O silêncio da madrugada envolvia o quarto como um manto pesado. Clara encarava o teto, o coração apertado no peito, a mente repetindo a conversa que tivera horas antes com Gabriel. Ele não havia dito as palavras com clareza, mas seus gestos e o desvio constante de olhar entregavam o que ele tentava esconder.
Ela se levantou da cama, sentindo o frio do chão de mármore nos pés descalços, como se aquilo pudesse apagar a dor crescente dentro dela. A noite anterior tinha sido um sonho. O toque de Gabriel, os beijos cheios de promessas, cada sussurro perto de seu ouvido fazia parecer que finalmente, depois de meses de incerteza, as coisas entre eles iam se firmar. Mas hoje, no café da manhã, tudo havia mudado.
"Eu preciso de tempo", ele dissera, a voz vacilante. "Não é sobre você, é sobre mim." As palavras ecoavam na mente de Clara, causando uma pontada aguda a cada repetição. Tempo. Uma desculpa já conhecida, um eufemismo para adeus que ela reconhecia muito bem.
Ela se aproximou da janela, observando as luzes da cidade ao longe. Como era possível que alguém que lhe prometia o mundo na noite passada agora se afastasse, deixando apenas uma névoa de incertezas?
O telefone sobre a mesa vibrou, rompendo o silêncio incômodo do quarto. Era uma mensagem de Gabriel. Clara hesitou por um instante antes de pegar o celular. Cada parte de seu corpo gritava para não abrir a mensagem, para se proteger do que quer que estivesse por vir. Mas a curiosidade e o medo, como sempre, venceram.
"Precisamos conversar. Amanhã à noite. Me encontre no nosso lugar."
Ela ficou imóvel, os olhos presos na tela. O "nosso lugar". Aquele onde tudo começou. As lembranças dos primeiros encontros vieram como uma avalanche: o riso fácil, as mãos dadas sob a mesa, as horas que passavam voando enquanto conversavam sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Mas agora, parecia que aquele lugar seria o palco do fim.
Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, enquanto ela deixava o celular de lado. Clara sabia que, mesmo se Gabriel aparecesse amanhã, o que eles tinham não seria o mesmo. O que havia entre eles estava se dissolvendo lentamente, como fumaça, escorrendo por entre os dedos, e ela estava impotente para segurar.
Clara respirou fundo, tentando manter o controle das emoções que ferviam dentro dela. Ela não queria se permitir desmoronar, não antes de entender tudo o que realmente estava acontecendo. O que Gabriel teria a dizer amanhã? O que ele ainda poderia acrescentar depois de todo o silêncio e evasivas?
Mas por mais que tentasse se convencer de que estava preparada para o pior, o coração dela teimava em manter uma última faísca de esperança. E se ele mudar de ideia? E se tudo isso for apenas um mal-entendido?
Ela se sentou à beira da cama, abraçando os joelhos. Sentia-se pequena, frágil, algo que odiava em si mesma. Clara sempre fora forte, determinada, uma mulher que nunca deixava os outros verem suas fraquezas. Mas Gabriel tinha a habilidade de desarmá-la como ninguém. Ele a fazia se sentir vulnerável e, ao mesmo tempo, intensamente viva.
O dia seguinte chegou devagar. Clara passou a maior parte do tempo evitando olhar o celular, temendo que qualquer notificação pudesse ser uma mensagem cancelando o encontro. O trabalho se arrastou, e cada minuto parecia carregado de tensão. Ela não conseguia se concentrar, sua mente vagava até Gabriel, até a conversa que teria em poucas horas.
Quando o relógio marcou sete da noite, ela finalmente decidiu sair. O "nosso lugar" não ficava longe, mas a caminhada parecia mais longa do que nunca. O vento frio de outubro batia contra seu rosto, mas Clara mal o sentia. Estava anestesiada pela incerteza do que estava prestes a acontecer.
Ao chegar, ela avistou Gabriel sentado em uma das mesas ao fundo do restaurante. Ele parecia abatido, o semblante sério. O coração de Clara deu um salto doloroso no peito. Ela se aproximou, sentindo as pernas pesadas, como se estivesse indo ao encontro de uma sentença.
"Oi", ela disse baixinho ao sentar-se à frente dele.
Gabriel ergueu os olhos, e por um momento, Clara viu a familiaridade de sempre. Aquele olhar que antes a fazia se sentir única agora estava carregado de algo que ela não conseguia decifrar.
"Obrigado por vir", ele respondeu, desviando o olhar logo em seguida. O silêncio entre eles era quase palpável, um abismo crescente que cada palavra não dita parecia aumentar.
"Você disse que queria conversar", Clara quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme.
Gabriel suspirou profundamente, como se estivesse reunindo forças. Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa, as mãos trêmulas.
"Eu não sei por onde começar", ele admitiu. "Nada disso é fácil pra mim, Clara."
Ela sentiu a raiva começar a borbulhar. Não é fácil pra ele? E para ela, então? Como ele podia ser tão egoísta a ponto de agir como se fosse o único sofrendo?
"Eu não posso continuar com isso", Gabriel finalmente disse, a voz cortando o ar. "Eu... eu pensei que poderia, mas não posso. Eu não sou o homem que você merece. Eu preciso me afastar."
Cada palavra parecia um golpe. Clara se esforçou para manter a compostura, mas o nó em sua garganta crescia, dificultando a respiração.
"Então é isso?", ela conseguiu dizer, a voz tremendo ligeiramente. "Você vai simplesmente embora?"
Gabriel passou as mãos pelos cabelos, claramente frustrado consigo mesmo. "Eu não estou fugindo, Clara. Só estou tentando... fazer o que é certo."
Clara não conseguiu conter uma risada amarga. "O que é certo? Abandonar tudo o que construímos é o que você acha certo?"
Ele não respondeu. E naquele silêncio, Clara percebeu a verdade que ela já sabia, mas que se recusava a aceitar: Gabriel havia desistido. O que eles tinham já estava morto, mesmo que ela ainda estivesse lutando para manter as cinzas vivas.
Ela se levantou devagar, sem dizer mais nada. As palavras estavam presas em sua garganta, sufocadas pela decepção. Gabriel não tentou detê-la. Apenas ficou ali, imóvel, observando-a partir. E com cada passo que Clara dava em direção à porta, ela sentia o peso da tristeza transformar-se em algo mais: a fria e dura realidade de que ele nunca voltaria.
Quando a porta do restaurante se fechou atrás dela, o vento frio da noite a atingiu novamente. Mas dessa vez, era um frio que ela podia sentir
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Augusta Bsd
autora !!! por favor estou perdida! estamos falando de Izabel de Elena e de Clara, por um acaso este Gabriel está brincando com Três ao mesmo tempo 🥺 porque se for ele é um crápula 🥺😔😔😔
2024-10-26
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Ana Lucia Borges
nao to entendo o nome dela é Izabel,Elena ou Clara?/Bye-Bye/
2024-10-26
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Livia Pereira
Eu iria sem olhar pra trás, e sumiria no mundo. Nem voltaria pra livraria...outros ares
2024-10-26
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