O Palácio Imperial de Asharyn era mais grandioso do que qualquer lugar que Atlas já tivesse visto. Enquanto era conduzido pelos corredores, ele mal conseguia absorver tudo ao seu redor. As paredes eram feitas de mármore branco com veios dourados que brilhavam sob a luz das tochas. Tapeçarias luxuosas pendiam em cada arco, retratando cenas de batalhas, coroações, e os deuses ancestrais do império. No entanto, apesar de sua beleza, havia algo opressor no lugar, como se as pedras carregassem os segredos de séculos de sangue e ambição.
Atlas caminhava em silêncio, seus pulsos ainda marcados pelas algemas que haviam sido removidas apenas momentos antes. Cada passo que dava ecoava pelo chão polido, e ele sentia os olhares dos guardas nos corredores. Eles não o encaravam como uma pessoa, mas como uma ameaça — ou, pior, uma ferramenta.
— Continue andando, prisioneiro — disse um dos guardas que o escoltava, sua voz firme e sem paciência.
Ele não respondeu. Já aprendera, em pouco tempo, que o silêncio era sua melhor armadura.
O grupo parou diante de um grande portão ornamentado com detalhes em ouro. Dois guardas em armaduras completas estavam posicionados ali, cada um segurando uma alabarda que parecia pesada demais para qualquer homem comum. Quando o capitão da guarda, Ser Alden, fez um sinal, as portas se abriram lentamente, revelando uma sala ampla e deslumbrante.
Essa era a Sala de Cristal, o coração do palácio, onde as decisões mais importantes do império eram tomadas. No centro da sala havia um trono feito inteiramente de vidro lapidado, incrustado com pedras preciosas que captavam e refletiam a luz como um caleidoscópio. Mas o trono estava vazio.
Em vez disso, Natrix estava lá, sentada casualmente em um degrau diante do trono. Seus cabelos negros como o ébano estavam soltos, caindo em ondas sobre seus ombros, e ela segurava um pequeno livro nas mãos. Quando o grupo entrou, ela levantou os olhos dourados para eles, com um sorriso malicioso brincando em seus lábios.
— Ah, então o rebelde chegou — disse ela, fechando o livro com um estalo suave.
Atlas a encarou por um momento, avaliando-a. Embora sua postura relaxada pudesse enganar os menos atentos, ele percebeu a tensão nos ombros dela, o modo como seus dedos apertavam o livro com força. Havia algo nela que gritava insatisfação com o mundo ao redor, um espírito rebelde escondido atrás de um véu de elegância.
— Este é Atlas, Alteza — disse Ser Alden, inclinando a cabeça em respeito. — Como ordenado, será designado como seu guarda pessoal.
— Meu guarda pessoal? — Natrix arqueou uma sobrancelha, levantando-se. — E se eu não o quiser?
Alden não pareceu surpreso com a provocação. — Ele foi escolhido pela sua habilidade e por sua... disposição.
Atlas riu internamente. Disposição? Ele fora comprado como um escravo. A única disposição que tinha era lutar pela sua sobrevivência.
Natrix aproximou-se lentamente, seus passos ecoando no chão de cristal. Quando ficou diante de Atlas, seus olhos dourados encontraram os dele, como se estivesse tentando desvendar cada segredo que ele escondia.
— Você tem nome? — perguntou ela.
— Atlas Valoryn. — Sua voz saiu firme, apesar do nó de raiva em sua garganta.
— Valoryn? — Natrix repetiu, surpresa. — Então é verdade. O último herdeiro da casa caída.
Atlas não respondeu, mas o modo como seus olhos endureceram foi suficiente para confirmar.
— Interessante. — Natrix deu um passo para trás, cruzando os braços. — Muito bem, Alden. Vou aceitá-lo... por enquanto.
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As horas seguintes foram um turbilhão para Atlas. Ele foi conduzido a seus aposentos — um pequeno quarto nos fundos da ala dos servos, com uma cama simples e uma única janela que dava para os jardins do palácio. Embora o lugar fosse modesto, era infinitamente melhor do que as celas onde passara os últimos meses.
Ele se jogou na cama, sentindo o cansaço finalmente pesar em seus ossos. Mas o sono não veio. Sua mente estava cheia de perguntas, de memórias. Como sua família havia caído tão rápido? Como ele fora parar ali, vendido como um objeto? E, mais importante, o que a princesa queria com ele?
Enquanto isso, Natrix estava em seus próprios aposentos, uma suíte luxuosa decorada com tons de dourado e azul. Ela estava diante de seu espelho, penteando os cabelos distraidamente.
— Ele é interessante, não acha? — disse ela, mais para si mesma do que para a dama de companhia que arrumava os vestidos no armário.
— Quem, Alteza? — perguntou a jovem.
— Atlas. O novo guarda.
A dama de companhia hesitou antes de responder. — Ele parece perigoso, Alteza. Talvez seja melhor tomar cuidado.
Natrix riu. — Perigoso? Todos aqui são perigosos, minha querida. Isso é o que torna tudo tão divertido.
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No dia seguinte, Atlas foi acordado ao amanhecer por um dos guardas do palácio. Ele foi levado ao campo de treinamento, onde encontrou Ser Alden esperando por ele.
— Se vai proteger a princesa, vai precisar provar que é capaz — disse o capitão, jogando uma espada para Atlas.
O campo de treinamento era amplo, com vários soldados praticando em alvos e manequins de madeira. O som de espadas cruzando e gritos de comando preenchia o ar.
Atlas pegou a espada com uma habilidade que surpreendeu Alden. Ele não era um novato. Antes da queda de sua casa, fora treinado pelos melhores mestres de combate.
— Então mostre o que sabe — disse Alden, posicionando-se para o duelo.
O que se seguiu foi uma batalha intensa. Atlas movia-se como se a espada fosse uma extensão de seu corpo, cada golpe preciso, cada defesa impecável. Alden, apesar de sua experiência, teve dificuldade em acompanhar.
Quando o treino terminou, os outros soldados olhavam para Atlas com respeito — e um pouco de medo.
Mas Atlas não se importava com eles. Ele só pensava na promessa que fizera a si mesmo: um dia, ele encontraria uma maneira de se libertar daquele lugar.
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Enquanto isso, Natrix observava de uma varanda acima. Ela tinha visto o duelo e ficara impressionada, embora não quisesse admitir.
— Talvez ele seja mais útil do que pensei — murmurou para si mesma.
Mas, no fundo, sabia que havia mais em Atlas do que sua habilidade com a espada. Ele carregava um ódio que poderia ser usado... ou que poderia destruí-lo.
E assim, sob os céus nublados de Asharyn, começava a teia de alianças, desconfianças e sentimentos conflitantes entre a princesa rebelde e o homem que já perdera tudo.
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Atualizado até capítulo 35
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