04

4—capitulo:

Enquanto corriam por entre as flores, o som dos tiros ficava mais distante, mas o coração de Jaque ainda batia como se estivesse no meio de uma guerra. Won liderava o caminho, seu macacão de mecânico sujo de graxa destoando da beleza das flores ao redor. Ele tropeçava e recuperava o equilíbrio com uma risada, como se estivesse participando de uma corrida divertida e não fugindo da morte.

Eles finalmente pararam perto de uma árvore retorcida que parecia saída de um conto de fadas. Won se encostou no tronco, ofegante, mas ainda com o sorriso inabalável no rosto.

— Ufa! Acho que conseguimos, hein? — disse ele, respirando fundo.

Jaque estava a poucos passos dele, as mãos nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.

— Você... — começou ela, tentando falar enquanto respirava. — É o cara mais insano que eu já conheci.

Ele riu, jogando a cabeça para trás.

— E você é a mulher mais teimosa que já vi. Sério, Jaque, eu achei que fosse durona, mas você? Você é uma tempestade ambulante.

Ela ergueu os olhos para ele, e pela primeira vez, percebeu algo diferente. A luz do sol nascente iluminava o rosto de Won, destacando o brilho divertido em seus olhos e o sorriso sincero que parecia nunca desaparecer. Jaque não sabia dizer se era a adrenalina ou algo mais, mas por um momento, sentiu uma estranha tranquilidade ao estar perto dele.

— E você, Won, é o mecânico mais irritante que existe. — ela disse, tentando recuperar sua postura sarcástica.

Ele riu de novo, mas dessa vez deu um passo em sua direção, inclinando-se levemente para encará-la mais de perto.

— E ainda assim, você me seguiu. Tá gostando da minha companhia, admita.

Ela revirou os olhos, mas não recuou.

— Não se empolga, engraçadinho. Só não tinha outra escolha.

— Ah, claro, claro. — ele disse, fingindo concordar, mas o sorriso malicioso continuava ali.

O silêncio entre eles foi quebrado apenas pelo som do vento balançando as flores ao redor. Won ergueu a mão, tirando um pedaço de folha que estava preso no cabelo de Jaque.

— Você tá toda bagunçada. Parece que saiu de um furacão.

Ela franziu o cenho, mas sua expressão suavizou ao perceber o gesto dele. Won não tirava os olhos dela, e por mais que ela quisesse desviar o olhar, algo a prendia naquele momento.

— Isso aqui é culpa sua. — disse ela, apontando para o macacão dele sujo de terra. — Você me arrastou pra essa bagunça.

Ele deu de ombros.

— Talvez. Mas você ficou. E isso já diz alguma coisa.

Por um instante, Jaque não respondeu. O que ele estava insinuando? Ela sentiu o rosto esquentar, algo que não acontecia há anos. A proximidade entre os dois era desconfortável e, ao mesmo tempo, estranhamente reconfortante.

Won quebrou o silêncio com um tom mais suave.

— Sabe, garota, você tem essa cara de quem carrega o mundo nas costas. Mas... — Ele deu um pequeno sorriso, inclinando a cabeça. — Eu acho que, lá no fundo, você só quer alguém que corra ao seu lado.

Jaque sentiu o coração bater mais forte, mas revirou os olhos, tentando esconder qualquer vulnerabilidade.

— Você fala demais, sabia?

Ele sorriu de novo, como se soubesse que havia a atingido de alguma forma.

— Falar demais é minha especialidade. Mas, sabe, eu não tô errado.

O olhar dele era intenso, mas não carregava o julgamento ou o medo que Jaque estava acostumada a ver nos olhos dos outros. Era como se Won enxergasse algo além de sua fachada fria e caótica.

— Tá se apaixonando, mecânico? — ela provocou, tentando mudar o clima.

Ele deu uma risada alta e colocou as mãos nos bolsos do macacão.

— Apaixonar? Eu? Nah, só acho que você é interessante demais pra ignorar.

Mesmo com o tom brincalhão dele, Jaque sentiu algo mexer dentro de si. Era a primeira vez em muito tempo que alguém olhava para ela sem medo, sem receio, apenas com curiosidade e, talvez, admiração.

Ela desviou o olhar, olhando para o campo de flores ao redor, tentando organizar seus pensamentos.

— Vamos sair daqui. Esses caras ainda podem estar por perto.

Won assentiu, mas o sorriso ainda estava lá.

— Certo, certo. Mas, Jaque... — Ele deu um passo em direção a ela, aproximando-se o suficiente para que ela pudesse sentir o calor dele. — Se precisar de um mecânico pra mais aventuras... é só me chamar.

Ela ergueu a sobrancelha, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso.

— Vou pensar no seu caso. Agora anda logo antes que eu me arrependa de ter te seguido.

Os dois começaram a caminhar pelo campo, o silêncio entre eles mais confortável do que antes.

Enquanto caminhavam pelo campo de flores, algo começou a incomodar Jaque. Um detalhe que, em meio à adrenalina da fuga, ela não havia notado antes. Ela parou de repente, apertando a arma em sua mão e virando-se para Won, que estava alguns passos à frente, ainda rindo como um bobão.

— Espera aí. — disse ela, levantando a submetralhadora e apontando diretamente para ele.

Won parou, ergueu as mãos no ar, e o sorriso bobo se alargou ainda mais.

— Ei, ei, calma aí, tempestade. Achei que a gente estava se dando bem.

Jaque estreitou os olhos, o dedo firme no gatilho.

— Como você sabe meu nome? — perguntou, com a voz fria e carregada de desconfiança. — Eu nunca disse pra você.

O sorriso de Won começou a desaparecer, e algo em seu rosto mudou. Ele abaixou lentamente as mãos e inclinou a cabeça para o lado, analisando-a com um olhar que agora parecia completamente diferente. A leveza e a brincadeira de antes haviam sumido, substituídas por uma seriedade que enviou um arrepio pela espinha de Jaque.

— Você me pegou. — disse ele, finalmente, em um tom mais grave.

Ela apertou ainda mais a arma contra ele, mantendo-se firme.

— Quem é você de verdade?

Won suspirou, o sorriso voltando aos poucos, mas agora mais sombrio, quase malicioso.

— Sabe, Jaque... você já ouviu falar do *Coringa*?

Ela franziu o cenho, mantendo a mira firme.

— O maior ladrão da Coreia do Sul. O homem que fez o maior roubo da história e jogou o país inteiro em uma crise econômica por meses.

Ele abriu um sorriso mais largo, seus olhos brilhando com algo que beirava a loucura.

— Bingo.

Jaque recuou um passo, mas não abaixou a arma.

— Então é você. O homem de várias personalidades.

— Ah, você faz o dever de casa. — disse ele, com uma risada baixa. — Mas, sim. Sou eu.

Ela inclinou a cabeça, analisando-o com cuidado.

— E com quem eu tô falando agora?

Won deu um passo à frente, a luz do sol iluminando metade de seu rosto. O sorriso dele se transformou em algo assustador, uma expressão que misturava diversão e insanidade.

— A alegria. — ele disse, a voz soando como um sussurro carregado de loucura.

Jaque sentiu um arrepio percorrer seu corpo, mas manteve a compostura.

— E o que a alegria quer comigo?

Ele deu uma risada alta, quase histérica, e passou a mão pelos cabelos bagunçados.

— Quer você do jeito que é. Caótica, imprevisível, uma tempestade ambulante! Você não percebe, Jaque? Nós somos iguais.

Ela balançou a cabeça, tentando ignorar o que ele dizia, mas uma parte de si sabia que havia verdade nas palavras dele.

— Nós não somos iguais. Eu não sou insana como você.

Won parou de rir abruptamente, inclinando-se para frente, tão próximo que ela podia sentir o calor dele.

— Não? — ele perguntou, o tom suave, mas carregado de provocação. — Então por que você ainda não atirou?

O dedo de Jaque no gatilho tremeu por um instante, mas ela rapidamente recuperou o controle. Ele estava jogando com ela, tentando manipulá-la.

Won sorriu de novo, mas dessa vez, havia algo genuíno em sua expressão.

— Você pode não confiar em mim, Jaque. Mas confessa... a alegria é contagiante, não é?

Ela manteve a mira por mais alguns segundos antes de abaixar lentamente a arma, sem tirar os olhos dele.

— Se você me trair, eu te mato.

Ele deu de ombros, voltando ao tom brincalhão.

— É justo. Mas, por enquanto, vamos brincar juntos, tempestade. Eu prometo que vai ser divertido.

Jaque não respondeu, mas sabia que tinha acabado de cruzar uma linha da qual não podia voltar. Won não era apenas um mecânico bobão. Ele era o Coringa — e, de alguma forma, ela sentia que essa verdade apenas tornava as coisas mais interessantes.

O silêncio entre eles foi quebrado por uma risada baixa de Won, que logo se transformou em um som mais alto e contagiante. Ele começou a andar ao redor de Jaque novamente, balançando os braços como se estivesse falando com uma plateia invisível.

— Sabe, Jaque, já que você está aqui comigo, acho que é justo que você também tenha um papel nesse jogo. Afinal, se eu sou o Coringa, você precisa ser... uma carta.

Jaque arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.

— Uma carta? É sério isso?

Won sorriu, seus olhos brilhando com uma mistura de loucura e diversão.

— Claro que é sério! Todas as peças de um baralho têm um propósito. E você, minha querida, definitivamente não é qualquer carta.

Ele começou a andar em círculos novamente, murmurando para si mesmo enquanto gesticulava exageradamente.

— Vamos ver... Você não é um Ás, porque ainda precisa provar que é a mais forte. Também não é um 10, porque, bem... você não é tão convencional. Mas uma dama... ah, sim, uma rainha. — Ele parou abruptamente e a encarou, com um sorriso de orelha a orelha. — Você será a Rainha de Copas.

Jaque franziu o cenho, descrente.

— Rainha de Copas? A tirana Rainha de Copas? E por que, exatamente, eu tenho que ser a Rainha de Copas enquanto você fica com o papel de Coringa?

Won inclinou a cabeça, o sorriso agora mais suave, mas ainda carregado de provocação.

— Porque, Jaque... eu já sou o Coringa há muito tempo. — Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos dela. — Você não tinha um nome até agora.

Ela segurou o olhar dele, processando as palavras. Parte de si queria descartar aquilo como mais uma brincadeira absurda, mas outra parte sabia que havia algo ali, algo que fazia sentido de uma forma estranha.

— Então o que acontece agora, "Coringa"? — perguntou ela, um tom de sarcasmo em sua voz.

Won deu um sorriso ainda maior, jogando as mãos para o alto como se estivesse anunciando um espetáculo.

— Agora, Rainha de Copas, nós vamos atrás das outras cartas do baralho. Precisamos de um Ás, um 10 bem sólido e, claro, um Rei.

Jaque balançou a cabeça, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Certo, e o que você pretende fazer com esse "baralho"?

Ele parou, inclinou-se para frente e sorriu com uma intensidade que a fez sentir um arrepio.

— Vamos quebrar a economia mundial.

Ela piscou, surpresa pela confiança absurda na voz dele.

— Quebrar a economia mundial? Isso soa como uma piada.

— Não é piada, é arte. — disse ele, voltando a andar em círculos. — Cada carta terá um papel. O Ás será a mente por trás do plano, o 10 será o músculo, o Rei será o símbolo de poder, e você... — Ele parou, apontando para ela. — Você será a nossa tirana implacável, a Rainha de Copas que ninguém ousará questionar.

Jaque cruzou os braços, ainda tentando decidir se ele era apenas louco ou brilhante.

— E você? O que o Coringa faz?

Won deu uma risada alta, jogando a cabeça para trás.

— Eu? Eu faço tudo. Porque o Coringa não segue as regras.

Ela revirou os olhos, mas não pôde evitar um pequeno sorriso. Havia algo cativante na insanidade dele, algo que a fazia querer ver até onde essa loucura iria.

— Tá bom, Coringa. E por onde começamos?

Ele piscou para ela, caminhando em direção ao horizonte com as mãos nos bolsos.

— Começamos pelo Ás, é claro. Não se constrói um baralho sem a carta mais forte.

Enquanto os dois caminhavam lado a lado, Jaque percebeu que sua vida caótica estava prestes a entrar em uma nova fase — uma fase onde ela era a Rainha de Copas e ele, o Coringa. E, de alguma forma, isso fazia todo o sentido.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!