Agora você sabe

O silêncio dentro da cabana pesava como um fardo invisível.

Xīyán não conseguia se mover.

A mulher diante dela — a gata branca que havia acolhido — estava ali, de pé, com uma presença tão imponente quanto delicada. Era real.

Seus cabelos brancos esvoaçavam levemente, mesmo sem vento. Seus olhos azuis brilhavam com uma calma profunda, quase antiga, como se carregassem séculos de histórias silenciosas.

Xīyán engoliu seco.

— O que… você…?

A mulher inclinou a cabeça, suavemente familiar, como a gata fazia.

— Você já sabe.

A resposta fez um arrepio percorrer a espinha de Xīyán.

Ela sabia.

Sempre soube que aquela gata era diferente. Sempre sentiu que havia algo de misterioso e inexplicável nela. Mas admitir isso agora, vendo-a de pé como uma mulher, era algo completamente diferente.

Xīyán se afastou instintivamente, esbarrando na mesa.

— Isso é um truque… um feitiço? — Sua voz falhou. Ela não queria acreditar, mas era impossível negar o que via.

A mulher apenas observou, paciente.

— Eu nunca menti para você.

Xīyán soltou uma risada nervosa.

— Nunca mentiu?! Você fingiu ser um gato falante!

A mulher arqueou uma sobrancelha.

— Eu sou um gato. E também não sou.

Xīyán apertou os olhos, confusa.

— O que isso significa?!

A mulher suspirou levemente, cruzando os braços.

— Significa que você ainda não está pronta para ouvir tudo.

Essa resposta só irritou mais Xīyán.

— Não estou pronta?! Você está na minha frente, brilhando como um espírito, e me diz que eu não estou pronta?!

A mulher sorriu de canto, como se estivesse se divertindo com a reação.

— Sim.

Xīyán cerrou os punhos.

— Então por que está me mostrando isso agora?

A expressão da mulher ficou séria.

— Porque você perguntou.

Xīyán piscou, surpresa.

A gata — não, a mulher — estava certa.

Ela passou os últimos dias desconfiando, esperando, tentando entender. Procurando respostas.

E agora que as tinha…

…o que faria com elas?

O vento lá fora soprou forte, como se a floresta também aguardasse o que viria a seguir.

Xīyán sentiu seu coração martelar dentro do peito.

E então, respirou fundo, reunindo coragem para perguntar:

— Quem… exatamente… você é?

A mulher a observou por um longo momento.

E então, finalmente, respondeu.

— Meu nome é Xīwàng.

Xīyán sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

Ela conhecia essa palavra. Xīwàng significava "esperança".

Mas antes que pudesse processar o que isso realmente significava, Xīwàng deu um passo à frente.

Seus olhos azuis brilharam intensamente.

E então, a luz ao redor dela explodiu em um clarão, ofuscando Xīyán.

Quando o brilho sumiu…

A mulher havia desaparecido.

E ali, no mesmo lugar de antes…

Estava apenas a gata branca, deitada calmamente no chão.

Como se nada tivesse acontecido.

O silêncio dentro da cabana voltou a se instaurar.

Xīyán ficou ali, paralisada, fitando a gata branca que agora descansava calmamente no chão.

Seu peito subia e descia lentamente, os olhos azuis meio fechados, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse acabado de se transformar em uma mulher e voltado à forma animal diante dos olhos de Xīyán.

Mas havia acontecido.

Xīyán sabia.

Ela viu.

Ela ouviu.

Sentia o coração martelando forte, sua mente girando em mil direções.

— Você…

Sua voz saiu mais baixa do que esperava.

A gata abriu um olho e a observou com uma calma quase irritante.

— Hm?

Xīyán cerrou os punhos.

— Não finja que nada aconteceu.

A gata bocejou, espreguiçando-se.

— Aconteceu o quê?

Xīyán bufou, incrédula.

— Você sabe do que estou falando! Você… se transformou! Você era uma mulher! Eu vi!

A gata piscou devagar.

— …Você tem certeza?

Xīyán sentiu um calafrio subir pela espinha.

A voz da gata era suave, tranquila, mas carregava algo profundamente enigmático.

Xīyán abriu a boca para responder, mas hesitou.

Tinha certeza?

O que havia acontecido ali… foi real?

Ou… teria sido um truque da sua mente? Um delírio provocado pelo cansaço?

Ela fechou os olhos por um instante, tentando se concentrar. Tudo parecia tão real.

Mas agora, olhando para a gata — tão pequena, tão inofensiva — começou a se perguntar se estava perdendo o juízo.

Xīyán balançou a cabeça, frustrada.

— Você está brincando comigo?

A gata se levantou, caminhando em sua direção com passos graciosos. Seus olhos brilhavam intensamente.

— Eu nunca brinco com coisas sérias.

Xīyán sentiu um arrepio.

— Então por que não me diz a verdade?

A gata parou diante dela, sua cauda balançando lentamente.

— E o que é a verdade para você, Xīyán?

A pergunta a pegou desprevenida.

— O quê?

A gata inclinou a cabeça.

— Se eu dissesse que sou apenas uma gata falante, você acreditaria?

Xīyán franziu a testa.

— Claro que não!

— E se eu dissesse que sou algo mais… algo que você ainda não pode compreender?

Xīyán abriu a boca, mas não soube o que responder.

Ela queria a verdade. Queria entender.

Mas agora, diante dessa gata misteriosa, sentiu que talvez… a verdade fosse algo que não estava pronta para ouvir.

Ainda assim, ela não desistiria.

Abaixando-se, encarou os olhos brilhantes da gata.

— Xīwàng. Esse é o seu verdadeiro nome, não é?

A gata a observou por um instante.

Então, ronronou suavemente.

— Talvez.

Xīyán cerrou os dentes.

— Você gosta de me irritar, não gosta?

Xīwàng deu um sorriso felino.

— Só um pouco.

Xīyán suspirou, passando a mão pelo rosto.

— Eu não vou desistir.

A gata se aproximou, roçando o corpo em suas pernas.

— Eu sei.

Xīyán fechou os olhos por um instante.

Ela sabia que Xīwàng não diria mais nada essa noite.

Mas também sabia…

Que aquela não era a última vez que veria aquela mulher misteriosa.

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