04— Apresentação

 Helena chegou no enorme prédio onde ficava o escritório Mello. Desceu do carro de aplicativo e sorriu para o motorista, que a olhou com desdém. Era isso...o seu plano estava indo bem.

 Na recepção, ao se apresentar, recebeu um olhar da jovem recepcionista, que mais parecia uma avaliação de raio x. Helena podia notar que a moça queria falar algo, mas guardou para si, apenas entregou o seu crachá.

 — Senhora Velásquez, seja bem-vinda ao grupo Melo. Se crachá também é o cartão chave para acessar o andar da diretoria pegue o elevador de portas douradas ele a levará diretamente para o andar correto.

Obrigada. Helena sorriu.

Ser chamada de, senhora aos 20 anos era bom. Significava que o seu disfarce funcionava muito bem. Seguiu com passadas rápidas e confiantes até o elevador indicado.

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 Felipe Mello chegava cedo em seu escritório, muitas vezes antes da secretária Francisca. Ele gostava da Paz que reinava antes de todo o pessoal chegar para sua surpresa tinha visitas

Bruno Satte e Diego Malta já estavam à sua espera, na porta do elevador privativo, carregando copos de café, sorrindo como duas crianças à espera do seu presente de aniversário.

 — Nem adianta... iremos com você. — Bruno falou.

 — Felipe, jamais deixaríamos você divertir-se sozinho. — Diego sorriu.

 — Vocês pensam que aqui é um parque de diversões? Aqui é o meu trabalho, porr@! Eu não fico com funcionárias. — Felipe deixou claro para os seus amigos desocupados.— Os dois crianções não tem nada pra fazer hoje?

 — Tiramos a manhã para te apoiar. Afinal, você é nosso amigo-irmão. — Diego zombou.

 Os três amigos saíram do elevador e andaram pela pequena sala silenciosamente até entrarem no escritório de Felipe. Ele era amplo, continha uma sala de descanso, um banheiro privativo, mas no canto havia uma pequena mesa, ali seria o local de trabalho da amiga de Suellen, bem a frente da mesa dele.

 — E não é que o nosso amigo irá rabalhar a olhar para as pernas da beldade. — Diego zombou — Já posso imaginar ela cruzando as pernas…

 — Cale essa boca Diego. O meu local de trabalho é sagrado, se bem que olhar para mim não me fará mal algum.

Os três estavam sentados, todos ansiosos pela chegada da "secretária particular" de Felipe. Pareciam estudantes do ensino médio com as brincadeiras. Bruno inclusive sugeriria uma aposta exorbitante.

 — A curiosidade dos dois eu até tolero, também estou curioso.— falou, em seguida, concluiu rispidamente.— Mas isso não lhes dão o direito de apostar sobre uma moça que nem tem noção do que estamos fazendo.

 — Certo...certo... sempre me esqueço que é o "bom moço" da turma. — Bruno não perdeu a oportunidade de criticar o amigo.

 Logo o interfone toca em sua mesa, era a secretaria Francisca, alertando sobre a chegada da nova contratada.

 — Mande-a entrar. — Felipe falou e depois, olhou para os amigos. — Comportem-se. Nada de idiotices com a minha secretária.

 A porta foi aberta com suavidade e Diego chegou a engasgar-se com o seu café. Ficou paralisado e Felipe tentava assimilar aquela visão.

 A sua nova secretária usava um óculos enorme, de lentes que mais pareciam o fundo de uma garrafa e em nada combinava com o rosto da mulher. Ela usava uma saia marrom rodada que chegava aos pés, blusa de manga longa amarela, assim como a faixa em seu cabelo negro, ela segurava a bolsa firmemente em frente ao seu corpo de forma protetora.

 — Bom dia, senhor Mello... senhores…

 A sua voz deu uma leve oscilada, mas logo sou firme, mostrando a sua força. Tinha um leve sorriso no rosto, o que dava a impressão de que escondia algo.

 Diante do quadro a sua frente, Helena teve a confirmação que o seu disfarce era bom. Aqueles três belos homens pareciam crianças pegas fazendo uma arte.

 — Bom... bom dia... Felipe, já vou, tenho uma audiência agora pela manhã. Vamos Diego, temos trabalho.

 Os dois saíram rapidamente, sem tocar no seu café, sem lançar um olhar a mais para Helena, mas ela pôde notar que eles se esforçavam para segurar o riso.

 Perfeito!

  Helena fechou a porta atrás de si e, virando-se para o seu chefe, arrumou o enorme óculos no seu rosto.

 — Podemos começar, senhor.

 Felipe ainda estava parado, tentando entender onde foi parar a loira voluptosa e provocante que a sua mente havia criado. Certamente não era aquela feiosa usando roupas que nem a sua avó usaria. Engolindo em seco, fechou os olhos e pensou em Suellen e na promessa que havia feito...

  — Helena Velasquez, correto?— ele perguntou, na esperança de que aquela mulher estivesse no lugar errado.

 — Sim, sou a indicada por Suellen.

 Felipe fechou os olhos, era isso.

Palavra dada não poderia ser retirada, afinal de contas, ela estava ali para trabalhar, não importava que fosse tão fora dos padrões convencionais.O que contava, era a sua capacidade de trabalho e isso ele teria que avaliar.

  — Bem... o seu trabalho é simples.— Felipe limpou a garganta e virou-se para vidraça atrás de sua mesa.— Tem que chegar antes de mim, organizar a minha sala. Não gosto que outra pessoa mexa nas minhas coisas, além de você, apenas Francisca entra aqui. Bata sempre na porta e espere autorização para entrar. Gosto de trabalhar em silêncio, nada de conversas desnecessárias.

— Sim senhor Mello.

 Felipe teve a impressão de ouvir um leve tom de zombaria na voz daquela mulher, mas preferiu não se estender demais no assunto.

 — A mesa é sua...

 Helena conteve o sorriso e foi até a mesa indicada, abriu as gavetas, olhou o laptop sobre a mesa. Recebeu as informações de Francisca pelo fone de ouvido e se pôs a organizar a agenda semanal do seu chefe. Parecia um serviço fácil, mais fácil que os olhares disfarçados que recebia do "poderoso" Felipe Melo como teve um sorriso de deboche, ela sabia que estava horrível naquela roupa e com aqueles óculos ...

 Não queria que o seu chefe tivesse pensamentos sobre ela, queria distância de romances e homens que pensavam com a cabeça de baixo. Sentia-se segura assim. Antes desse dia, havia pesquisado tudo que podia sobre aquele homem. Sabia sobre os seus gostos, seus amigos, sua família...

Ela estava pronta para mantê-lo longe e ao mesmo tempo ser eficiente. Afinal, o seu salário ali seria bem maior que o da cafeteria. Daria para melhorar as suas economias. Fez o que ele pediu, manteve-se calada e na sala, ouvia-se apenas o barulho das teclas enquanto ela digitava. Na agenda manual, organizou toda semana, usando canetas coloridas e marcadores fosforescentes, ela amava.

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