o dia seguinte

O sol entrou pelas janelas do dormitório, anunciando mais um dia na rotina do colégio São Martinho. No entanto, para Helena, aquele não seria um dia qualquer. Ela acordou mais cedo do que o normal, ainda sentindo as vibrações da noite anterior. O baile estava fresco em sua memória: as luzes, a música e, principalmente, o sorriso de Sofia.

Por mais que tentasse se convencer de que tudo não passara de um momento divertido entre amigas, algo dentro dela insistia em apontar para algo mais. Havia algo diferente naquela dança, algo que fazia seu coração bater mais rápido toda vez que pensava no jeito como Sofia segurava sua mão ou olhava para ela com aqueles olhos brilhantes.

Helena balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Levantou-se, tomou um banho rápido e seguiu para o refeitório, onde esperava começar o dia com uma rotina tranquila. Mas, como de costume, Sofia estava um passo à frente.

“Bom dia, dorminhoca!” A voz alegre de Sofia soou assim que Helena entrou no salão. Ela já estava sentada em uma mesa próxima à janela, com uma bandeja cheia de torradas e frutas.

“Você está sempre aqui antes de todo mundo?” Helena perguntou, sentando-se ao lado dela.

“Só quando sei que você vai aparecer,” Sofia respondeu com um sorriso malicioso.

Helena riu, mas sentiu as bochechas esquentarem. Pegou um pedaço de pão e começou a passar manteiga, tentando evitar o olhar de Sofia.

“Então, o que achou do baile?” Sofia perguntou casualmente, embora seu tom sugerisse que esperava algo mais do que uma resposta genérica.

“Foi... melhor do que eu esperava,” admitiu Helena, dando um pequeno sorriso.

“Só isso? Melhor do que esperava? Poxa, eu mereço mais crédito, vai,” Sofia brincou, fingindo estar ofendida.

“Ok, ok. Foi divertido,” Helena disse, finalmente olhando para ela. “Principalmente por sua causa.”

Sofia piscou, como se não tivesse ouvido direito. Depois de alguns segundos, abriu um sorriso satisfeito. “Ah, isso sim é um elogio de verdade. Vou guardar pra sempre.”

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O dia seguiu com a rotina de aulas, mas Helena não conseguia se concentrar. Na aula de Literatura, enquanto a professora discutia poemas de Cecília Meireles, sua mente vagava para a noite anterior. Lembrava-se de cada detalhe da dança: o calor das mãos de Sofia, o riso que escapava sempre que erravam os passos, o jeito como os olhos dela brilhavam sob as luzes do ginásio.

“Helena, você está bem?” perguntou a colega ao lado, interrompendo seus pensamentos.

“Sim, sim,” respondeu rapidamente, sentindo-se envergonhada por ter sido pega distraída.

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Quando o sinal do intervalo tocou, Sofia apareceu novamente. Helena já começava a se perguntar se ela tinha algum tipo de radar para saber exatamente onde ela estaria.

“Vem comigo,” disse Sofia, puxando-a pelo braço antes que Helena pudesse protestar.

“Pra onde estamos indo?”

“Surpresa.”

Elas caminharam em silêncio até o jardim escondido atrás do prédio de Artes, um lugar que Sofia parecia considerar seu refúgio pessoal. Lá, a grama estava levemente úmida por causa do orvalho, e as árvores ao redor criavam uma sombra agradável. Sofia se sentou no mesmo lugar onde haviam conversado dias antes, estendendo o braço para que Helena fizesse o mesmo.

“Você sabia que tem algo mágico nesse lugar?” perguntou Sofia, olhando para as folhas que dançavam com o vento.

“Magia não é bem o meu forte,” Helena respondeu, tentando soar leve, mas Sofia apenas sorriu.

“Não estou falando de magia de verdade. Só acho que alguns lugares têm uma energia especial, sabe? Algo que faz você se sentir... em paz.”

Helena não respondeu imediatamente. Estava mais focada no rosto de Sofia, que parecia estranhamente sério naquele momento. Era raro vê-la assim, sem aquele sorriso constante que parecia colar em seus lábios.

“Você está diferente hoje,” Helena comentou.

“Diferente como?”

“Não sei. Mais... pensativa.”

Sofia deu de ombros. “Acho que estou com muita coisa na cabeça.”

“Algo com que eu possa ajudar?”

Por um momento, Sofia não disse nada. Depois, virou-se para Helena, os olhos carregando uma mistura de incerteza e algo mais que Helena não conseguiu identificar.

“Você me acha... estranha?”

A pergunta pegou Helena de surpresa. “O quê? Não! Claro que não.”

“É sério. Às vezes acho que sou demais para as pessoas, sabe? Falo demais, brinco demais, fico grudenta...”

“Sofia, isso não é verdade.” Helena hesitou antes de continuar. “Você é incrível. Você faz as pessoas se sentirem especiais. Eu me sinto especial quando estou com você.”

As palavras saíram antes que pudesse pensar, mas, quando percebeu, já era tarde. Sofia a olhava com uma expressão que era ao mesmo tempo surpresa e algo mais — algo que fez o coração de Helena acelerar.

“Você realmente acha isso?” Sofia perguntou suavemente.

“Claro que acho,” Helena respondeu, sentindo o rosto esquentar.

Por alguns segundos, as duas ficaram em silêncio, como se o tempo tivesse parado. Sofia finalmente desviou o olhar, um sorriso suave surgindo em seus lábios.

“Obrigada,” disse ela, a voz quase um sussurro.

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Naquela noite, Helena deitou-se na cama com a mente ainda mais confusa. Cada vez que pensava em Sofia, sentia um calor estranho no peito, algo que nunca havia sentido antes. Era como se uma parte de si mesma estivesse se abrindo, uma parte que ela nem sabia que existia.

Ela não sabia o que aquilo significava, mas uma coisa era certa: Sofia estava se tornando muito mais do que uma simples amiga.

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