Bip Bip Bip
O barulho da máquina hospitalar acaba com minha cabeça, abro os olhos tentando saber porque estou aqui.
- Graças a Dios- escuto uma voz
- O que aconteceu?- pergunto rouca
- Você desmaiou por três dias senhorita Amarante- A médica diz checando tudo em mim- Só foi um
susto psicológico que você teve, muitos diriam que foi algo muito grave, mas fizemos vários testes e
nada, então chequei seu estados médicos antigos e vi que já passou por essa situação é verdade?-
Pergunta para mim e olho ao redor e vejo todos ali, e então respondo
- Tive, mas não nesse nível
- Tomava remédios?
- Não, controlava sozinha- minto
- Bom, vou ter que deixar você internada por mais uns dias, para vê se não irá ter outra recaída como
essa- Avisa e logo sai
- Se Luccas não tivesse ido vê você, poderia termos encontrado você morta filha- mamma fala com a voz aos prantos me abraçando.
- Vamos deixar ela sozinha- Gabriela diz- Quero falar com ela, por favor- todos saem
Ela espera um tempo olhando para o nada, como se esperassem eles saírem verdadeiramente de perto do quarto. O silêncio não me assusta, mas neste momento está me assustando.
- Por que mentiu?- pergunta
- Eles não precisam saber que a filha é uma dependente em remédio por causa deles
- Eles vão descobrir
- Não vão se eu não deixar
- Thalita isso foi um risco, o seu tratamento é na França, você sabe disso- Briga comigo
- Eu estou bem, só preciso que você vai na casa e pegue todos os frascos e some com isso- ordeno ela
- Se eles perceberem, o que eu direi?
- Fale algo sem lógica, você sempre dá um jeito, só resolva isso- peço
- Ok- diz e logo saiu me deixando sozinha
O quarto ficou em silêncio, minha cabeça está a milhão, e certamente Abuela já deve ter ficado sabendo e preocupada.
Antes de ser enviada para a França, teve um ataque na casa onde morava, eu acabei sendo vítima desse
ataque. Passei dois meses em coma, e o médico disse que poderia perder minhas memórias e ter sequelas grandes.
Quando eu acordei eu lembrava de muita coisa, mas o que fez eu ter essas crises aconteceu na França, pois era culpa deles em toda parte na minha vida.
Fui para a França e quando eu atingi uma idade maior, fiz uma ultrassom e descobri a tal sequela, que talvez poderei ter filhos se fizer um tratamento correto e medicamentos, mas poderia acabar perdendo se não tratasse. Mas esse tratamento já estava concluído e ninguém sabia.
Tava tão perdida nos pensamentos que nem percebi que Luccas estava encostado na porta me observando.
- Os pensamentos são algo que destrói uma pessoa- Ele diz se aproximando
- Então talvez eu seja destruída
- Não pequena, você não é destruída- Me adverte arrumando o meu cabelo- Você poderia ter morrido se eu não tivesse te encontrado
- Poderia ter deixado, não ia fazer nem falta- Alego
Ele me olha com aqueles olhos hipnotizantes, e fica passando sua mão pelo meu cabelo, já estou irritada com esse toque.
- Por que mentiu?- expõe como se soubesse de algo
- Não sei do que está falando?
- Não se faz de boba- fala e se afasta de mim- Você toma remédio!
- Você não sabe se isso é verdade- digo me esticando um pouco na cama hospitalar
- Tipo isso- mostra o que estava retirando de seu bolso, um pote de remédio controlado.
- Isso não é meu
- É sim, sabe porque eu sei, por que vigiei você o tempo todo
- Você é um psicopata
- Bom pra muitos eu sou ou até outros nomes- diz andando até mim- mas pra você princesa não cabe
essa palavra em sua boca
- Minha boca sai a palavra que eu quiser, então não tente me controlar
- Além de mentirosa, é desafiadora o que eu posso esperar de você em?
Meu coração disparou enquanto seus olhos penetravam na minha essência. Aquela pergunta retórica parecia desvendar todos os meus segredos ocultos. Com um simples gesto, ele confirmou suas suspeitas e senti um aperto no peito.
Tudo o que eu queria era sair dali o mais rápido possível, fugir daquele olhar inquisidor que parecia conhecer todas as minhas vulnerabilidades.
Eu me sentia mal, fraca e desamparada. Por mais que ele fosse uma pessoa ruim e psicopata, sua preocupação genuína por mim naquele momento não superou nada. Ele percebeu que algo estava errado e correu para chamar uma enfermeira, colocando naquele momento meu bem-estar acima de qualquer coisa.
Apesar de tudo, naquele momento, eu senti um misto de gratidão e perplexidade pela sua atitude inesperada.
Mas ainda sinto a tontura, e só escuto vozes.
Uma semana depois
Depois desses acontecimentos comigo e eu ficar no hospital por mais de 2 dias, todos ficam em cima de mim o tempo todo.
Eu precisava de tempo sozinha e respirar sem ter ninguém à minha volta.
Abuela surtou quando ficou sabendo do acontecimento, ligou para meu pai e gritou com ele por horas para que eu voltasse para a França, mesmo ele tendo vontade de matar ela, pois ela ameaçou e xingou ele várias vezes e sua resposta era sempre não.
A bissa e Abuela pediram que eu tomasse mais cuidado e que eu controlasse o estresse, pois isso afetaria o tratamento que fiz.
A médica passou medicamentos para tomar só em duas semanas, mas continuo a tomar o remédio Controlado, pois faz parte do meu tratamento, Gabriela escondeu os frascos e nem jogou fora.
Mesmo que o diagnóstico foi dado como estresse demais, ainda sim fico como uma criança tendo babá.
- Já estou estressada!
- Filha tente se acalmar- minha mãe traz um chá para mim
- Eu não aguento mais, tem sempre alguém ao meu lado e eu preciso de espaço- falo andando de um lado para o outro.
- O seu noivo pediu que tivesse um acompanhante- Meu pai diz entrando na sala
- Cadê ele- Paro e falo ao meu pai- Me dê o número dele eu vou ligar para ele- Digo e meu pai pega e
anota no papel- E você vai ficar aqui, quero falar com ele sozinha!- aponto para a mulher que parece babá.
Vou andando até a estufa que tanto amo ver, aquelas rosas me deixam lembrar das pessoas que encontrei no meio do caminho e lembro da criança que eu amo tanto.
Digito o telefone e ligo, dá em nada
Tento 5 vezes e na sexta tentativa ele atende.
- Quem é?- Ao atender com a voz rouca deixando explícito que estivesse ocupado
- Oi- digo com uma voz de anjo só para irritar- Não que atender sua noiva Luccas
- O que você quer?- Diz já direto ao ponto- Estou ocupado Thalita, não tenho tempo para graça
- Eu só tenho um pedido, tira aquela mulher da minha cola, não quero ninguém perto de mim o tempo todo
- Você precisa sim e não vou tirar- A voz já diz que se estressou mais
- Você tem uma vida e eu também, então por favor deixa eu ficar sozinha
- Ótimo, agora tenho que obedecer uma mulher- ele faz uma pausa- Resolvido sua questão.
- Muito obrigada- pauso- Desculpa incomodar
- Espero que seja a única coisa mesmo- Suspira ao terminar de falar.- Seu pai entregou o que eu pedi que entregasse?
- Não
- Ok- diz num sussurro- Preciso desligar, se precisar de algo já tem meu numero- Termina a fala e logo desliga.
Volto para dentro e, ao ouvir a voz dos meus pais, um frio na barriga me faz me esconder atrás da porta. Sei que não sou mais criança para fazer isso, mas a urgência no tom do meu pai me prende. Algo importante está sendo discutido, e a curiosidade me consome.
- Thalita precisa se casar com urgência com ele — escuto meu pai afirmar com uma frieza que corta o ar.
- Você ainda não explicou o porquê de trazer as duas de volta, sendo que você disse que nunca as consideraria como filhas. Arrancou elas de mim quando eram pequenas — a voz da minha mãe é um misto de incredulidade e dor.
- Aquelas duas tinham muita importância para seu pai. Ele disse que eu deveria sumir com as duas.- meu pai responde, como se estivesse contando uma história distante.
- Ele está morto há anos! Por que isso agora? — A indignação da minha mãe ressoa como um grito no
vazio da sala.
- O pai de Luccas está devendo bastante dinheiro para uma máfia antiga e poderosa. Ele disse que precisava de um herdeiro; assim, daria isso como garantia para eles — ele faz uma pausa, olhando ao
redor como se temesse ser ouvido. — Então usei isso a meu favor. Já que devo a ele, não ia dar nenhuma delas, mas lembrei que Luccas ficou fascinado por Thalita quando viajamos para a França.
O meu coração acelera ao ouvir o meu nome saindo dos lábios do meu pai, e a sensação de estar a escutar algo proibido-me envolve.
- Eu não acredito nisso! — Minha mãe grita, sua voz cheia de desespero. — Elas são nossas filhas! Não
faça a mesma coisa que meu pai fez; ele me deu a você por causa de uma dívida. Anula isso, por favor!
- Já está feito, não tem volta. Eu assinei hoje e Luccas pediu para entregar uma coisa a Thalita — diz meu pai com uma resolução que ecoa como um sinistro aviso.
- O que é? — minha mãe pergunta, quase implorando.
- Não sei, mas ele disse que vinha pegar ela e levá-la para jantar hoje à noite.
Aquelas palavras reverberam em mim como um eco distante, deixando um gosto amargo na boca. Saio do local e finjo não ter ouvido, mas passando por outro lugar e indo direto para o quarto.
A empregada veio ao meu quarto entregar o que Luccas mandou, era uma caixa preta com detalhes dourado e tinha um recado em cima:
...“ Não sei escolher nada, mas quando fui levar minha mãe ao shopping, lembrei exatamente de você....
^^^Ass. Luccas"^^^
Achei fofo, mas a verdade é que ele não é assim, e ninguém vai mudar isso. Ao abrir a caixa, encontrei um vestido preto com rendas e pedras. Era longo, com uma fenda provocante na perna. Podia parecer simples e lindo, mas a sensualidade e o toque chique me deixaram sem vontade de usá-lo. Não era algo que eu vestiria tão cedo; eu guardaria para um momento que realmente importasse.
Passei o dia trancada no quarto, mergulhada em livros e sono, mesmo sabendo que minha mãe me lembraria do jantar com Luccas. A ideia de passar a noite com ele me deixava inquieta. Finjo uma dor de cabeça ou um acidente? Eu tinha acabado de conquistar minha liberdade, e agora teria que encarar esse jantar?
Levantei-me, decidida a não deixar essa situação me dominar. Depois de muito tempo no closet, resolvi tomar um banho e me arrumar. Mandei uma mensagem para a Abuela, dizendo que sentia saudades. Ela respondeu rapidamente que logo estaria aqui para resolver esse problema. Terminando minha maquiagem —leve e simples — recusei-me a ser apenas mais uma mulher pálida na multidão. Vesti meu vestido azul-marinho, rodado até os joelhos, com uma pequena fenda.
Desci as escadas com uma pequena bolsa contendo meus itens essenciais e fui direto para a sala. Ao entrar, encontrei meus pais junto com Luccas à minha espera. Ele estava vestido com uma camiseta de gola alta e calças pretas; parecia que apenas faltava a máscara do Batman para completar o visual. Ri internamente ao pensar nisso.
Ele estava bonito, me observando como se estivesse gravando cada movimento meu em sua memória.
Levantou-se para se despedir dos meus pais e colocou a mão nas minhas costas, conduzindo-me para fora da casa. Ao abrir a porta do carro para mim, entrei em silêncio, e logo ele se acomodou no lado do motorista. Até aquele momento, nenhuma palavra havia sido trocada entre nós. A atmosfera estava carregada de expectativas não ditas e um frio na barriga que eu não conseguia ignorar.
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Atualizado até capítulo 47
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