5 –Visitas indesejadas

Ao chegar em casa, lembrou-se de que o seu grande amigo da época da faculdade, Ronni O' Maile, viria para a ilha com um amigo para visitá-lo. Precisava avisar Julius para se preparasse para receber as visitas. Mesmo não gostando da idéia de ter alguém na sua ilha.

Encontrou-o na sala, sentado confortavelmente no sofá, lendo um dos seus livros.

— Já chegou, senhor. — fechou o livro e foi se levantando.

— Pode continuar. Apenas vim informar que teremos visitas.

– Visitas? Justo agora, com a lua tão próxima?

– Faz tempo que não vejo Ronni. – passou as mãos nervosamente pelos cabelos. – Ele virará com um amigo que está em apuros. Não posso manda-lo embora sem vê-l. Eu direi que estou com prazo apertado e preciso escrever, assim o convencerei de que terão de ir embora no dia seguinte Só precisamos cuidar para que não desçam até o porão.

– Sim, senhor.

– Vamos providenciar um belo jantar pata eles. – olhou pensativo para Julius – Chegarão em dois dias. Prepare dois quartos no andar de cima para eles. Quando tiver a chance de conversar sozinho com Ronni, eu lhe explicarei que ele precisará a partir da manhã seguinte.

— Sim, senhor. — as feições do homem expressava claramente as suas dúvidas.

— Algum problema? — Marcus perguntou, arqueando a sobrancelha.

Julius meneou a cabeça:

— Não, não... não com a idéia... não sei se o senhor O'Maile vai simplesmente dar meia volta e viajar de novo para a América, um dia após chegar. Sabe como ele é teimoso.

— Apenas deixe os quartos arrumados, sim?

Julius concordou e voltou a enfiar o nariz no livro. Marcus foi em direção ao escritório, mas parou com a mão na maçaneta:

— A menos que a casa esteja em chamas, não queria ser perturbado.

Marcos fechou a porta do escritório e acomodou-se em sua escrivaninha. O ar frio da varanda soprava a sua nuca. Ele virou-se as portas para varanda, deixando apenas uma fresta pequena, puxou as cortinas. Estava tão perto de terminar o trabalho, não queria distrações.

Estava digitando a um bom tempo, quando percebeu odor que ele era pouco familiar. Cheirava a ... não sabia explicar o cheiro, mas era uma mistura de odores absolutamente feminino.

Ele balançou a cabeça e tentou se concentrar no trabalho. O seu olfato apurado, era uma herança do seu pai e às vezes podia ser bastante incômodo.

Ele estava a tempo demais sem uma companhia feminina. Começava a sentir cheiro de mulher, sem que houvesse mulher alguma por perto, era hora de voltar a terra firme e ter um relacionamento passageiro.

Porém ainda não. Não com Ronni e seu amigo chegando nos próximos dias.

Marcus soltou um suspiro e empurrou a cadeira. Levantou-se e puxou as cortinas para o lado. Ronni não iria obedecer, certamente pediria explicações do porquê de ter que ir embora.

Ronni não havia falado muito, apenas que levaria seu amigo Pires que enfrentava problemas com um lobisomem e achava que ele poderia explicar o que estava acontecendo, já que a anos pesquisa sobre esse assunto.

Claro que eles não sabiam no que estavam se metendo.

Se eles não sabiam disso, cabia a ele manter a sua própria"licantropia" oculta, eles jamais saberiam o tamanho do perigo que estavam se metendo.

Voltou para o seu trabalho, terminar o seu livro. Estava se atrasando apenas por conta das visitas indesejadas.

Ficou tão concentrado na criação do seu novo livro. Que só se deu conta do tempo, quando as sombras invadiram o escritório, atrapalhando a sua visão e o pescoço ficou dolorido.

Levantou-se e caminhou um pouco pelo aposento, virando a cabeça para aliviar as dores. Já retornava ao trabalho, quando parou, atraído pelo cheiro novamente.

Abriu as portas e saiu para varanda. O perfume feminino tomou conta das suas narinas. Um uivo baixo, quase um rosnado, saiu da sua garganta antes que ele pudesse refreá-lo. Era cheiro de mulher, e ela estava na sua Ilha!

O vento trazia vezes até ele.

— Como assim, ele não sabe? — o som da voz feminina era rouco e continha irritação, mas mesmo assim o seduzia.

— Bem, quando vimos o lobo no aeroporto, achei melhor viemos direto para cá. Estamos apenas com dois dias de antecipação.

A voz era de Ronni e continuava tão calma como ele se lembrava, mesmo em momentos de “stresse” ele nunca alterava a sua voz.

— Está bem. Então, se ele está nos esperando, por que acabou de dizer que ele não sabe que estamos vindo?

— Ele pediu-me para não vir.

— E mesmo assim, aqui estamos nós. — a mulher usou um tom sarcástico.

Mesmo assim, aquela voz parecia carícias no seu ouvido.

— Qual o seu plano agora, "sabichão"?

De repente o vento parou de trazer as vozes e algo dentro dele se inquietou, querendo que ele fosse até a mulher.

Os dois visitantes fizeram a curva no caminho que levava até a casa. Circulavam o jardim, em direção a porta da frente. Marcus escondeu-se atrás da cortina para que não o visse, sem tirar os olhos da companheira de Ronni.

— Eu não acredito que você me trouxe para esse fim de mundo... você… você. — ela largou a pequena mala no chão e a bolsa de viagem e ergueu as mãos. — Oh! Nem tenho palavras…

Marcus contraiu o maxilar diante da primeira visão que teve daquela mulher.

A jaqueta aberta só fazia salientar os seios fartos, corpo delgado e a cintura fina, os quadris arredondados, assim como as nádegas. Usava uma calça jeans clara e mesmo de botas, podia perceber os pés delicados. No rosto ele podia constatar a impetuosidade, assim como os lábios carnudos, precisava beijá-los.

— Vejam só! Quem diria? A pequena Linda Pires, sem palavras! — com um sorriso largo, Ronni passou o braço pelos ombros da mulher, puxando-a para o seu lado com um rápido aperto. Esse gesto fez Marcus querer socar o seu "ex-amigo ".

Estava bravo por Ronni ter desrespeitado a sua vontade. Era isso. Não era ciúme de uma mulher que nem conhecia…

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