Para minha prima Jaqueline:
Que carrega no nome a força de um universo e no coração a intensidade de uma estrela em chamas. Que esta dedicatória seja um reflexo da luz que você espalha, mesmo nos dias mais sombrios.
Você é a poesia que o mundo às vezes se esquece de ler; uma prova viva de que os maiores desafios trazem consigo as sementes das mais belas transformações.
A você, que enfrenta os dias como uma guerreira, com um sorriso no rosto e uma determinação feroz no olhar, desejo que nunca perca sua essência, pois é nela que reside o verdadeiro brilho da sua existência.
Obrigada por ser inspiração e por mostrar que a vida, mesmo com suas curvas e desvios, é sempre digna de coragem e paixão."
1— capítulo: uma louca terrível.
A cidade nunca dormia. As ruas estavam cobertas por uma fina camada de névoa, iluminadas apenas pelos postes enferrujados e pelas luzes trêmulas de bares que nunca fechavam. Carros velhos passavam com o ronco abafado, enquanto vozes ecoavam em becos escuros, abafadas por gargalhadas, brigas e o som distante de tiros.
O vento trazia o cheiro de gasolina, fumaça de cigarro e algo mais sombrio — o cheiro de perigo, de vidas que terminavam antes do nascer do sol. A cidade era um organismo vivo, pulsando, mas sua alma estava apodrecida. Em um canto esquecido, próximo ao ferro-velho dos Matty, o silêncio dominava. Era um silêncio que gritava mais alto do que qualquer sirene da polícia, porque ali ninguém ousava interferir.
O ferro-velho, com suas pilhas de carros amassados e metais enferrujados, parecia o túmulo de histórias esquecidas. Era ali que a família Matty reinava. Um clã que não seguia as regras da cidade — eles as escreviam. Mas, naquela noite, a história não era sobre todos eles. Era sobre Jaque.
A mais nova da linhagem, Jaque era um nome que circulava nas conversas sussurradas. Com apenas 19 anos, ela já tinha espalhado medo por onde passava. Enquanto o vento balançava levemente os fios de seu cabelo negro, ela estava sentada no topo de um carro amassado, observando o horizonte.
A jaqueta de couro apertada a envolvia como uma armadura, enquanto seus olhos escuros e maquiados pareciam analisar cada movimento ao redor. O brilho da estrela bordada no casaco refletia o pouco de luz que alcançava aquele canto esquecido. Seus pensamentos eram tão afiados quanto as facas que ela costumava carregar, e seu sorriso era uma mistura de sarcasmo e ameaça.
Ela tragava um cigarro com calma, como se a cidade ao redor fosse seu playground. O mundo podia estar desmoronando, mas Jaque não tinha pressa. Ela esperava. Não por ajuda ou por redenção, mas pelo próximo movimento. Porque, na mente dela, tudo era um jogo.
— Essa cidade tá cada vez mais podre... do jeito que eu gosto — murmurou para si mesma, enquanto esmagava o cigarro na lataria do carro.
Ao longe, um som de motos cortava o silêncio. Jaque sorriu de canto. Era hora de agir.
O ferro-velho era um símbolo do que ela representava: caos e ordem, abandonado e funcional ao mesmo tempo. Jaque desceu do carro, os coturnos batendo no chão de concreto com um som firme. Ao seu redor, o cheiro de óleo e ferrugem parecia familiar, quase reconfortante.
Enquanto caminhava, a jaqueta balançava levemente com o vento, revelando mais das estrelas vermelhas bordadas. Ela era uma Matty, e todo mundo sabia o que isso significava. Mas, diferente do restante da família, Jaque tinha algo que a fazia única — uma rebeldia sem limites e uma frieza que beirava a psicopatia.
— Porra, cadê vocês? — disse ela em voz alta, impaciente, enquanto girava uma chave inglesa que encontrou pelo caminho.
O som das motos aumentava. Ela sabia que os caras da Costa tinham mandado um recado. Não era só sobre negócios. Era pessoal. Para eles, Jaque era uma ameaça, alguém que precisava ser apagada. Mas, para ela, aquilo era um convite para brincar.
Ao longe, as luzes dos faróis cortaram a escuridão. Um grupo de motos entrou no ferro-velho, o barulho dos motores abafando todos os outros sons. Jaque sorriu, os olhos faiscando.
— Vamos começar o show, porra.
As motos pararam em fila no centro do ferro-velho. Os faróis iluminavam pilhas de sucata, criando sombras grotescas nas laterais dos carros destruídos. Os homens desceram, armados, os rostos escondidos por máscaras improvisadas. O líder deles, um brutamontes tatuado com uma cicatriz atravessando o rosto, deu um passo à frente.
— Ei, cadê a porra da princesa dos Matty? — ele gritou, a voz ecoando pelo lugar.
De repente, o som de metal caindo ecoou ao longe. Todos giraram na direção do barulho, os olhos atentos. Foi então que a voz de Jaque cortou a noite, carregada de deboche.
— Princesa? Tá me confundindo com sua mãe, seu merda.
O som veio de cima. Os homens olharam para o alto e a viram, equilibrada no topo de uma pilha de carros amassados, o rosto iluminado pelo brilho pálido da lua. O sorriso dela era de puro desprezo, e nas mãos, um revólver prateado brilhava.
— Vocês vieram atrás de mim? Que honra! — disse ela, levantando o braço e disparando o primeiro tiro.
O projétil acertou o farol de uma das motos, fazendo faíscas voarem. O som do tiro ecoou, e o caos começou.
Os homens se espalharam, alguns correndo para se esconder atrás de carros enquanto outros revidavam. Jaque, porém, estava rindo. Uma risada alta, selvagem, que parecia pertencer mais a uma psicopata do que a uma garota de 19 anos.
— Isso aqui tá começando a ficar divertido! — ela gritou, enquanto saltava da pilha de sucata e rolava no chão, evitando um disparo que passou zunindo por ela.
De trás de um carro, ela se levantou e disparou de novo, acertando a perna de um dos homens que caiu gritando de dor.
— Vocês acham que podem vir até aqui, na minha casa, e sair andando? Que bonitinho! — disse ela, saindo de trás da cobertura como se não estivesse nem um pouco preocupada com os tiros ao redor.
O líder dos homens gritou:
— Pega essa louca agora!
Jaque respondeu com outro tiro, desta vez passando de raspão pelo ombro dele.
— Louca? Obrigada pelo elogio, querido! — ela gritou de volta, correndo até uma pilha de pneus e se jogando atrás dela.
Ela pegou a chave inglesa que havia levado consigo e a arremessou com força. O objeto atingiu outro homem na cabeça, derrubando-o no chão com um som seco.
— Dois a zero pra mim! Quem vai ser o próximo? — provocou, sem parar de rir.
O som dos tiros parecia um concerto para Jaque. Ela não estava apenas lutando; estava se divertindo. Cada movimento seu era rápido, preciso, como se o caos fosse a única coisa que fazia sentido para ela.
De repente, uma explosão sacudiu o ferro-velho. Um dos homens havia acertado um tanque de gasolina esquecido, e o fogo começou a se espalhar. As chamas lançavam luzes alaranjadas pelo lugar, criando um espetáculo que só fazia Jaque sorrir ainda mais.
— Que coisa linda! Vocês vieram pra me matar ou pra me entreter? — ela gritou, enquanto disparava mais uma vez, acertando outro alvo.
Ela sentia o sangue correr rápido pelas veias, a adrenalina transformando cada segundo em algo excitante. Para Jaque, aquilo não era uma luta. Era um jogo.
E ela nunca jogava para perder.
As chamas do tanque de gasolina iluminavam o ferro-velho, transformando o lugar em um campo de guerra infernal. Jaque se escondia atrás de uma pilha de pneus, o sorriso ainda estampado no rosto. Ela abriu o tambor do revólver e bufou ao encontrar o vazio: as balas haviam acabado.
— Merda... — murmurou, jogando o revólver vazio de lado.
Mais motos e caminhonetes chegaram, preenchendo o lugar com o ronco dos motores. Os homens desceram armados, rindo alto e batendo nas latarias.
— Acabou pra você, Jaque! Tá sem saída agora, sua vadia! — gritou o líder, levantando uma espingarda com confiança.
Os outros homens começaram a rir, comemorando como se já tivessem vencido.
— Acabou? — Jaque murmurou para si mesma, os olhos faiscando. — Tá só começando, otários.
Ela respirou fundo, espiando ao redor. Entre o caos, viu algo brilhando próximo a uma pilha de latas amassadas. Com um movimento rápido e ágil, ela correu em direção ao brilho, desviando dos tiros que começaram a ser disparados. Rolando pelo chão, ela chegou até o objeto e, ao tocá-lo, seus lábios se abriram em um sorriso diabólico.
Era uma MP5, com o carregador intacto.
— Ah, meu amor... você acabou de salvar minha noite. — disse, levantando-se e destravando a arma.
Sem hesitar, Jaque saiu de trás da pilha de metal, a MP5 nas mãos. Os homens congelaram por um momento, surpresos.
— Agora é minha vez, seus merdas. — Ela disse, e apertou o gatilho.
O som da rajada da MP5 cortou o ar, engolindo os risos e as comemorações dos homens. A arma parecia uma extensão de Jaque, cada disparo preciso e mortal.
Os primeiros tiros atingiram os tanques de duas motos, que explodiram em uma bola de fogo, derrubando os homens próximos. Ela girou o corpo, disparando em direção a outro grupo, acertando um deles no peito.
— Isso aqui é o que eu chamo de diversão! — Jaque gritou, gargalhando enquanto avançava.
Os homens tentaram se reagrupar, mas a MP5 nas mãos dela era implacável. Cada movimento de Jaque era rápido, ágil, como se o caos fosse o habitat natural dela.
— Vocês acham que podem aparecer aqui e ganhar de mim? Que fofos! — provocou, enquanto uma rajada de tiros derrubava mais dois homens que tentavam fugir.
O líder do grupo, agora visivelmente nervoso, gritou:
— Alguém derruba essa maldita!
Mas os homens hesitavam. Alguns tentavam recuar, enquanto outros disparavam a esmo, sem conseguir acompanhá-la.
Jaque continuava avançando, desviando de tiros com facilidade. Seus olhos brilhavam com pura adrenalina, e sua risada ecoava como a de uma verdadeira psicopata.
— Mais rápido, seus lerdos! Quero ver vocês correrem! — ela gritou, disparando contra um caminhão, que explodiu em uma chuva de faíscas e chamas.
Um dos homens tentou atacá-la com uma barra de ferro, mas Jaque se virou com rapidez, acertando uma rajada curta em suas pernas. Ele caiu gritando de dor, e ela apenas riu.
— Próximo! — disse, segurando a MP5 com firmeza enquanto caminhava pelo campo de batalha, como se fosse uma rainha insana em seu reino de destruição.
O som das sirenes começou a ecoar ao longe, mas Jaque não parecia se importar.
— Bom, rapazes, foi divertido, mas a festa acabou pra vocês. — disse ela, antes de disparar novamente, acertando o líder no ombro e o derrubando no chão.
Ela olhou para os homens restantes, que agora estavam apavorados, e deu um sorriso cheio de desprezo.
— Da próxima vez, tragam mais munição.
Guardando a MP5 nas costas, Jaque correu até sua moto, subindo nela com facilidade. O motor rugiu, e ela acelerou, desaparecendo na escuridão enquanto as sirenes se aproximavam, deixando para trás o caos que só ela sabia criar.
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