Capítulo 3

...Sofia...

Corri até o banheiro mais próximo e lavei meu rosto com água fria, devia encontrar uma solução com urgência, tinha ouvido falar de alguns lugares onde compram sangue, sempre fui uma garota muito saudável e atlética, antes de engravidar costumava correr quilômetros, era campeã nacional de ginástica rítmica e muito boa nadadora, talvez pudesse vender um pouco do meu sangue e assim pagar os médicos para atender minha princesa, deveria ir averiguar o quanto antes, mas primeiro queria ver como está minha menina.

Saí do banheiro e subi os dois andares pela escada, ao chegar à área de terapia intensiva me deparei com a porta aberta, entrei de imediato encontrando uma horrível situação, duas doutoras ou enfermeiras, a verdade é que com o cansaço e a dor de cabeça que tinha nestes momentos já não conseguia distingui-las bem, estavam no quarto retirando todos os aparelhos que minha filha tinha colocados.

- O que pensam que estão fazendo? Deixem-na - disse irritada\, tentando afastar uma delas da minha menina.

- Senhora\, antes de mais nada\, acalme-se - ordenou uma das enfermeiras ou doutoras\, a outra nem me registrou e seguiu com o que estava fazendo.

- O que estão fazendo? Por que estão fazendo isso com ela?

- Senhora Zambrano\, repito\, sinto muito\, acredite que sinto muito\, mas temos ordem de dar alta obrigatória à sua filha\, ela não pode mais permanecer aqui\, vamos aplicar uma injeção que a fará acordar em questão de alguns minutos ou\, no máximo\, meia hora e depois deve levá-la - senti um nó na garganta ao ouvir isso.

- Mas ela vai ficar bem? - perguntei com lágrimas nos meus olhos.

- Ela vai ficar bem\, é uma menina forte\, o perigo já passou\, enquanto não voltar a ter febre\, tudo estará bem\, daremos alguns analgésicos e algo para manter a temperatura baixa\, mas recomendamos que a leve a um especialista o mais rápido possível - falou-me finalmente a outra mulher que me tinha ignorado até agora\, consegui ler no bolso do seu jaleco o nome de Elena Vera e que era médica pediatra.

- Por favor\, precisamos que espere lá fora - pediu-me a outra enfermeira.

- Não\, por favor\, quero estar com minha filha - implorei-lhes.

- Senhora\, não seja teimosa\, serão apenas alguns minutos\, depois poderá estar com sua filha todo o tempo que desejar.

De má vontade saí do quarto, uma vez no corredor encostei-me à parede e deixei-me cair no chão chorando desconsoladamente, sentia-me tão cansada, só Deus sabe como lutei durante estes anos para criar minha pequena sozinha.

Estava perdida na minha miséria quando diante dos meus olhos apareceu um lenço branco, seguido de uma mão que me incentivava a levantar, levantei a vista e com os olhos ainda turvos pelas lágrimas divisei diante de mim um homem muito atraente, mas mais velho, que se encontrava parado em frente a mim com sua mão estendida para me ajudar a levantar.

Peguei na sua mão e levantei-me rapidamente, ao estar de pé pude observar melhor o homem, parecia ter mais de cinquenta anos, isso era certo, vestia um terno caríssimo desses que meu pai tem às dezenas, observei-o atentamente, tudo neste homem gritava dinheiro e poder.

- Uma jovem tão bela como você não deveria estar chorando - disse-me com um sorriso que em vez de me deixar nervosa ou desconfortável me deu tranquilidade?

- Tenho meus motivos - respondi enquanto limpava as lágrimas.

- Sou o senhor Romagnoli e tenho uma oferta para você que poderia solucionar todos os seus problemas econômicos - disse ele e eu olhei confusa\, quem era este nome e que classe de proposta tinha para mim? Só esperava que não fosse outra proposta indecente ou\, por mais poderoso que parecesse\, ia quebrar-lhe o nariz.

- Que classe de proposta? Não sou uma mulherzinha\, se se atrever a - minhas palavras ficaram no ar quando o homem levantou a mão algo incomodado e me fez calar.

- Muito bela\, mas não deixa falar seus mais velhos\, deveria fazer mais silêncio - disse olhando a hora no seu caríssimo relógio - Para que fique tranquila\, não sou desses homens\, poderia ser minha filha\, além disso\, sou felizmente casado - disse-me dando tranquilidade.

- Não entendo quem é você e o que quer? - perguntei algo impaciente.

- Olha\, vou ser sincero\, há um tempo te vi e achei você uma garota muito bela\, te investiguei e pelo que apurei você é uma mulher com valores\, trabalhadora\, educada\, excelente mãe\, a nora perfeita que qualquer pai quer para seus filhos - disse e eu olhei rogando que não fosse propor o que estava pensando.

- Serei rápido porque meu tempo é muito valioso\, tenho um filho um pouco rebelde que precisa assentar a cabeça\, quero propor que se case com ele e o ajude a ser um homem melhor\, a encontrar novamente seu rumo e eu em troca cuidarei da sua menina e de todos os seus problemas - disse assim como se nada\, soltei uma pequena risada que fez eco em todo o corredor.

- O senhor está louco\, senhor\, será melhor que se retire.

- Menina tola\, estou te oferecendo o paraíso para você e sua filha\, só porque sou um bom homem vou te deixar pensar um pouco\, tem dois dias para me dar uma decisão\, não creia que vou esperar muito - disse dando-me um cartão com seu número de telefone\, depois voltou a pôr os óculos de sol e foi embora assim como veio.

Fiquei como uma estúpida olhando o homem ir embora, jamais me passou pela cabeça viver uma situação tão estranha como esta, que homem mais estranho, depois do que aconteceu quando engravidei jurei nunca me apaixonar muito menos casar e este sujeito vem e pretende que aceite casar com um desconhecido? Pode ser que nestes momentos pareça tola, mas não sou, jamais cometeria semelhante loucura.

- Senhora\, já pode entrar - diz-me a enfermeira tirando-me dos meus pensamentos.

Entro correndo no quarto encontrando minha pequena já acordada, seus olhinhos estão lacrimejantes e ela parece algo pálida.

- Olá meu amor\, como se sente minha pequena fadinha? - pergunto-lhe acariciando sua bochecha.

- Sinto-me bem mamãe não chore - diz abraçando-se forte a mim quando vê que estou a ponto de romper em choro.

- Não meu amor mamãe não chora.

- Já podemos ir para casa? Não quero estar aqui - diz minha pequena fazendo um lindo e terno beicinho.

- Sim meu amor vem vamos nos vestir - digo à minha menina\, visto-a\, ajeito um pouco seu cabelo loiro e depois pego-a nos meus braços para sair do quarto.

Na recepção encontro-me com as enfermeiras e algumas doutoras que se aproximam para se despedirem e darem um pirulito de cores à minha menina, viro-me ao sentir-me observada e vejo o degenerado diretor do hospital olhando-me com malícia, sorri-me de uma maneira tenebrosa e tranca-se novamente num quarto, obrigo-me a sorrir e agradecer a todas as enfermeiras e doutoras por terem atendido tão bem minha filha e depois fomos embora.

Não tenho dinheiro para pegar um táxi então tenho que caminhar um quarteirão com minha menina nos braços até o ponto de ônibus, saco meu cartão e rogo para que não venha tão cheio, senão terei que viajar de pé com minha princesa nos braços.

Faço um sinal para o ônibus quando o vejo aproximar-se, nego com a cabeça quando vejo que vai lotado, graças ao céu um jovem cedeu-me seu assento, hoje em dia não é tão frequente estas ações, muitas vezes tive que viajar de pé até grávida, as pessoas cada vez perdem mais a empatia, muitas vezes nem sequer aos idosos ou cegos costumam dar seu assento.

A viagem foi de vinte minutos, Luna tinha adormecido então carreguei-a os dois quarteirões que restavam do ponto de ônibus até minha pequena casinha, não via a hora de chegar e poder tomar um banho com água quentinha, sentia-me tão esgotada que não havia nem um músculo do meu corpinho que não me doesse, para meu azar os problemas não terminavam aqui, ao entrar e querer acender a luz deparei-me com que a tinham cortado por demorar no pagamento, realmente eu estava urinada por um dejeto de elefantes, não sabia se tomar banho com arruda ou água benta.

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