Mais um dia ou seria menos um dia?

⚠️Aviso de Conteúdo⚠️

Este capítulo contém descrições explícitas de abuso físico, psicológico e sexual infantil, além de violência extrema. A leitura pode ser perturbadora para algumas pessoas.

Se esses temas forem gatilhos para você, considere pular este capítulo ou buscar apoio emocional antes e depois da leitura. Caso precise de ajuda, procure organizações especializadas em acolhimento e apoio a vítimas de abuso.

...----------------...

...****************...

Renato chegou em casa e encontrou sua mãe sentada no chão do lado de fora da casa, com as mãos tapando os ouvidos.

- Eu não aguento mais escutar os gritos dele - disse ela.

Renato olhou no celular.

- E ele ainda consegue gritar? É o décimo catorze de hoje.

- No começo estava pior. Ele resistia, brigava.

Renato e Solange ficaram sentados lá, até que o homem que estava com o Fábio saiu.

- Vou ver como ele está.

Ao abrir a porta do quarto, Renato encontrou Fábio encolhido em um canto, visivelmente machucado e exausto.

- Não, por favor, eu não aguento outro. - choramingou Fábio.

...****************...

Renato se aproximou de mim.

- Tudo bem. Não tem mais ninguém para hoje.

Eu estava tão cansado e machucado. Às quatro horas da manhã meu pai "gentilmente" me acordou com uma cintada por cima da coberta.

- Levante e vai tomar café.

- Estou sem fome. - respondi sonolento.

- Então vai tomar banho e se arrumar. Você tem cliente daqui quarenta minutos.

- Mas, pai... - ele me fez calar a boca com um tapa.

- Banho agora. Antes de eu ir para o trabalho, eu venho conferir se está arrumado e te aconselho a estar pronto, se não quiser levar uma surra já de madrugada.

Meu pai é policial e alguns dias ele tinha que cumprir expediente mais cedo. Quando eu era mais novo meus dias favoritos eram aqueles que meu pai saia de madrugada de casa e só voltava depois que eu já tinha ido dormir. Esses eram os melhores dias. Agora era indiferente.

Como prometido, antes de ir para o batalhão, meu pai voltou para inspecionar se eu estava pronto. Eu tinha tomado banho e vestido o máximo de roupa que eu consegui. Estava torcendo para ele não perceber, mas ele percebeu. Então esperei a surra, porém ele riu.

- O que pensa que está tentando fazer? Você pode vestir todas as peças do guarda roupa que ainda assim vai terminar do mesmo jeito: pelado, sendo um bom menino para os clientes. então não faça papel de idiota e espere com no máximo uma bermuda e uma camiseta.

É, eu preferia ter apanhado.

Depois que meu pai saiu, alguns minutos se passaram e chegou o primeiro cliente. Eu estava esperando no outro quarto, quando ele chegou eu até pensei que teria uma chance de escapar, mas não foi o que aconteceu. Levei uma surra e ele não foi nada gentil comigo. Aliás, nenhum era gentil.

Eu tentava resistir de todas as formas possíveis, mas era tudo inútil. Só me restava gritar de dor, raiva e angústia. Isso quando deixavam. Alguns não gostavam de escutar nada, que já batiam.

Cada surra, cada palavra dura, era uma etapa nesse ritual de desumanização. Eu resistia com o que restava da minha força interior, mas era uma batalha perdida contra forças muito além do meu controle. Gritos eram abafados, e lágrimas eram desperdiçadas na escuridão solitária do quarto. Naquele dia foram seis clientes.

E assim, entre a espera ansiosa por cada cliente e a tortura implacável que se seguia, meu corpo e mente eram despedaçados em uma dança macabra de desespero.

Renato me levantou nos braços e me levou para o meu quarto. Antes me deu um banho. Cada ferimento doía e ardia à medida que a água tocava. Mas nada se comparava com a dor que eu estava sentindo na minha intimidade. Minha mente estava destroçada.

Renato me banhou e colocou roupas em mim, depois me deitou na cama. Em seguida, ele se sentou ao meu lado e ajeitou o meu braço para coletar sangue. uma vez por semana ele coletava meu sangue. Primeiro ele fazia aqueles testes rápidos, que tem que furar o dedo e depois tirava sangue para examinar de forma mais detalhada.

- Se lembra se todos usaram camisinha?

Assenti.

- Inclusive no oral?

Neguei.

- ok. Descansa, depois trago algo para você comer.

Assim que ele saiu do quarto, tudo o que consegui fazer foi chorar.

A noite avançava, e o quarto tornou-se uma cápsula de dor e desespero. Cada respiração era um lembrete constante do trauma que marcava cada centímetro do meu ser.

A porta se abriu suavemente, revelando um feixe de luz que cortava a escuridão. Renato retornou com uma bandeja contendo um prato modesto.

- Tente comer um pouco. Vai te fazer bem. - disse Renato, enquanto colocava a bandeja na cama.

Tentei obedecer, levando lentamente a comida à boca, mas a dor física e emocional parecia sufocar qualquer apetite. Cada garfada era um esforço, uma tentativa de encontrar alguma forma de normalidade em um mundo distorcido pelos horrores dos programas.

No instante em que a última garfada foi engolida, Renato retirou a bandeja e se sentou novamente ao meu lado.

- Conversei com o papai, amanhã você pode descansar o dia todo.

Tudo o que consegui fazer foi afundar mais na cama, esperando pelo fim dessa noite interminável. Na verdade eu queria dormir e não acordar mais.

Renato se levantou e saiu. O silêncio persistiu, como se o próprio tempo estivesse em suspenso, respeitando a magnitude da dor que habitava o quarto.

A noite avançava, e a única certeza era a incerteza do que o amanhecer traria. Enquanto a escuridão persistia, me afundei em um sono inquieto, onde pesadelos e lembranças se entrelaçavam, criando um labirinto de tormento.

Mais populares

Comments

Daniel Silva

Daniel Silva

gente, eu tô pasmo com essa família!😳

2024-11-23

1

Mary

Mary

que nojo dessa família

2024-10-04

1

corrinha

corrinha

e não era quatorze

2024-05-31

2

Ver todos
Capítulos
1 E fim...
2 Uma escolha injusta
3 Aniversário infeliz
4 Mais um dia ou seria menos um dia?
5 Fuga
6 Indenização
7 Rotina
8 O relógio
9 Declaração
10 Moleque insolente
11 Quando a casa caiu
12 Prisioneiro
13 Descontrole
14 Minha maior culpa
15 Cooperação forçada
16 Sonho x Realidade
17 Na sombra da dor
18 Entre algemas e grades
19 Um dia após o outro
20 Injustiça
21 Desprezado por quem mais amo
22 Alucinação e Realidade
23 *Renato narrando
24 Teia de desespero e desesperança
25 Mudança de rotina
26 A vez que quase consegui
27 E o cativo regressa ao cativeiro...
28 Degradação
29 Infelizes anos...
30 Esperança
31 Esperança: ter ou não ter? Eis a questão...
32 Pessoa comprometida
33 Atrevimento
34 Brincadeiras indecentes
35 Carinho de mãe
36 Uma âncora
37 Uma canção
38 *Raul narrando
39 Tudo por um chocolate
40 Véspera
41 Maldito dia!
42 Assinatura
43 O disparo
44 Vazio
45 Inferno, amargo, inferno!
46 Determinação ferida
47 Dilema
48 Delírio
49 Cuidados
50 Sobreviver
51 Resultados
52 Possível recomeço
53 Proximidade
54 *Raul narrando
55 Intimidade
56 Refúgio e desamparo
57 Passeio
58 Jogos
59 Machas
60 Horizonte fugaz
61 Raiva, nojo, ódio e revolta
62 Luz tênue
63 Seja forte!
64 24 de janeiro de 2022
65 Lembrete
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
E fim...
2
Uma escolha injusta
3
Aniversário infeliz
4
Mais um dia ou seria menos um dia?
5
Fuga
6
Indenização
7
Rotina
8
O relógio
9
Declaração
10
Moleque insolente
11
Quando a casa caiu
12
Prisioneiro
13
Descontrole
14
Minha maior culpa
15
Cooperação forçada
16
Sonho x Realidade
17
Na sombra da dor
18
Entre algemas e grades
19
Um dia após o outro
20
Injustiça
21
Desprezado por quem mais amo
22
Alucinação e Realidade
23
*Renato narrando
24
Teia de desespero e desesperança
25
Mudança de rotina
26
A vez que quase consegui
27
E o cativo regressa ao cativeiro...
28
Degradação
29
Infelizes anos...
30
Esperança
31
Esperança: ter ou não ter? Eis a questão...
32
Pessoa comprometida
33
Atrevimento
34
Brincadeiras indecentes
35
Carinho de mãe
36
Uma âncora
37
Uma canção
38
*Raul narrando
39
Tudo por um chocolate
40
Véspera
41
Maldito dia!
42
Assinatura
43
O disparo
44
Vazio
45
Inferno, amargo, inferno!
46
Determinação ferida
47
Dilema
48
Delírio
49
Cuidados
50
Sobreviver
51
Resultados
52
Possível recomeço
53
Proximidade
54
*Raul narrando
55
Intimidade
56
Refúgio e desamparo
57
Passeio
58
Jogos
59
Machas
60
Horizonte fugaz
61
Raiva, nojo, ódio e revolta
62
Luz tênue
63
Seja forte!
64
24 de janeiro de 2022
65
Lembrete

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!