Naquela noite, Misty não conseguiu pregar o olho. As imagens do dia se repetiam em sua mente, uma após a outra, como um ciclo interminável. A conversa com Samuel, embora surpreendentemente agradável, não apagava a sensação de aprisionamento que ela sentia. Um casamento arranjado. A ideia de ter seu destino selado por razões políticas, sem consideração por seus próprios sentimentos, era simplesmente insuportável. Ela se revirava na cama, lutando para encontrar uma maneira de escapar dessa armadilha.
Quando a primeira luz do amanhecer penetrou pelas janelas de seu quarto, Misty já estava decidida. Não iria simplesmente aceitar o que lhe era imposto. Sabia que precisava agir e que deveria agir rápido. A única esperança que lhe restava era buscar o conselho dos anciões, os mais sábios e respeitados do reino. Se ela conseguisse convencê-los a se opor ao casamento, seus pais teriam que reconsiderar.
Com o coração acelerado, Misty se vestiu rapidamente e saiu do quarto. A manhã ainda estava tranquila, o palácio de Eldoria despertando lentamente para mais um dia. Enquanto caminhava pelos corredores de pedra, a determinação crescia dentro dela. O salão onde os anciões se reuniam ficava em uma ala mais antiga do palácio, um lugar que emanava história e tradição. As paredes estavam cobertas de tapestries antigas que contavam as histórias dos grandes feitos dos elfos e de suas alianças passadas.
Quando ela chegou à porta do salão, tomou um momento para respirar fundo e se preparar. Era agora ou nunca. Com uma leve batida na porta, ela foi recebida pelo ancião Bryn, um elfo de longos cabelos prateados e olhos que pareciam enxergar através da alma.
—Senhora Misty,— saudou ele, com uma voz serena. —O que a traz aqui tão cedo?
Misty entrou no salão, sentindo o peso dos olhares dos outros anciões que estavam reunidos ao redor de uma grande mesa de madeira entalhada. Ela sabia que esse grupo tinha o poder de influenciar as decisões reais. —Senhor Bryn,— começou ela, tentando manter a voz firme apesar do nervosismo. —Preciso falar com o conselho sobre o casamento arranjado com Samuel, o tiefling. Acredito que esse casamento não é a melhor solução para nosso reino.
Os anciões trocaram olhares e murmuraram entre si, intrigados pela declaração de Misty. Bryn levantou a mão, silenciando o grupo, e então voltou seu olhar penetrante para a princesa. —Explique suas razões, princesa. Estamos aqui para ouvir.
Misty respirou fundo, buscando força em suas convicções. —Entendo a importância de formar alianças, mas acredito que forçar um casamento não resolverá os problemas que existem entre nossos povos. Há séculos, os elfos e os tieflings vivem em desconfiança e medo mútuos. Forçar uma união entre Samuel e eu não mudará esses sentimentos, e temo que possa até agravá-los. Além disso, é injusto tanto para mim quanto para Samuel sermos usados como peças políticas, sem consideração por nossos próprios desejos.
Os anciões escutaram atentamente, suas expressões sérias, mas não hostis. Bryn coçou o queixo, refletindo sobre as palavras de Misty. —Você está propondo outra solução para unir nossos povos?
—Sim,— respondeu Misty, animada ao perceber que eles estavam dispostos a ouvir. —Podemos iniciar um programa de intercâmbio cultural entre os elfos e os tieflings. Tieflings poderiam vir a Eldoria para viver e trabalhar conosco, e elfos poderiam fazer o mesmo em sua terra natal. Podemos organizar eventos, como festivais e competições, que promovam a amizade e a compreensão mútua. Com o tempo, acredito que essa aproximação natural criará uma base mais sólida de confiança entre nossos povos.
Os anciões murmuraram entre si novamente, discutindo a proposta. A ideia de Misty, embora inovadora, não era uma solução imediata, e ela sabia disso. Finalmente, Bryn assentiu lentamente. —É uma proposta interessante, princesa. Mas devemos considerar o tempo e os recursos que isso exigirá. O casamento é uma solução mais imediata e concreta.
Misty sentiu um aperto no coração. Sabia que sua ideia levaria tempo para ser implementada e para mostrar resultados. Ela não queria que o casamento fosse a solução, mas também sabia que não tinha muitas opções. —Peço apenas que considerem minha proposta e, pelo menos, adiem o casamento. Dêem-nos tempo para explorar alternativas que possam ser mais benéficas para todos.
Os anciões trocaram mais alguns olhares ponderados antes de Bryn finalmente responder. —Vamos discutir sua proposta com seriedade, princesa. Avisaremos nossa decisão em breve.
Desanimada, mas não derrotada, Misty saiu do salão dos anciões. Sabia que, mesmo que eles levassem sua ideia em consideração, o tempo não estava a seu favor. Ela precisava de mais apoio, de mais aliados que pudessem ajudá-la a convencer seus pais. Com isso em mente, ela decidiu visitar várias casas nobres do reino. Talvez, se conseguisse ganhar a simpatia de alguns deles, pudesse reunir força suficiente para mudar o rumo dos acontecimentos.
Misty passou o dia inteiro visitando aliados potenciais. Explicou sua situação, apresentou suas preocupações e suas propostas para alternativas ao casamento. Alguns nobres foram simpáticos e compreensivos, mas a maioria estava mais interessada nas vantagens políticas que a aliança com os tieflings poderia trazer. Para muitos, o casamento arranjado era uma oportunidade de fortalecer o reino, e não viam razão para interromper os planos.
Cansada e frustrada, Misty finalmente voltou ao palácio. Ela sabia que estava ficando sem opções. Havia apenas uma pessoa com quem ela ainda não falara: Samuel. Talvez, se ele também se opusesse ao casamento, eles poderiam, juntos, convencer seus pais a reconsiderar. Determinada a tentar essa última carta, Misty foi ao jardim onde se encontraram pela primeira vez.
Quando chegou, Samuel estava lá, contemplando as flores com uma expressão pensativa. Ele se virou ao ouvir seus passos, e sua expressão mudou para uma de preocupação ao ver o semblante sério de Misty.
—Samuel, preciso falar com você,— disse Misty, sem rodeios. Sua voz estava cheia de urgência. —Sei que você deseja unir nossos povos, mas um casamento forçado não é o caminho certo. Eu propus alternativas ao conselho dos anciões. Sugeri um programa de intercâmbio cultural, onde nossos povos poderiam aprender a confiar um no outro de forma natural, sem a necessidade de um casamento arranjado. Eu vim pedir seu apoio nessa decisão. Talvez, juntos, possamos convencer nossos pais a adiar ou cancelar o casamento.
Samuel olhou para Misty com uma expressão séria, mas havia compreensão em seus olhos. —Entendo suas preocupações, Misty. Também acredito na importância desta aliança, mas não quero que nenhum de nós seja infeliz. Se houver uma maneira de alcançar nossos objetivos sem forçar este casamento, estou disposto a tentar. Vamos trabalhar juntos nisso.
Misty sentiu uma onda de alívio e esperança renovada ao ouvir essas palavras. Pela primeira vez, ela sentiu que ela e Samuel estavam verdadeiramente no mesmo time. Sabia que a jornada à frente seria difícil e que precisariam enfrentar muitos obstáculos, mas estava determinada a lutar por sua liberdade e por um futuro melhor, tanto para si mesma quanto para Samuel. Se pudessem unir seus esforços, talvez conseguissem transformar essa situação em algo que ambos pudessem aceitar e até abraçar.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Lua Santos
Será que o conselho vai aceitar a proposta dela?
2024-08-06
2
pascoal victor
vixe será que vai ser assim vejo dificuldades diante desse conselho
2024-08-06
1
Brennda Germany's
/Awkward//Scream//Grimace/
2024-08-06
2