Linda Romano
Tudo que sempre quis foi uma família, quando criança me imaginava em uma casinha com cerquinha branca e cheia de crianças, um marido carinhoso e bom pai;
nunca tive ambição de querer ser rica ou morar em uma mansão, hoje moro em uma, tenho um marido que diz me amar, mas me machuca, e nunca é sem querer;
ele sente prazer em infligir dor, e não é bom pai, é autoritário, é como se ela não existisse, e isso dói mais que suas agressões.
— Linda, meu amor, cheguei
a voz de Luiz me tira de minhas lamentações. Preciso ficar atenta.
— Oi, querido, quer que eu lhe prepare algo?
ele deixa seu celular no aparador com a chave do carro, e anda em minha direção. Sinto pavor e desespero, não consigo descrever de outra forma, qual o sentimento que tenho, quando ele se aproximade mim
— Eu quero te dar um presente, está escondido no quarto
ele sorri e me abraça, eu passo os braços em torno de seu pescoço e no beijamos. Ele me aperta contra ele e sinto sua excitação
— Agora?
Cheia de receio, ainda não me recuperei de suas investidas.
— Vamos!
ele segura em meu pulso e me leva até nosso quarto, fecha a porta e passa a chave
— Coloque uma roupa leve
se senta na poltrona e me observa, eu vou até o closet e escolho um vestido de manga curta, ligo a câmera do meu celular que já estava a postos, esperando a próxima agressão
— Esse está bom?
ele assente, o coloco em cima da cama, e eu tiro minhas roupas e antes de eu pegar novamente o vestido, ele se levanta e segura em meus cabelos
— Sabe professorinha, todo o restaurante ficou babando em você, ontem, inclusive os meus sócios, você e esse sorriso safado
se soltar meus cabelos, pegou em meu queixo e apertou meus lábios
— Luiz, pare com isso, não aconteceu nada, você vê coisa onde não tem
ele me jogou no chão, e tentei não gritar quando o primeiro chute veio, o segundo, terceiro, no quarto não deu, eu gritei
— Mamãe, abre por favor, papai, o que está acontecendo?
Bia, ela está na porta, e Luiz está irritado, ele parou de me chutar, e ia em direção a porta, então me levantei, mesmo sem forças, e entrei na sua frente
— Por favor, não!
pedi, não, implorei para ele, o abracei e ele parou
— Bia vai para seu quarto
olhei em seus olhos, eu chorando, ele começou a beijar minha face, onde escorria as lagrimas
— Amor, me desculpa, odeio fazer isso. Você é minha, só minha, eu fui até a casa do Ricardo, quase fiz uma besteira
ele tirou a sua arma da cintura, colocou ao lado da cama e saiu do quarto, perdi as forças das pernas, e desabei no chão
chorei, e para não morrer eu tenho que sair daqui, preciso salvar minha filha dessa vida cheia de dor e violência. Me levanto e vou até o closet, pego meu celular e mando o vídeo para um e-mail de segurança e apago da memória do celular e volto a deixá-lo guardado.
— Vou pedir pizza, que sabor você quer, querida?
ele volta como se nada tivesse acontecido, com o celular em mãos
— Pode ser bacon
respondo o sabor favorito de Bia
— Folga da cozinha pra você querida
ele vem, beija meu rosto e sai para a sala
[...]
— Quero uma costela para o almoço, querida
Ele diz antes de beijar minha boca e vai para o escritório
pego meu celular e ligo para Ellen, preciso de ajuda, mesmo sendo a mãe dele ela sabe que o filho é um doente, e também não quer que a neta sofra mais
preparei o almoço normalmente, deixei a casa como ele gosta, sem nenhum grão de poeira, arrumei as coisas de Bia e as minhas, as deixei dentro de umas caixas de brinquedos na garagem
ele chegou e não desconfiou de nada, almoçou e assim que saiu eu mandei mensagem para avisar que estava tudo certo, e ela poderia vir
ela chegou minutos depois, colocamos as malas no carro e seguimos para a delegacia da mulher, ela estacionou o carro e entramos
— Mamãe, o que estamos fazendo aqui?
olhei para minha filha e meu coração doeu, o que eu digo?
— Ellen, leva ela pra tomar um sorvete, eu vou fazer isso, depois pode ir para o hotel que te dei o cartão, já está reservado. Filha depois a mamãe conversa com você.
ela assentiu e eu beijei e apertei minha filha
assim que entrei, uma policial me abordou e me levou para uma sala reservada, conversei com ela e a delegada, e uma escrivã digitava tudo às pressas;
isso foi por mais de uma hora, mostrei o vídeo e relatei como tem o inferno da minha vida nesses dez anos, a gravidez acidental, as tentativas falhas de separação.
Passei pelo IML, instituto médico legal, o médico junto com uma enfermeira tiraram fotos do meu corpo, me senti invadida e humilhada, mas sei que tudo isso era nescessário. Eu tinha que passar por isso para sobreviver, e criar a minha filha.
— Vou colocar você em uma casa segura, como você não tem trabalho fixo, fica mais fácil, sua filha vai para outro colégio
pela primeira vez me senti ouvida, acolhida, pensei que seria mais difícil, a delegada
— Você já tem advogado?
neguei, pensei em tudo, mas não cheguei a conhecer nenhum advogado
— Liga para esse advogado, ele pode te ajudar com os trâmites legais do divórcio, ele é o advogado designado no seu processo
peguei o cartão e me levantei
— Obrigada, eu não posso voltar para aquela vida
ela estendeu a mão, e eu peguei, repeti o gesto com a policial, com o nome Barbara. No uniforme estava Tavares.
— Eu vou levar você até a casa de segurança
Ela saiu na frente e eu a segui
fomos em uma S10 branca até o hotel, colocamos as malas na carroceria, nos despedimos de Ellen aos prantos, e seguimos, talvez para o Espírito Santo, não sei e nem imagino, mas observei as placas, e não quis incomodar ela com as minhas perguntas
— Está tão quieta, não está curiosa para saber para onde vai?
disse me surpreendendo com a pergunta, parecia estar lendo meus pensamentos
— Na verdade, quanto mais longe, melhor, não importa onde
Ela olhou pra mim e assentiu, voltou seus olhos para a rodovia;
chegamos a uma casa branca, perto do centro da cidade de Apiacá, é uma cidade pequena, mas charmosa, uma escola bem próxima, passamos em frente a pouco
ela me entregou a chave e eu abri o portão e entrei segurando a mão da Bia, a policial com o nome de Barbara, entrou atrás, olhamos a casa simples, com dois quartos, sala e cozinha conjugado, mobília nova e simples, tudo muito limpo
— É pequena e simples, terá uma assistente social vindo visitá-la uma vez por semana, descanse, amanhã ela estará aqui para te conhecer e falar como será o procedimento, e se for falar com o advogado, use o telefone fixo da casa, seu celular é melhor deixar desligado por enquanto
ouvi atenta a tudo que ela disse, e meu celular tocou assim que ela terminou de falar, olhei no visor, ele, é ele ligando, mostrei para ela, e ela assentiu para que eu atendesse, preciso pronunciar as palavras
— Alô
atendi, e ouvi sua respiração nervosa
— Onde você se meteu?
disse raivoso, aos berros
— Estou te deixando, quero o divórcio
ele ficou em silêncio, e isso me perturbou
— Pare de criancice, e volte para casa, eu te pedi desculpas, sabe que te amo, cadê minha filha?
sua voz mansa e serena, nem parece o mesmo homem
— O meu advogado irá entrar em contato com o seu
ele bufou, e respirou forte ao telefone, consigo imaginar suas afeições apenas pela respiração
— É assim que vai ser?
indagou com certeza entre dentes
— Adeus Luiz
desliguei, e me senti livre, pela primeira vez em dez anos. Quem sabe eu me encontro por aí, já que não vou mais ser a Linda Romano.
Linda Rios
Bianca Romano
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Ilnete
é bem capaz, ela deveria ter deixado o celular na delegacia e depois comprava outro.
2025-05-01
0
Dulce Gama
tomara que ele não tenha rastreado o celular dela 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁
2025-02-09
2