Capítulo 5

Ben sempre teve a saúde um pouco frágil. Resfriados não eram novidade para ele, mas dessa vez a gripe que o atingiu foi diferente. Ele estava com febre altíssima, tossindo e claramente debilitado. Alex, preocupado, sugeriu que ele procurasse um médico, mas Ben, teimoso como sempre, disse que apenas precisava descansar. Lisa, no entanto, não aceitou essa resposta como suficiente.

Quando soube da gravidade da situação, Lisa decidiu que ficaria no apartamento dos rapazes para cuidar de Ben. Alex ficou surpreso, mas aceitou de bom grado. Afinal, a febre do amigo estava alta, e ele não era exatamente o mais disciplinado quando se tratava de tomar remédios ou cuidar da própria saúde.

Lisa assumiu completamente o papel de cuidadora. Preparava chás, fazia sopas e administrava os remédios de Ben com uma atenção que Alex achava quase exagerada. Logo, ele começou a se sentir como um intruso no próprio apartamento.

— Lisa, você não precisa fazer nada por mim. Estou bem. — Disse Alex, ao vê-la preparando o café da manhã para os dois.

Ela sorriu, com o mesmo ar tranquilo de sempre.

— Não é nada, Alex. Estou acostumada com isso. Vivo sozinha desde os dezesseis anos, então cuidar de uma casa ou de pessoas não é problema.

A revelação pegou Alex de surpresa. Ele não imaginava que Lisa tivesse saído de casa tão cedo. Isso explicava muito sobre sua maturidade e a forma como ela parecia ter tudo sob controle. Mesmo assim, Alex sentia-se um pouco desconfortável com tanta dedicação.

— Ainda assim, obrigado por tudo. Sério. Você está fazendo muito mais do que deveria.

Lisa apenas balançou a cabeça, como se quisesse descartar a gratidão excessiva.

— Eu faço porque me importo, Alex. É simples assim.

Durante os dois dias que passou no apartamento, Lisa praticamente tomou conta de tudo. Além de cuidar de Ben, ela lavou roupas, organizou a cozinha e até limpou algumas áreas que Alex tinha negligenciado. Ele brincou que ela estava transformando o lugar em uma casa de verdade, e Lisa riu, dizendo que era bom colocar um pouco de ordem no caos.

Porém, o que mais chamou a atenção de Alex foi o cuidado que Lisa demonstrava por Ben. Apesar de todo o esforço, ela parecia genuinamente feliz em ajudar. O carinho que sentia por ele era evidente, mesmo que Ben, com sua personalidade contida, não fosse exatamente o tipo de paciente que retribuía com demonstrações calorosas.

Naquela situação, Alex não conseguiu evitar uma reflexão. Ele notou que, pela primeira vez, Lisa e Ben dormiram juntos no mesmo quarto do apartamento. Embora soubesse que Ben estava muito doente para qualquer intimidade, a ideia ainda o fez refletir sobre o nível de confiança e proximidade que o casal havia alcançado.

Na manhã em que Lisa se preparava para ir embora, Alex teve a chance de conversar com ela enquanto Ben ainda dormia, recuperando-se da febre. Sentados à mesa da cozinha, com o aroma de café fresco preenchendo o ar, Alex decidiu aproveitar a oportunidade para conhecer mais sobre ela. No início, a conversa foi casual. Lisa falava sobre sua rotina, o trabalho na cafeteria e a vida universitária. Mas, à medida que o papo avançava, Alex começou a perceber algo que o deixou intrigado.

Lisa, que sempre parecia tão sorridente e acessível, às vezes interrompia suas próprias frases. Ela mudava de assunto abruptamente ou simplesmente ficava em silêncio, com uma expressão séria que contrastava com o sorriso habitual. Era como se algo pesasse sobre ela, algo que ela não queria ou não podia compartilhar.

Os olhos de Lisa, que Alex achava tão brilhantes e calorosos, tinham momentos de profundidade enigmática, quase sombria. Havia uma dualidade em sua personalidade que ele não tinha notado antes.

— Lisa, você mencionou que vive sozinha desde os dezesseis anos. Deve ter sido difícil, não? — perguntou Alex, tentando abordar o assunto com cuidado.

Ela hesitou por um instante, o suficiente para que Alex percebesse que a pergunta tocava em algo sensível.

— Foi… Desafiador. — Respondeu ela, com um sorriso forçado. — Mas me ajudou a crescer rápido.

A resposta parecia calculada, como se ela quisesse encerrar o assunto. Alex não insistiu, mas sua curiosidade foi despertada. Ele começou a se perguntar se havia mais na história de Lisa do que ela estava disposta a revelar.

Por que alguém deixaria a casa dos pais tão jovem? Teria sido por escolha ou necessidade? Alex sabia que algumas pessoas preferiam não compartilhar detalhes de suas vidas pessoais, mas ele também sabia que tinha uma natureza curiosa e uma vontade quase incontrolável de entender as pessoas ao seu redor.

Lisa o intrigava de uma maneira que poucas pessoas conseguiam. Quando ele conheceu Ben, levou tempo para entender seu jeito reservado e as camadas de complexidade que o definiam. Alex sabia que precisaria da mesma paciência para desvendar Lisa. Enquanto Lisa se levantava para se despedir, Alex sentiu que havia mais por trás de seu sorriso. Algo que ela não estava pronta para compartilhar, mas que a tornava ainda mais fascinante.

— Foi bom conversar com você, Alex. — Disse ela, com um sorriso genuíno desta vez.

— O prazer foi meu, Lisa. E obrigado… Por tudo.

— Cuide bem do Ben. Ele precisa de você tanto quanto você precisa dele.

Essas palavras ficaram na mente de Alex por muito tempo depois que Lisa foi embora. Havia algo nelas, algo no tom de voz dela, que parecia carregar um peso maior do que o momento sugeria. Ele não sabia ao certo o que era, mas uma coisa era clara: Lisa não era apenas a garota simpática e atenciosa que ele imaginava. Ela era um mistério, e Alex não conseguia resistir à ideia de tentar desvendá-lo. Enquanto isso, Ben continuava se recuperando, alheio à nova camada de intriga que Lisa havia deixado para trás.

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