O Casamento

Apesar de todos os esforços de Misty para adiar ou cancelar o casamento, o tempo parecia ter acelerado, e o dia que ela tanto temia chegou mais rápido do que imaginava. A pressão política e a insistência dos anciões em uma solução imediata prevaleceram sobre suas tentativas de encontrar uma alternativa pacífica para unir os dois reinos. Quando a notícia chegou de que o casamento aconteceria conforme o planejado, Misty foi consumida por um desânimo profundo. No entanto, ela sabia que agora precisava enfrentar a realidade com dignidade, mesmo que fosse contra sua vontade.

O dia do casamento amanheceu envolto em uma atmosfera de tensão e expectativa. Os jardins do palácio estavam esplendidamente decorados com flores de todas as cores, as luzes cintilantes penduradas nos galhos das árvores davam um toque mágico ao ambiente, como se estivessem tentando esconder a frieza da aliança que estava prestes a ser forjada. Convidados de ambos os reinos, elfos e tieflings, estavam presentes, observando ansiosamente a união de dois mundos que, por tanto tempo, haviam se mantido à distância, desconfiados um do outro.

Misty estava em seus aposentos, sendo preparada para a cerimônia por suas damas de companhia. O vestido que usava era uma obra-prima: feito de seda branca, bordada com fios dourados que brilhavam à luz das velas, ele abraçava sua figura com elegância, mas Misty se sentia aprisionada dentro dele. Cada laço apertado parecia tirar um pouco mais de seu ar, como se a cada nó dado, ela estivesse sendo mais amarrada a um destino que não escolheu.

—Está linda, princesa,— disse Lyra, uma de suas damas de companhia, com um sorriso gentil, tentando confortá-la. —Lembre-se de que todos estamos torcendo por você.

Misty deu um sorriso fraco para Lyra, mas seus olhos dourados, normalmente cheios de vida, estavam opacos. —Obrigada, Lyra. Espero que tudo isso valha a pena no final,— respondeu, tentando manter a voz estável, embora o peso da situação a estivesse esmagando por dentro.

A música suave começou a tocar, indicando que era hora de Misty se dirigir ao grande salão onde a cerimônia aconteceria. Cada nota que ouvia parecia uma batida em seu coração, lembrando-a do inevitável que se aproximava. Lyra e as outras damas a guiaram até a entrada do salão, onde ela parou por um momento para respirar fundo e acalmar os nervos. Fechou os olhos, tentando encontrar alguma força interior para enfrentar o que estava por vir.

Quando as portas se abriram, revelando o grande salão, Misty deu os primeiros passos. À sua frente, Samuel já estava parado, esperando por ela com uma postura firme, os ombros tensos como se também carregassem o peso daquela união. Ele estava vestido com trajes formais, em tons de preto e prata, que contrastavam com sua pele vermelha e chifres curvos. A expressão séria em seu rosto apenas acentuava a estranheza daquela situação.

Conforme Misty caminhava pelo corredor decorado com pétalas de flores, podia sentir os olhares dos convidados fixos nela. Havia sussurros, murmúrios baixos que se entrelaçavam com a música suave, mas ela manteve a cabeça erguida, focando apenas no altar à sua frente. O longo véu branco arrastava pelo chão atrás dela, como uma sombra que a perseguia. Quando finalmente chegou ao lado de Samuel, ele estendeu a mão para ela. Hesitante, ela aceitou, sentindo a firmeza do aperto dele, que era surpreendentemente reconfortante, embora sua mente ainda resistisse à ideia daquele casamento.

O sacerdote, uma figura imponente com vestes cerimoniais que brilhavam à luz das tochas, começou a cerimônia. Suas palavras ecoavam pelo salão, falando sobre a união de duas almas e dois reinos, sobre a importância do sacrifício e da aliança para o bem comum. Misty, no entanto, mal conseguia prestar atenção. Sua mente estava longe, vagando entre o presente e as esperanças frustradas que a acompanhavam desde o início dessa jornada. Ela se perguntava se algum dia conseguiria encontrar paz em meio a tudo aquilo.

Quando chegou o momento de trocar os votos, Samuel foi o primeiro a falar. Ele segurou a mão de Misty e a olhou nos olhos, seu rosto sério, mas os olhos negros revelando uma sinceridade que a surpreendeu.

—Misty,— começou ele, sua voz firme mas com um tom de gentileza que ela não esperava, —embora este casamento tenha começado como uma aliança política, prometo a você que farei o meu melhor para ser um parceiro digno e respeitoso. Espero que, com o tempo, possamos encontrar amizade e talvez até amor, mesmo que o início tenha sido difícil para nós dois.

Misty respirou fundo, lutando para controlar a tempestade de emoções que fervia dentro dela. Ela olhou para Samuel, tentando enxergar além do tiefling que fora forçada a aceitar como marido. —Samuel, aceito ser sua esposa,— respondeu, sua voz baixa, quase um sussurro. —Espero que possamos encontrar um caminho juntos, mesmo em meio às dificuldades.

Com os votos trocados, o Alto Sacerdote declarou-os marido e mulher. O salão explodiu em aplausos e murmúrios de aprovação, mas para Misty, o som parecia distante, como se estivesse submersa em água, abafada por suas emoções conflitantes. Samuel se inclinou e beijou suavemente sua testa, um gesto que Misty apreciou pela delicadeza, mas que não conseguia dissipar a resistência que ainda sentia em seu coração.

Após a cerimônia, a recepção foi uma exibição esplêndida de comida, música e dança. Os convidados de ambos os reinos celebravam, como se estivessem testemunhando o início de uma nova era de paz e prosperidade. Samuel tentou incluir Misty nas conversas e celebrações, mas ela permanecia distante, com um sorriso educado no rosto e uma tristeza profunda escondida em seus olhos dourados. Sentia-se deslocada, como se estivesse observando tudo de fora, presa em uma vida que ela não havia escolhido.

Enquanto a noite avançava, Misty se retirou para um canto mais isolado do salão, observando a festa de longe. A música e as risadas ecoavam ao seu redor, mas ela estava perdida em seus pensamentos, refletindo sobre o que o futuro reservava para ela. Sabia que, embora o casamento tivesse acontecido, sua batalha interna estava apenas começando. O que ela faria a partir daquele momento? Como poderia encontrar alguma felicidade em uma união que lhe fora imposta?

Samuel se aproximou dela silenciosamente, trazendo uma taça de vinho para lhe oferecer. Ele a olhou com um semblante de compreensão, mas também de incerteza. —Misty,— começou ele, sua voz suave, mas cheia de determinação, —eu sei que este não é o começo que você esperava, mas estou aqui, ao seu lado. Vamos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar, juntos. Eu prometo que farei o meu melhor para que você não se arrependa dessa decisão.

Misty olhou para Samuel, vendo a sinceridade em seus olhos negros, e por um breve momento, permitiu-se imaginar que talvez houvesse uma possibilidade de encontrar um caminho. —Obrigada, Samuel,— respondeu, com um leve aceno de cabeça. —Só o tempo dirá se podemos fazer isso funcionar. Por enquanto, só posso esperar que o tempo suavize a resistência que sinto em meu coração e traga uma nova compreensão entre nós.

Ela sabia que o futuro era incerto, mas com Samuel ao seu lado, talvez ela pudesse encontrar uma maneira de transformar essa aliança política em algo mais significativo, algo que poderia, eventualmente, trazer a paz que ela tanto desejava para si mesma e para seus reinos.

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