até a mansão e dizer para minha mãe que precisei fazer uma viagem de última hora para um contrato importante. Não gosto e nem costumo mentir para ela, mas ainda não quero preocupá-la.
Meus olhos vão para a enorme janela e de onde estou deitado posso observar a selva de pedra brilhante à minha frente. Observo os edifícios, as luzes, as nuvens, a noite, as estrelas, tudo em perfeita harmonia. A luz do quarto que está apagada de repente é acesa pelo médico que está cuidando do meu caso clínico.
Ele não veio sozinho, tem alguns enfermeiros com ele e isso para mim é estranho, não estou morrendo ainda. Ele disse que eu tenho alguns dias, não posso partir assim.
— Vamos logo, preparem ele para a cirurgia! Quero ele sedado no centro cirúrgico em três minutos! — escuto ele falar para os enfermeiros.
— Espera um minuto! Não toquem em mim! Doutor, o que está acontecendo? Por que vai me levar para a sala de cirurgia a essa hora?
— Parece que está com sorte, senhor James! Temos um coração no hospital que é compatível com o senhor... Agora não podemos perder um segundo.
Espera... Se tem um coração no hospital compatível comigo, isso quer dizer que alguém deixou de viver para que eu não morresse. Isso não é justo, alguém morreu para que eu sobrevivesse, está errado, uma vida foi interrompida para a minha continuar.
Não pude raciocinar por muito tempo, colocaram uma máscara em meu rosto e mandaram respirar profundamente, segundos depois cai em um sono profundo. Algo estranho aconteceu depois que apaguei.
Uma luz branca se fez e quando dei por mim estava em um lugar que parecia uma enorme sala de espera com apenas um sofá de dois lugares, nele tinha uma jovem mulher sentada.
Tudo à nossa volta era só branco, sem janelas, sem portas, apenas branco. Eu estava usando a roupa do hospital, caminhei até a jovem, ela estava com alguns cortes em seu rosto, mas ainda assim era linda. Ela me olha e pede um favor:
— Cuide dela para mim, agora eu não posso mais... Porém, você ficará com algo meu e deverá cuidar dela para mim. É o único jeito de me agradecer.
— Te agradecer? — assim que pergunto tudo se desfaz diante de meus olhos.
A jovem continua olhando para mim, enquanto observo o sofá sumir na escuridão. Ao longe escuto um bipe, esse bipe é calmo, tranquilo, me trás conforto e não irritabilidade. Escuto vozes ao longe, não consigo decifrar o que dizem, sinto um incômodo em minha garganta, volto para a escuridão logo em seguida.
Não sei por quanto tempo eu apaguei, quando acordei minha mãe estava ao meu lado e Gavin também. Senti uma enorme dificuldade para falar, minha garganta doía um pouco e minha voz saiu rouca e baixa.
— Não... Deveria... Contar... Para ela, Gavin!
— Não tive opção, me ligaram daqui dizendo que você estava na sala de cirurgia há dois dias, ela precisava saber e estar aqui nesse momento tão importante.
— Há... Dois dias? — fico pasmo ao descobrir que estou apagado por dois dias.
— Sim, meu filho. Eles acharam melhor para você e mais seguro dormir nas primeiras quarenta e oito horas. — minha mãe fala sorrindo e segurando minha mão.
— Nós não podemos ficar mais, você está no CTI, eles disseram que você estava dando sinais de que iria acordar e por isso permitiram nossa entrada. Mas preciso levar sua mãe para casa, ela precisa jantar e dormir, essa teimosa está sem dormir desde a sua cirurgia. — Gavin parece aliviado por me ver bem.
— Espere... — tento controlar minha voz que está falha — Descubra... Quem foi... O doador!
— Isso é sigiloso, não sei se o hospital vai me dizer quem foi seu doador!
— Des... Descubra! — insisto.
— Tudo bem, vou dar um jeito! Não fique agitado, você não pode... Agora temos que ir, voltamos amanhã pela manhã.
Os dois saem do quarto me deixando ali com uma sensação estranha em meu peito, eu consigo sentir algo ali mesmo anestesiado... É estranho.
Tem o coração de outra pessoa batendo em meu peito, o meu já não me pertence mais. Tenho emoções conflitantes dentro de mim e isso me deixa confuso, parece uma preocupação com alguém... Mas quem?
Sou tirado dos meus pensamentos por uma enfermeira que entra para verificar meus sinais vitais, ela troca algumas bolsas de soro que estão vazias e depois aplica algum medicamento no acesso em minha mão.
Minha vista pesa e eu durmo novamente, mas as emoções dentro de mim me fazem querer levantar e procurar por algo que não sei exatamente o que é.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Gloria Katia Baffa
Este capítulo foi pura emoções
2025-05-02
0
Jucileide Gonçalves
Muito forte essa história.💜💜💜💜💜
2025-04-28
0
Fatima Gonçalves
COM CERTEZA PRECISA MESMO
2025-03-28
1