baile de outono

Outubro finalmente chegou, e com ele vieram os primeiros ventos frios e as folhas douradas que cobriam os caminhos do colégio São Martinho. Havia uma excitação visível no ar. Estudantes corriam de um lado para o outro, comentando sobre roupas, músicas e combinações para o tão aguardado Baile de Outono. O ginásio, normalmente sem graça, começava a se transformar com as luzes decorativas e guirlandas de folhas secas que os funcionários colocavam cuidadosamente.

Para Helena, no entanto, o baile parecia mais uma armadilha do que um evento divertido. Ela tentava ao máximo ignorar os comentários e convites que ouvia pelos corredores, mas a sensação de ser a única a não compartilhar daquele entusiasmo começava a incomodá-la.

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Na tarde de uma sexta-feira, após a última aula do dia, Sofia abordou Helena com um sorriso travesso. Ela parecia animada como sempre, mas Helena sabia que, quando Sofia ficava assim, alguma coisa vinha pela frente.

“Então, qual é o seu plano para o baile?” perguntou Sofia casualmente, como quem já sabia a resposta.

“Eu... provavelmente vou ficar no meu quarto,” respondeu Helena, tentando parecer indiferente.

Sofia arregalou os olhos, fingindo choque. “O quê? Isso é uma heresia! Você não pode perder o Baile de Outono. É praticamente uma tradição sagrada.”

“Eu não sou muito de festas.”

“Isso é só porque você nunca foi a uma comigo,” Sofia retrucou, cruzando os braços.

Helena riu, mas balançou a cabeça. “Sério, não é meu tipo de coisa. Muita gente, muito barulho.”

“Helena,” Sofia começou, agora com um tom mais sério. “Sei que você gosta de ficar na sua, mas às vezes é bom se permitir sair da zona de conforto. Não estou dizendo que vai ser a melhor noite da sua vida, mas pode ser divertido. E, se não for, prometo que te levo de volta no segundo em que você quiser ir embora.”

A sinceridade de Sofia deixou Helena sem argumentos. Não era fácil dizer não para ela, especialmente quando parecia tão determinada.

“Ok, eu vou pensar,” cedeu Helena, mesmo sabendo que Sofia não aceitaria outra resposta além de um “sim”.

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Nos dias seguintes, o entusiasmo pelo baile tomou conta do campus. Helena tentava se concentrar nos estudos, mas Sofia não deixava o assunto morrer. Ela mencionava o evento em quase todas as conversas, compartilhava detalhes sobre a decoração e especulava sobre a playlist da noite.

“Vai ser incrível, eu juro,” insistia Sofia em um momento. “Você não vai se arrepender.”

Eventualmente, Helena percebeu que não tinha como escapar. Na véspera do evento, foi até uma loja pequena na cidade e escolheu um vestido simples de cor azul-escuro, algo discreto e confortável, que não chamasse muita atenção. Não queria parecer deslocada, mas também não queria parecer que estava se esforçando demais.

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Na noite do baile, o campus estava vibrante. As luzes que decoravam o caminho até o ginásio piscavam em tons dourados e brancos, e as risadas dos estudantes ecoavam pelos corredores. Helena hesitou por alguns minutos antes de sair de seu quarto. Sentia-se estranha no vestido, como se estivesse tentando ser outra pessoa.

Ao chegar ao ginásio, ficou impressionada com a transformação. O espaço estava irreconhecível. Luzes penduradas no teto criavam um brilho acolhedor, e as mesas ao redor tinham arranjos de flores secas em tons de laranja, vermelho e amarelo. No palco, uma banda começava a tocar uma música animada, enquanto a pista de dança já estava cheia de alunos rindo e girando ao som do ritmo.

Helena se encostou perto da entrada, observando tudo. Parte dela queria fugir, mas antes que pudesse tomar qualquer decisão, ouviu uma voz familiar.

“Eu sabia que você viria!”

Ela se virou rapidamente e viu Sofia vindo em sua direção. Sofia usava uma camisa branca elegante com detalhes sutis e uma calça preta que destacava seu estilo descontraído. O cabelo estava solto, caindo levemente sobre os ombros, e seu sorriso brilhava como sempre.

“Você está linda,” Sofia disse sem hesitação, olhando para Helena de cima a baixo.

Helena sentiu o rosto esquentar. “Você também está muito bem.”

“Vem, vou te mostrar o melhor lugar pra evitar a confusão,” disse Sofia, pegando a mão de Helena e puxando-a com suavidade.

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As duas encontraram um lugar mais tranquilo perto de uma mesa no canto. Enquanto Sofia puxava assuntos leves, Helena sentia-se gradualmente mais confortável.

“A decoração está incrível,” comentou Helena, tentando afastar o nervosismo.

“Eu sei, né? Fiquei espionando a montagem a semana inteira,” respondeu Sofia, rindo. “Mas me conta, o que achou do baile até agora?”

“Não é tão ruim quanto imaginei,” Helena admitiu, sorrindo de leve.

“Eu disse!” Sofia deu uma piscadela antes de continuar. “E olha, a noite só está começando.”

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Mais tarde, quando a música mudou para um ritmo mais lento, Sofia se levantou de repente.

“Ok, agora é a sua vez.”

“Minha vez do quê?” Helena perguntou, confusa.

“De dançar, é claro!”

“Eu não... não danço.”

“Todo mundo pode dançar, Helena. Só precisa querer.”

Antes que pudesse protestar mais, Sofia segurou sua mão novamente, puxando-a para a pista de dança.

O primeiro momento foi desajeitado. Helena pisou no pé de Sofia e soltou um pedido de desculpas apressado, mas Sofia apenas riu.

“Relaxa, eu já esperava isso. Agora olha pra mim e esquece o resto.”

Helena tentou. No começo, foi difícil ignorar o som alto da música e as pessoas ao redor, mas o sorriso de Sofia era tão tranquilizador que, pouco a pouco, o mundo ao redor desapareceu.

“Tá vendo? Você está indo muito bem,” Sofia disse suavemente, puxando Helena para mais perto.

“Você diz isso para todo mundo?”

“Só pra quem eu realmente quero que acredite,” respondeu Sofia, olhando diretamente nos olhos de Helena.

Por um momento, Helena sentiu como se seu coração tivesse parado. O olhar de Sofia era intenso, quase como se pudesse enxergar através dela.

“Obrigada,” Helena sussurrou de repente.

“Por quê?”

“Por isso. Por me fazer vir. Por me mostrar que... talvez eu possa me divertir, às vezes.”

Sofia sorriu, e, naquele momento, Helena soube que algo estava mudando dentro dela. Talvez fosse o jeito como Sofia fazia tudo parecer tão simples. Talvez fosse o fato de que, ao lado dela, o mundo parecia menos assustador.

Enquanto a música continuava, elas permaneceram ali, dançando em silêncio, como se o tempo tivesse parado só para elas.

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