Entre o Amor e a Razão

Entre o Amor e a Razão

Capítulo 01 - Coração em Chamas

O sol se punha sobre o reino de Royaume lançando um brilho dourado sobre as torres do castelo e tingindo o horizonte com uma mistura de laranja e púrpura. No alto das muralhas, Lucius observava a paisagem, seu coração apertado com o peso de sua decisão iminente. A brisa noturna trazia o perfume das flores do campo, lembrando-o de Ariana, a única pessoa que conseguia acalmar a tempestade dentro de si.

Com o casamento se aproximando, o castelo estava em frenética preparação. Os servos corriam de um lado para o outro, adornando os corredores com tapeçarias e preparando o grande salão para a celebração. Entretanto, enquanto o reino se alegrava com a futura união entre Lucius e Sofia, o príncipe sentia um nó se formar em sua garganta. A lembrança de Ariana, de seus olhos brilhantes e sorriso sincero, era a única coisa que ainda lhe trazia conforto.

Lucius sabia que o dever o chamava, que seu casamento com Sofia garantiria a aliança entre Royaume e os reinos vizinhos. Mas a ideia de viver uma vida sem amor, de trair seu coração e o de Ariana, era uma dor que ele não estava certo de poder suportar. Perdido em seus pensamentos, ele mal notou quando Sofia se aproximou, sua presença graciosa interrompendo sua solidão.

— "Lucius," ela disse suavemente, a sua voz carregada de uma mistura de doçura e determinação.

— "O que o preocupa tanto que mesmo em um momento de tanta alegria para o reino, seu semblante está tão sombrio?"

Lucius forçou um sorriso, escondendo a verdade por trás de palavras cuidadosas.

— "Nada que o tempo não resolva, minha princesa. Apenas os fardos de um futuro rei."

Sofia o observou, seus olhos perspicazes não deixando escapar as nuances de suas emoções. Ela havia notado há semanas a distância entre eles, o olhar vazio que ele lhe dirigia quando pensava que ela não estava atenta. E embora Lucius fosse um mestre em ocultar seus sentimentos, Sofia não era uma tola.

— Você pode me confiar seus pensamentos, Lucius. Sei que nossa união não foi uma escolha sua, mas juro que farei de tudo para que você seja feliz ao meu lado," ela continuou, aproximando-se mais, buscando seu olhar.

Lucius hesitou, sentindo o peso das palavras de Sofia. Ela era, de fato, uma mulher formidável, e em outras circunstâncias, ele talvez pudesse aprender a admirar. Mas seu coração estava enraizado em outro lugar, em outra pessoa.

— "Eu agradeço, Sofia," ele respondeu, "mas há coisas que um príncipe deve carregar sozinho."

Antes que Sofia pudesse responder, um servo apareceu à distância, chamando Lucius para uma reunião urgente com o rei. Lucius viu nisso uma oportunidade para escapar daquela conversa que se tornava cada vez mais insuportável. Ele se despediu de Sofia com um leve aceno de cabeça e desceu rapidamente as escadas de pedra, seu coração martelando em seu peito.

À medida que as horas avançavam, Lucius se encontrava no estábulo real, onde um cavalo já estava selado e à espera. Ele sabia que Ariana estaria na clareira, onde eles sempre se encontravam. Era um risco grande, maior do que qualquer outro que já havia corrido, mas ele precisava vê-la, precisava sentir seus braços em torno de si, mesmo que fosse pela última vez.

Os galopes do cavalo ecoavam pela floresta enquanto Lucius cavalgava sob a luz da lua crescente. Cada batida de seu coração o levava mais longe do dever e mais perto do amor, até que finalmente avistou a figura de Ariana à beira do rio, sua silhueta iluminada pela prata da lua. Ao vê-lo, ela correu para ele, e por um breve momento, tudo parecia certo no mundo.

— Lucius," ela murmurou, enquanto ele a segurava firme, "Não podemos continuar assim. É perigoso demais."

— "Eu sei," ele respondeu, a sua voz entrecortada pela emoção.

— "Mas o que somos nós se não arriscarmos tudo pelo que sentimos? O que sou eu, Ariana, sem você?"

Ela olhou-o, os seus olhos refletindo a dor e a paixão que os uniam.

— "E se formos descobertos? Você sabe o que isso significa."

— "Prefiro morrer te amando do que viver sem jamais ter experimentado o que é realmente viver", Lucius disse, com a certeza de um homem que já havia feito a sua escolha.

— "Mas nós ainda temos uma chance. Vou falar com meu pai, vou implorar que nos deixe partir juntos. Se não puder fazer isso por mim como príncipe, ele talvez faça por mim como seu filho."

Ariana sabia que essa era uma esperança frágil, quase impossível, mas não tinha forças para negar a si mesmo o sonho que compartilhavam.

— "Se isso falhar, Lucius...?"

Lucius segurou o seu rosto com ambas as mãos, olhando profundamente nos seus olhos.

— "Se isso falhar, então que sejamos nós dois contra o mundo. Que o destino nos julgue como quiser, mas eu não abandonarei o que sinto por você."

O peso das palavras pairava sobre eles enquanto se abraçavam sob a luz da lua. A decisão estava tomada, e o que viesse depois seria enfrentado juntos, seja o trono ou a forca. Lucius sabia que o momento da verdade se aproximava, e com isso, o destino de todos em Royaume .

Mas naquela noite, pelo menos, o amor prevalecia, e no calor daquele abraço, os dois amantes encontraram a coragem que precisariam para desafiar o mundo.

Lucius voltou para o castelo antes do dia amanhecer para não ser pego pelos guardas ou por seu pai descobrindo que o filho não havia dormido nos seus aposentos.

O dia amanhecia com uma neblina densa que cobria os campos de Royaume, como um véu escondendo segredos sombrios. Nas aldeias, os camponeses começavam suas rotinas diárias, enquanto o castelo permanecia em silêncio, como se sentisse a tensão crescente que pairava no ar.

No entanto, Sofia, a princesa prometida ao príncipe Lucius, já estava acordada há horas, preparando-se para o que seria um dos encontros mais difíceis de sua vida. Ela havia descoberto o nome da camponesa que ocupava os pensamentos de Lucius: Ariana. E hoje, Sofia não deixaria essa questão sem resposta. Ela estava determinada a confrontar a mulher que ameaçava destruir sua união e o destino do reino.

Sofia vestiu um manto simples, dispensando os trajes luxuosos da realeza, para não atrair atenção enquanto saía do castelo. Ordenou que sua carruagem a levasse até o vilarejo onde Ariana morava, mas a uma distância segura para que pudesse caminhar sozinha até o destino final. Sofia não queria que ninguém testemunhasse o que estava prestes a acontecer.

Caminhando pela floresta, Sofia sentiu a umidade das folhas sob seus pés, o silêncio da natureza sendo quebrado apenas pelo som ocasional dos pássaros. Seu coração batia mais rápido a cada passo, mas ela mantinha sua expressão fria e determinada. Não era medo que a motivava, mas a necessidade de proteger seu futuro, o futuro de Royaume.

A clareira finalmente apareceu à sua frente, um espaço aberto e tranquilo, onde Ariana costumava recolher ervas e flores. Sofia a avistou, ajoelhada ao lado de um pequeno riacho, sua cesta já cheia de flores silvestres. A visão da jovem camponesa, tão simples e serena, acendeu algo dentro de Sofia – não raiva, mas uma compreensão sombria de que essa mulher tinha o que ela, com todo seu poder e riqueza, talvez nunca tivesse: o coração de Lucius.

Ariana sentiu uma presença se aproximar e ergueu o olhar, surpresa ao ver uma mulher tão bem vestida e, ao mesmo tempo, desconhecida. Levantou-se lentamente, segurando a cesta contra o peito, enquanto o olhar de Sofia permanecia fixo nela.

— "Você é Ariana, não é?" A voz de Sofia era firme, mas carregava uma tensão subjacente.

Ariana hesitou antes de responder, os seus olhos buscando alguma pista de quem era aquela mulher.

— "Sim, sou eu. Quem é você?"

Sofia respirou fundo, revelando a verdade sem rodeios.

— "Eu sou Sofia, a noiva prometida de Lucius."

Ariana sentiu o chão tremer sob os seus pés, como se o mundo tivesse parado por um momento. O nome que ela temia ouvir, a mulher que ela sabia existir, mas que até então era apenas uma sombra distante, estava ali, em carne e osso, diante dela.

— "O que você quer comigo?"

Sofia deu alguns passos à frente, sua postura imponente, mas sem qualquer hostilidade visível.

— "Eu vim porque sei o que há entre você e Lucius. Eu não sou cega, Ariana. Vejo como ele muda quando está longe de mim, como seu olhar se perde em algo que está além do meu alcance. E esse algo... é você."

Ariana sentiu o seu coração disparar, mas manteve a calma.

— "Lucius é um bom homem, mas ele tem deveres para com o reino. Você sabe disso."

— "Sei, respondeu Sofia, sua voz agora mais suave, mas ainda carregada de uma força interior.

— "Mas o que eu quero saber é... você realmente acha que pode amá-lo, sabendo o que ele deve sacrificar por estar com você? Você pode lidar com o fato de que, ao escolher você, ele pode destruir tudo pelo que ele nasceu para lutar?"

As palavras de Sofia eram uma faca afiada, cortando diretamente através das dúvidas que Ariana já carregava. O amor que ela sentia por Lucius era inegável, mas as implicações desse amor... essas eram as correntes que pesavam sobre seu coração todos os dias.

— "Eu amo-o," respondeu Ariana, sem hesitar, mas com a voz trêmula.

— "E esse amor não é algo que escolhi. Ele cresceu em mim, e agora faz parte de quem eu sou. Mas eu sei o que está em jogo. Sei que, se ele escolher a mim, não haverá um final feliz para nós dois."

Sofia observou-a em silêncio, admirada pela honestidade crua nas palavras de Ariana. Ela havia esperado encontrar uma rival obstinada, uma mulher determinada a lutar por Lucius a qualquer custo. Mas o que viu foi alguém tão presa às suas próprias correntes quanto ela mesma.

— "Eu não vim aqui para ameaçar, . Ariana disse Sofia, a sua voz suavizando-se ainda mais.

— "Eu vim para entender. Eu vim para saber se o que há entre você e Lucius é realmente tão forte que vale a pena destruir tudo pelo que ele foi criado. E se for... então talvez eu precise reconsiderar meu próprio papel nesta história."

Ariana ficou em silêncio, sem saber como responder. Havia verdade nas palavras de Sofia, uma verdade que ela mesma temia admitir. Ela sabia que, por mais que amasse Lucius, esse amor poderia trazer a ruína para todos.

— "Você o ama?" Ariana finalmente perguntou, sua voz pequena, quase inaudível.

Sofia respirou fundo, a pergunta atingindo-a como um golpe inesperado. Ela pensou nas muitas noites em que ficou acordada, tentando imaginar um futuro ao lado de Lucius. Ela admirava sua força, sua inteligência, e sim, havia um sentimento crescendo dentro dela, algo que poderia se transformar em amor, se o tempo permitisse.

— "Estou a aprender a amá-lo," Sofia admitiu, com uma franqueza que surpreendeu a ambas.

— "Mas o que mais importa agora é que eu o respeito. E respeito o reino que ele está destinado a governar. Se você realmente o ama, então você entenderá que há momentos em que o amor deve se sacrificar pelo bem maior."

Ariana fechou os olhos por um momento, sentindo o peso dessas palavras. Quando os abriu novamente, havia lágrimas ali, mas também uma resolução.

— "Se ele escolher você, Sofia... se ele escolher o reino, eu aceitarei isso. Não é o que meu coração deseja, mas é o que precisa ser feito."

Sofia assentiu, reconhecendo a força daquela jovem camponesa. Ela não tinha vindo ali para vencer uma batalha, mas para compreender a guerra que estava sendo travada dentro do coração de Lucius. Agora, ela sabia que, independentemente de quem Lucius escolhesse, as correntes que os prendiam seriam difíceis de quebrar.

Elas se separaram na clareira, cada uma voltando ao seu respectivo destino. Sofia, ao castelo, onde o peso de suas responsabilidades a aguardava. Ariana, à sua vida simples, onde o amor proibido continuaria a arder como uma chama que, mesmo na escuridão, nunca se apagaria completamente.

O sol havia subido, dissipando a neblina, mas para Sofia e Ariana, o caminho à frente permanecia envolto em sombras.

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Comments

Liz

Liz

nossa nesse momento eu sinto pena dos três pois a Sofia gosta dele,ele gosta de outra e a outra é pobre e vai ser a que mais pode perde nesta história,tomara que tudo fique bem

2024-09-21

1

Vicki Hungria

Vicki Hungria

Eita Meu Deus sei q a escolha é difícil mais espero que o Lucius toma a decisão certa... 🤦🏻‍♀️😰

2024-08-25

2

pascoal victor

pascoal victor

olha escolha difícil, mas antes do amor vem a responsabilidade.

2024-08-25

2

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