A porta que não se abre

Cont...

Os meses foram passando e, à medida que o tempo se alongava, Laura e Rafael deixaram de entender mais profundamente, como se o silêncio entre eles falasse mais do que qualquer palavra dita. Laura já não sentia tanto medo de abrir seu coração, e Rafael, mesmo com suas barreiras, estava mais disposto a confiar. Mas o que ela não sabia era que, por trás daquele sorriso enigmático, Rafael ainda guardava um segredo que o impedia de dar o passo final na direção ao que eles estavam construindo. Algo que Laura não entendeu, mas que sentiu em cada gesto evitado, cada olhar desviado. Uma tarde, enquanto caminhavam juntos pela rua depois da escola, Rafael estava mais quieto do que o normal. Ele costumava ser o tipo de pessoa que fugia do silêncio, mas hoje parecia pesado, distante, como se estivesse em algum lugar muito longe dali.

 

— O que você está apostando, Rafael? — Laura perguntou, tentando olhar nos seus olhos.

 

Ele olhou para ela, hesitou, e então desviou o olhar, como se estivesse decidindo se deveria ou não contar.

 

— Eu... não sou bom para isso. Para você. Para nós. — Sua voz era baixa, quase como se ele estivesse falando mesmo. Laura sentiu um nó na garganta. Não era o que ela esperava ouvir. Ela pensou que o muro dele estaria desmoronando aos poucos, mas talvez fosse um castelo tão imponente que ela nunca conseguiria entrar.

 

— Não é sobre ser bom ou ruim, Rafael. É sobre tentar, mesmo que tenhamos medo. Todos nós temos nossos fantasmas. Eu... eu também tenho os meus. — Ela tentou ser forte, mas o coração lhe apertou. Ele suspirou, um suspiro profundo que parecia carregar todo o peso da dor não dita. Finalmente, ele falou:

— Não é fácil para mim, Laura. Eu não sei se posso ser quem você precisa que eu seja. Estou lutando comigo mesmo o tempo inteiro. Eu... — Ele parou, a voz falhando, e ficou em silêncio. Laura também ficou em silêncio, sentindo uma distância crescente entre eles. Ela queria dizer algo, queria fazer algo para quebrar aquele muro que ainda permanece, mas não sabia o que. Ela não tinha respostas para as dores de Rafael, mas sabia que não podia forçar alguém a abrir a porta que não queria abrir. Ao invés de tentar pressioná-lo, Laura deu um passo atrás e simplesmente olhou para ele.

— Eu não quero que você seja perfeito, Rafael. Eu só quero que você seja você. Não vou tentar mudar você, eu só quero estar ao seu lado, no seu ritmo. — Ela sorriu gentilmente. — Mas, se você não quer, tudo bem também.- Rafael olhou para ela, surpreso, e a dúvida nos seus olhos distraídos por um momento. Ele pareceu perceber pela primeira vez que Laura não estava ali para resolver seus problemas, mas para apoiá-lo. O peso em seu peito parecia, por um instante, mais leve.

 

— Eu... não sei o que fazer com isso, Laura. Mas você me faz querer tentar. — Ele disse finalmente, e seus olhos estavam mais suaves, embora ainda houvesse o fantasma de algo não resolvido. Eles ficaram ali, em silêncio, enquanto a tarde caía ao redor deles. A porta ainda estava fechada, mas Laura sentiu que, talvez, algum dia, Rafael estivesse pronto para abri-la. Ou talvez não. Mas ela estava aprendendo a aceitar isso. E, enquanto o vento frio da noite começava a soprar, Laura escreveu em seu diário:"Talvez o amor não seja sobre voltar, mas sobre ser capaz de ficar, mesmo quando a porta ainda está trancada." O tempo passou, mas a sensação de incerteza ocorreu como uma brisa constante entre eles. Rafael parecia estar em uma batalha silenciosa consigo mesmo, e Laura, por mais que quisesse ser uma resposta, observe que talvez o amor não fosse sobre resgatar, mas sobre estar presente. Naquela noite, enquanto Laura estava deitada na cama, relendo as palavras que escreveu no diário, encontre algo profundo: amar Rafael não era sobre abrir a porta para ele, mas sobre estar disposto a esperar do lado de fora, até que ele estivesse pronto para gire a maçaneta. A vida, afinal, foi feita dessas nuances – de silêncios que podiam conter universos e palavras que, por mais simples que fossem, tinham o poder de reconstruir ou devastar. Do outro lado da cidade, Rafael estava sentado à beira da janela do seu quarto, observando as luzes que piscavam no horizonte. Ele se perguntava se algum dia teria coragem de contar a Laura o que o prendia. Parte dele queria confiar, mas outra parte, maior e mais escura, ainda o impedia de acreditar que ele merecia o tipo de amor que ela oferecia. Enquanto ele se perdia esses pensamentos, uma frase de Laura ecoava em sua mente: "Eu só quero que você seja você." Talvez, pela primeira vez, ele sentiu que ser ele mesmo poderia ser suficiente, mesmo que estivesse longe de ser perfeito. E assim, em suas solidões entrelaçadas, os dois encontraram algo mais forte que respostas: retornaram a esperança. Ela não era grandiosa ou imediata, mas estava ali, persistente, como um pequeno ponto de luz no meio de uma noite que parecia interminável. Alguns capítulos são como este, incompletos e abertos, porque o final ainda está sendo escrito.

Fim...

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