Cordas Invisíveis

O som dos talheres tilintando contra os pratos de porcelana ecoava pelo salão de jantar, misturando-se às conversas educadas. O aroma de carne assada com ervas pairava no ar, mas meu apetite parecia ter ficado lá fora, ao lado de Owen.

James Pembroke continuava a discursar sobre as vantagens do comércio de tecidos, sua voz soando como o zumbido de uma abelha persistente. Meu olhar, no entanto, vagava além da janela ornamentada, onde as luzes da cidade cintilavam sob o céu noturno. Londres nunca parecia dormir — carruagens passando nas ruas de paralelepípedos, o eco distante de risadas em algum salão vizinho.

Eu ansiava por estar lá fora, livre das cordas invisíveis que pareciam apertar-se em torno de mim a cada palavra de James.

— E a senhorita, senhorita Hellie? — A voz dele me trouxe de volta ao salão. — Qual sua opinião sobre as mudanças na indústria têxtil?

Meu pai ergueu os olhos, atento à minha resposta.

— Confesso que minha experiência com tecidos se limita ao que uso em meus vestidos, milorde — respondi, mantendo o tom cortês. — Mas acredito que qualquer progresso que beneficie a sociedade como um todo deve ser bem-vindo, desde que não se percam os valores humanos no processo.

James arqueou uma sobrancelha, surpreso.

— Uma visão perspicaz, devo admitir. Nem todas as jovens damas se interessam por tais questões.

— Talvez porque nem todas tenham a oportunidade de expressar suas opiniões — repliquei, com um leve sorriso.

Edmund sufocou um riso discreto ao meu lado, enquanto minha mãe apertou o guardanapo nas mãos.

— Helenora — advertiu ela, mantendo a compostura.

— Não, não, lady Hale — interveio James, erguendo a mão. — Admiro uma mulher que sabe usar a palavra com elegância. Desde que, é claro, saiba o momento de silenciar.

O sorriso em meus lábios congelou.

Por mais que tentasse, não consegui impedir o aperto no peito. A realidade daquela sociedade era como um véu que constantemente me lembrava do papel que esperavam que eu desempenhasse. Um papel que eu não desejava.

A conversa prosseguiu, mas minha mente já não estava ali. Meus pensamentos voltaram para Owen e para o olhar que ele me lançara lá fora — aquele olhar que dizia o que as palavras não podiam. Ele sabia. Sabia o que aquela noite representava e o peso que eu carregava.

Apenas o som do cristal sendo tocado chamou minha atenção. Meu pai se levantara, erguendo a taça de vinho em um brinde.

— Às boas companhias e ao futuro — declarou, olhando diretamente para James.

Segurei minha taça, mas não a ergui de imediato. As palavras pairaram no ar, carregadas de significados que ninguém ousava nomear em voz alta.

— Às boas companhias e ao futuro — ecoei, levando o vinho aos lábios enquanto, por dentro, me perguntava de qual futuro eles falavam.

---

Após o jantar, a sala de estar foi preparada para o chá. O relógio de pêndulo na parede marcava quase dez horas, mas parecia muito mais tarde. Minha mãe, como sempre, ocupou-se em manter a conversa fluindo com graciosidade, enquanto meu pai discutia negócios com James.

Sentei-me próxima à lareira, observando as chamas dançarem contra a lenha crepitante. A sombra do meu perfil refletia-se no vidro da janela, lembrando-me de que, embora cercada de pessoas, eu ainda me sentia sozinha.

— Não gostou do jantar? — A voz de Edmund soou próxima, baixa o suficiente para que apenas eu ouvisse.

— Estava maravilhoso — menti, sem desviar os olhos do fogo.

— Claro. E eu sou o príncipe de Gales.

Uma risada suave escapou de meus lábios antes que eu pudesse contê-la.

— Edmund, um dia sua língua afiada ainda o colocará em apuros.

— E a sua? — Ele inclinou-se ligeiramente, o olhar mais sério. — Você não precisa agradar a todos, Hellie.

Suspirei, apertando as mãos no colo.

— Talvez não, mas preciso sobreviver a eles.

Meu irmão não respondeu de imediato. O silêncio entre nós foi preenchido apenas pelo estalar da lenha.

— Se precisar de ajuda… — Ele deixou a frase no ar.

Virei-me para encará-lo. Havia algo nos olhos dele — uma promessa silenciosa de que, acontecesse o que acontecesse, ele estaria ao meu lado.

Antes que eu pudesse responder, a porta da sala se abriu.

— Lorde Pembroke, sua carruagem está pronta — anunciou o mordomo.

Levantei-me junto aos demais, aproximando-me da porta de entrada para as despedidas. James vestiu o sobretudo negro e ajeitou as luvas de couro com movimentos precisos. Quando nossos olhares se encontraram, ele curvou-se levemente em uma reverência educada.

— Foi uma noite encantadora, senhorita Hellie. Espero ter o prazer de encontrá-la novamente em breve.

— O prazer foi meu, milorde — respondi automaticamente.

Ele hesitou por um instante, como se considerasse dizer algo mais, mas então apenas sorriu e atravessou a porta, desaparecendo na noite londrina.

O silêncio que se seguiu foi breve, mas denso como o ar antes da tempestade.

— Foi um ótimo começo — disse minha mãe, fechando a porta com delicadeza. — Lorde Pembroke ficou claramente impressionado.

— Com certeza — concordou meu pai, com um aceno satisfeito.

Eu, porém, nada disse. Apenas me retirei para o andar de cima, cada degrau ecoando sob meus pés como um lembrete de que, mesmo em minha própria casa, eu não era livre.

Mas um pensamento se agarrava a mim, persistente como uma chama que se recusa a se apagar: Ainda não acabou.

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