A noite caiu como um véu sobre a cidade, trazendo consigo uma sensação de urgência e mistério. Samantha, Nathali, Camila e Dax estavam em um carro, dirigindo-se para o encontro com João. O ar dentro do veículo estava pesado com a tensão da expectativa; cada um deles sabia que estavam prestes a mergulhar mais fundo em um mundo onde as regras eram feitas por aqueles que não tinham medo de quebrá-las.
O local do encontro era um armazém nas margens da cidade, um lugar esquecido pelo tempo e pela lei. Ao chegarem, encontraram João esperando, sozinho, mas com uma presença que parecia ocupar todo o espaço. Ele era um homem de meia-idade, com um olhar que via através das pessoas, vestindo roupas que misturavam o casual com algo que sugeria poder.
"Vocês estão aqui," João disse, mais uma afirmação do que uma pergunta. "E você deve ser Dax."
Dax assentiu, a ansiedade transparecendo em seus olhos.
"Eu ouvi o suficiente para entender a situação," João continuou, olhando para cada um deles. "Posso fazer você desaparecer, Dax, mas tudo tem um custo."
Samantha, sentindo-se responsável pela segurança de seu amigo, perguntou, "Qual é o preço?"
João sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos. "Informação. Eu preciso de algo que você tem, Samantha."
Samantha franziu o cenho, confusa. "Eu não tenho nada—"
"Você tem uma história que vale muito," João interrompeu. "Sua história, a de uma jovem trans em um mundo que ainda não entende. Eu conheço pessoas que pagariam bem por essa narrativa. Escreva para mim. Algo real, algo pungente."
A proposta era inesperada. Samantha nunca considerou sua vida como uma commodity, mas a ideia de usar suas experiências para salvar Dax era uma chance que ela não podia ignorar.
"Eu faço isso," Samantha disse, determinada. "Mas quero garantias de que Dax estará seguro."
João acenou com a cabeça. "Ele estará. Enquanto você cumprir sua parte do acordo."
O plano foi colocado em ação. João tinha contatos que poderiam fazer Dax desaparecer do radar por tempo suficiente para que ele pudesse começar de novo em outro lugar. Mas a noite não terminou ali. Eles precisavam voltar para a casa de Nathali, onde o próximo passo seria dado.
Uma vez de volta, Samantha sentou-se à mesa da cozinha, o caderno à sua frente. A ideia de expor sua vida, suas lutas e triunfos, era assustadora, mas também libertadora. Começou a escrever, as palavras fluindo como um rio que finalmente encontra seu caminho ao mar. Escreveu sobre o preconceito, sobre o apoio de Nathali, sobre a coragem de ser ela mesma em um mundo que muitas vezes tentava apagá-la.
Enquanto escrevia, Nathali e Camila discutiam sobre o futuro. Camila estava preocupada com as repercussões de terem envolvido Lucas. "Ele não vai esquecer isso," ela disse, a preocupação evidente em sua voz.
Nathali tentou tranquilizá-la. "Mas fizemos o que tínhamos que fazer por Dax. E por Samantha. Estamos juntas nisso, certo?"
Camila assentiu, mas a sombra da dúvida não deixava seu olhar.
Dax, por sua vez, estava em um canto, pensando sobre a nova vida que teria que construir. A gratidão era palpável, mas também o medo de não conseguir deixar o passado para trás.
O Novo Dia:
O amanhecer trouxe uma nova perspectiva. Samantha terminou seu texto, um relato visceral de sua jornada. Ela entregou o manuscrito a João naquela manhã, em um parque deserto, onde a troca foi feita em silêncio. João leu algumas linhas, um brilho de aprovação em seus olhos. "Isso vai mudar vidas," ele disse, antes de desaparecer como uma sombra ao nascer do sol.
De volta à casa, todos sentiram uma mistura de alívio e tensão. Dax estava seguro, pelo menos por agora, mas a exposição de Samantha era um novo tipo de vulnerabilidade. Ela tinha colocado sua alma no papel, e agora, ela pertencia ao mundo.
Nathali abraçou Samantha, orgulho e preocupação misturados. "Você fez algo incrível, Sammy. Mas como você está se sentindo?"
Samantha refletiu por um momento. "Sinto-me... livre. E assustada. Mas principalmente, sinto que estou finalmente tomando as rédeas da minha própria história."
Samantha olhava para o horizonte, uma nova determinação em seus olhos. Ela sabia que mais desafios viriam, que a vida não seria uma linha reta, mas também sabia que tinha uma voz, uma história a contar, e amigos que a apoiariam. E isso, acima de tudo, era o verdadeiro preço da liberdade - não o que se perde, mas o que se ganha ao se abrir, ao se tornar autêntico, ao enfrentar o mundo com coragem.
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Atualizado até capítulo 50
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