Cap.05 HELENA

Eu simplesmente não consigo parar de chorar. Acabei de descobrir que o meu marido está de caso com alguém. 

Estou me sentindo um lixo! Alguém totalmente descartável e sem valor. Como ele pôde?  Temos pouco tempo de casados. 

Acreditei que o nosso amor era para sempre! Sempre quis um amor como o dos meus pais. Na adolescência quando comecei a suspirar pelos meninos, sempre procurava, as características do meu pai nos garotos, claro que nunca encontrei. 

Minha irmã gêmea Heloísa, sempre me disse para parar de sonhar acordada, que um amor daquele só se encontra uma vez na vida. 

Que na nossa família já existiam três amores assim. A vovó e o vovô, tio Enrico e a tia Diana e a mamãe e o papai. Que a sorte já tinha batido na nossa família, que não aconteceria de novo. Mas eu sempre fui a sonhadora, a chorosa da família. Aquela que desde pequena acredita em contos de fada.

Acreditei de todo coração que ia encontrar o amor. E quando conheci o Mark, me apaixonei perdidamente por ele. No começo parecia que ele não tinha me notado. Eu estava no segundo ano de faculdade e ele já era veterano. Tínhamos amigos em comum. 

Mas ele foi me notando e se aproximou de mim. Começamos a namorar, ele terminou a faculdade e estava procurando emprego eu pedi ao meu pai que lhe desse uma oportunidade. Meu pai não queria colocá-lo na nossa empresa, disse que era melhor não misturar, pois se o relacionamento não desse certo, ele não ia querer olhar para a cara do ex da filha. 

Então ele arrumou a vaga para ele em uma empresa de um amigo em Nova York. Eu sei que ele fez isso para nos afastarmos, o meu pai nunca foi com a cara dele. Mas o Mark aceitou a oferta e se mudou para Nova York.  

No começo enquanto eu terminava a faculdade, namorávamos nos finais de semana, ele vinha para Miami, ou eu ia para Nova York. Assim que me formei ele me pediu em casamento. 

Acreditei que foi o dia mais feliz da minha vida. Antes de me casar eu soube que o meu pai investigou a vida dele, mas não encontrou nada que ele pudesse usar para me dissuadir do casamento. Eu estava feliz! Em uma bolha de felicidade que não via mais nada, a não ser ele. Nos casamos e fui viver com ele em Nova York. 

No começo era tudo maravilhoso, ele era atencioso comigo, e aquela atenção para mim era amor. Eu estava feliz e a minha felicidade ficou completa quando eu descobri que estava grávida. Ele não me pareceu entusiasmado com o bebê, como eu fiquei. Mas aos poucos parece que aceitou. Eu nunca desconfiei que ele me traía. Até que numa festa dos amigos dele, que ele não queria que eu fosse, eu bati o pé, coisa que nunca fazia, era sempre do jeito dele, eu não queria arrumar nenhum tipo de conflito com ele, mas dessa vez eu não me deixei ser manipulada.

Sobre protestos dele, nós fomos a essa festa juntos. Os amigos dele pareciam desconfortáveis comigo, estranhei que ninguém naquela festa me olhasse nos olhos. Eles encaravam a minha barriga, era como se acabassem de descobrir que eu teria um bebê. Será que ele não contou a ninguém sobre o filho?

Ele nunca foi em uma consulta comigo, nem em nenhum ultrassom. Dizia que estava muito ocupado. Mas não falar a ninguém sobre o bebê? Era estranho!

Não demorou muito e ele me deixou sozinha na festa, nenhum dos amigos ou amigas dele se aproximou. Eu estava me sentindo desconfortável com aquilo, não deveria ter ido a essa festa. Levantei do lugar, onde estava sentada desde o começo da festa é fui ao banheiro. 

Estava no reservado quando ouvi duas mulheres conversando. 

Você sabia que o Mark era casado?

Não tinha ideia! E a mulher está grávida!

Com certeza a Emilly não sabe!

Foi um choque para todos, quando eles entraram no salão. 

Eu estou me sentindo péssima! Fui eu que incentivei a Emilly a aceitar namorar com ele.

Eu também! Não consegui olhar na cara da mulher dele! Coitada! 

Eu nem sei de quem eu tenho mais pena, se é dela, ou da Emilly. 

Dela com certeza, a Emilly não leva esse namoro muito a sério. 

E quem vai ter coragem de contar para ela?

Para a Emilly? Eu não vou! 

Mas se ela souber que a gente sabia, acabou a amizade. 

E não se esqueça de que ela é minha chefe. Eu não posso esconder isso dela.

Assim que ela voltar das férias eu conto! Ou ela sai da empresa ou ele sai. Os dois não vão poder ficar na mesma empresa. 

Ouço uma terceira pessoa entrar no banheiro. E coloco a mão na boca para ninguém ouvir os meus soluços, a dor corta o meu coração. 

Sabia que ia encontrar vocês aqui! Vieram fofocar sobre o elefante branco na sala. Que bomba! O Mark, casado. 

Nós estávamos discutindo quem irá contar para a Emilly. 

Não sejam ingênuas! Ela sabe. 

Acho que não!

Como explicar que ele nunca passa a noite no apartamento da namorada? Qual a mulher que não iria desconfiar e descobri o porquê dele não passar a noite? Com certeza ela sabe! Só que não está nem aí!

Eu conheço a Emilly,  ela não é assim! Você está sendo maldosa.

Veremos se estou certa.

As três saem do banheiro e eu deixo as lágrimas caírem dos olhos. 

Meu Deus! Será que é verdade? Preciso descobrir! Meu coração está em pedaços. Não posso acreditar! Quantas vezes eu ouvi ele dizer que me ama? Será que me enganei? E nosso casamento é uma farsa? Mentiroso! Mas eu vou descobrir. 

Lavei o rosto e coloquei um sorriso na cara e sai do banheiro, uma mulher me olhou de olhos arregalados quando me viu sair do banheiro. Acho que entendeu que eu estava lá e ouvi tudo. Ela procura o Mark com os olhos pelo salão e olha para mim de novo. Ela acredita que vou fazer um escândalo, eu coloco o meu dedo sobre os lábios pedindo silêncio, ela balança a cabeça que entendeu.

Arrumo uma desculpa que estou com dor e peço que ele me leve para casa. Saímos da festa juntos e ele está no celular, será que está mandando mensagem para ela?

Chegamos na porta e ele não pede o carro ao manobrista. Olho para ele sem entender. 

Mark_ Eu não posso ir embora agora. Tenho que falar com algumas pessoas do trabalho. Por isso chamei um carro para você no aplicativo. 

Helena _ Quer dizer que você vai deixar a sua mulher, grávida de sete meses, com dor, ir para casa sozinha, porque têm que falar com algumas pessoas?

Mark_ Por favor querida, entenda. É uma oportunidade no trabalho que não posso deixar passar.

Helena _ Está certo! O que é mais importante que o trabalho?

O carro chega e eu entro, vou chorando o caminho todo, até o motorista se preocupa mais comigo do que o meu marido. Eu agradeço e entro em casa. Vou para o chuveiro e deixo a água morna lavar as minhas lágrimas. Quando ele finalmente chega eu finjo que estou dormindo. Ele se deita e em menos de um minuto já está roncando. Não me tocou e nem ao menos se preocupou em saber se eu estava com dor ainda.

Na manhã seguinte depois de passar a noite em claro chorando, ouço quando ele se levanta e depois de se arrumar sai para trabalhar sem nem sequer falar comigo. 

Levanto depressa e me arrumo em tempo recorde, pega a minha bolsa e as chaves do meu carro e resolvo seguí-lo. Ele não vai para o trabalho e sim para um prédio. Fala com o porteiro e sobe. Eu fico no carro chorando igual uma idiota enquanto ele se diverte com a vagabunda.

Mas a coisa foi rápida, ele ficou lá menos de quinze minutos. Saiu visivelmente contrariado, entrou no carro e se foi. 

Eu esperei no carro e quando uma moradora entrou com dois cachorros e um saco de compras eu entrei junto, ofereci ajuda com as compras, já que ela estava atrapalhada com os cachorros brigando. Entrei no elevador com ela e ela me perguntou qual o andar.

Helena _ Droga! Eu fui te ajudar com as compras e não perguntei ao porteiro qual era o andar e apartamento da minha amiga. 

Ela se chama Emilly, a senhora conhece?

Senhora_ Sim, é minha vizinha de porta. Ela adora os meus cachorros.

Nós descemos e ela me mostra o apartamento. Eu toco a campainha antes que me arrependa.

Helena

( Foto tirada da Internet)

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