Primeira Impressão

Bruna:

   Aí que ódio!

Eu toda empolgada, feliz da vida por estar apresentando meu primeiro projeto, e a única coisa que ele diz é: “Foi o suficiente.”

Como assim suficiente? Isso é bom ou ruim?

E ainda veio com a crítica de que preciso melhorar o vocabulário... Gente, será que falei alguma gíria? Nem lembro mais. Me deu um branco total.

Respira, Bruna.

Foi só a primeira etapa. O projeto foi aprovado pelo CEO, mas ainda faltam os clientes. Não adianta nada se o Colatto aprovar e os clientes não gostarem. Não serei uma arquiteta de sucesso se não conquistar o público.

Me joguei na cadeira e pedi um café. Ainda faltavam duas horas para a próxima reunião, e eu precisava me acalmar.

— Com licença, senhorita Bruna, aqui está o seu café.

— Pode entrar. Você é...? — perguntei, erguendo os olhos com curiosidade.

— Fernanda. Sou secretária do senhor Colatto... Mas acabo ajudando todo mundo, rs.

— Mas assim você fica sobrecarregada!

— Ele ainda não percebeu isso. Mas a vida não é um conto de fadas e eu tenho contas pra pagar. Não dá pra reclamar muito, né? Tem muita gente desempregada por aí.

— Verdade... Foi um prazer te conhecer. Mas não vou te atrapalhar mais. Obrigada pelo café.

 Fernanda saiu da sala, e pela primeira vez desde que entrei naquela empresa, senti um pouco de leveza no ambiente. Que bom humor, que energia boa. Só achei estranho ela não estar ontem. Talvez o Colatto tenha duas secretárias? Enfim, isso não é problema meu.

Dora, a secretária de ontem, era antipática demais — da mesma laia da Leandra. Eu tenho esse sexto sentido: quando não vou com a cara de alguém, dificilmente me engano. Por outro lado, quando vou, é amizade certa. E com a Fernanda foi assim. Em poucas palavras, ela transbordava simpatia.

Estava perdida nesses pensamentos quando ela retornou à sala, avisando que todos já estavam se dirigindo para a sala de reuniões. Respirei fundo e corri até o banheiro para ver se precisava retocar a maquiagem. Se é pra impressionar, que seja com estilo.

Quando entrei na sala de reuniões, quase todos já estavam lá. Só faltava o senhor Colatto. Não entendi por que a Leandra estava ali. E pior: me lançava um olhar que, se pudesse, me enforcava com os olhos.

Foco, Bruna. Os clientes.

Roberto

Leandra

Repeti mentalmente como um mantra enquanto me sentava.

A porta se abriu, e por ela entrou Daniel Colatto. Ele tinha aquela presença que preenche qualquer ambiente — e um perfume... Ai, aquele perfume poderia fazer qualquer mulher perder a linha.

— Boa tarde a todos. Gostaria de agradecer a presença dos senhores Fagundes e Campos. Sei que estão avaliando projetos para a ampliação da empresa. Quero apresentar meus sócios, Roberto e Leandra — sim, Leandra era sócia. Surpresa. — E também nossa mais nova contratação: a arquiteta Bruna.

Levei um susto. Ele nunca havia mencionado Leandra como sócia. Cumprimentei os clientes, tentando esconder o frio na barriga.

— Como temos vários projetos em andamento, precisamos dividir as responsabilidades — continuou ele. — O pedido de vocês ficou com a arquiteta Bruna. Apesar de estar começando hoje, acredito que vocês vão se surpreender com o projeto dela. Podemos nos sentar. Ela dará início à apresentação.

Surpreender?

Meu queixo quase caiu. Até algumas horas atrás, o projeto era só “suficiente”. Agora é surpreendente? Será que ele é bipolar?

— Obrigada pelas palavras, senhor Colatto.

— Bem, senhores, estudei cuidadosamente o pedido de vocês e tratei o projeto como se fosse pessoal. Cuidei de cada detalhe...

A apresentação fluiu naturalmente. Eles me ouviam com atenção, e isso me dava mais confiança a cada slide. Quando terminei, respirei fundo.

— É isso. Espero que gostem.

Silêncio. Todos estavam sérios, assim como Colatto havia ficado mais cedo. Fiquei apreensiva, esperando por qualquer reação, até que um dos clientes se levantou, olhando diretamente para ele.

— Pelo visto, Daniel, você continua descobrindo talentos. Já visitamos diversas construtoras, mas ninguém captou o nosso pedido com tanta alma. O projeto ficou além do que imaginávamos. Temos uma parceria a formar.

Então ele se virou para mim:

— Parabéns, senhorita Bruna. Seu projeto foi excelente. E só fecharemos essa parceria se você for a arquiteta responsável pelas obras.

Eu quase caí sentada. Confesso que dei uma leve estremecida. Apenas confirmei com a cabeça, tentando manter a compostura, mas por dentro...

Meu coração fazia cambalhotas.

Tudo o que eu queria era sair dali correndo e gritando de alegria.

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