4 – Passado e presente

Marcus Petrus jogou sobre a escrivaninha o diário do seu pai.

A última anotação foi em 25 de novembro de 1985. Aí se encerrou o diário, a vida dele e de sua mãe.

Há 20 anos atrás essa notícia o chocou, e desde que ele retornou para a ilha, foram poucas as vezes em que ele saiu.

O seu pai não suportou o peso da sina dos Petrus e pelo que lia no seu diário, ele tirou a sua própria vida e levou a sua esposa com ele. Não queria que ela sofresse observando o filho e dar essa maldição. Por conta disso, Marcus estava ali, isolado na ilha que pertencia a sua família há várias gerações. Sabia que a maldição vinha há séculos atormentando os homens Petrus.

Marcus custou a aceitar o seu destino, mas aos 39 anos, aprendeu a conviver e a ter cuidados para não ferir ninguém. Por precaução, tinha no cofre a arma do seu pai, municiada com balas de prata derretida, uma dessas no cérebro pararia a fera que habitava nele.

Não entendi a atitude do seu pai e por anos se revoltou. Havia outras maneiras de sobreviver a todo esse caos. A solução dele, Marcus, foi o isolamento. Pouco saia da ilha e quando acontecia, era sempre com datas específicas para o seu retorno.

Afastou a cadeira da escrivaninha e levantou-se, voltando o seu olhar para as portas abertas da varanda. Encostou-se no batente da porta e se pôs a observar o oceano. As aves marinhas sobrevoavam a superfície das águas com seus gritos estridentes. Ele apreciava essa bagunça, era algo que tornava mais aceitável o seu isolamento.

O sol da manhã refletia nas ondas. Uma breve brisa trouxe o cheiro da maresia até ele. Marcus inalou, desejando que o ar pesado fizesse sentir-se renovado, mas o que ele sentia era cansaço.

Olhou para o gramado impecável. O seu único empregado, Julios, deixava tudo em ordem para ele. O seu funcionário e amigo insistia que podia cuidar de tudo, a casa e o jardim eram mantidos impecáveis.

Olhou para o céu claro, ele sabia que uma tempestade se aproximava nos próximos dias, naquela época do ano, sabia que as tempestades poderiam virar tormentas. Movimentou a cabeça de um lado para o outro, tentando diminuir a tensão.

Estava no limite do prazo. Voltou para escrivaninha, estalou os dedos e pousou-os no teclado, voltando ao trabalho. Só quando ouviu uma leve batida na porta, se deu conta de que passava de uma hora da tarde.

– Entre. – murmurou.

O seu leal criado abriu a porta e entrou, trazendo uma bandeja de prata nas mãos. Os cabelos estavam bem penteados e ele usava um Impecável terno escuro. Os cabelos de Julios já estavam ficando grisalhos. Vestido severamente, ele levava o seu trabalho muito a sério.

Andando tranquilamente, colocou a bandeja sobre o aparador e serviu uma das grandes xícaras que trouxe, deixando que o cheiro do café se espalhasse pelo ambiente. Do lado da xícara havia um prato com dois sanduíches.

— Rosbife e salada. — Julius explicou.

Colocou o prato com um dos sanduíches na frente de Marcus.

– Agora coma. Não deve ficar tanto tempo sem se alimentar. – levou até ele um potinho com batatas fritas. – você tende a ficar muito irritado quando fica sem comer carne vermelha.

– Não me dei conta de que era tão tarde.

Marcus olhou para o sanduíche à sua frente. Pão, alface, tomate, cebola, molho especial e o rosbife. A carne sangrenta o fazia salivar. Enquanto mastigava, observou Julius. Ele envelhecia, mostrava cada minuto dos seus 60 anos.

— Como está a revisão? — Julius pegou umas xícaras de café e sentou-se em uma das cadeiras de couro perto da escrivaninha.

— Devagar, mais do que o normal. — Marcus ficou em silêncio por um tempo. — Estou sem inspiração, creio que eu seja o problema.

— Deveria tirar umas férias. — Julius tomou um bom gole do seu café. — Precisa ir para alguma praia, com moças casadoiras de biquínis.

— Você sabe que não posso envolver-me.

— Eu discordo. Uma vida solitária não é conveniente. Mas não cabe a mim, julgar a sua forma de viver. Sabe que não está se tornando desequilibrado como o seu pai. – re—istou-se na cadeira e foi enfático. — É um bom homem, senhor. Um homem honrado, com a noção de que aquilo que faz é o único caminho, mas essa caminhada será mais fácil se tiver companhia. – respirando fundo, continuou — estarei na cozinha precise.

Marcus ficou a pensar nas palavras de Julius. O homem sempre insistia nesse assunto, mas ela não queria colocar a vida de pessoas inocentes em risco, já bastava se preocupar com o seu velho amigo.

Marcus deu um suspiro e puxou o notebook de novo para o meio da escrivaninha, estalou as juntas dos dedos:

— Escreva algo apenas. — resmungou assim que se viu sozinho — Sempre poderá voltar e consertar. — ele começou a digitar…

O que havia com ele ? Estava perturbado, talvez fosse a lua...

Talvez fosse algo mais.

Para não perder mais tempo, salvou o seu trabalho e até a cozinha ao encontro de Julius.

Estava à beira de um ataque de nervos. Não era supersticioso, mas essa inquiestação sugeria que algo estava prestes a acontecer. Talvez fosse a tempestade e chegava.

Ou talvez fosse algo mais.

Encontrou Julius na cozinha, onde tudo era limpo e organizado.

— Vou dar uma volta. — avisou. Espero que assim clareie a cabeça.

— Tenha cuidado senhor. — Julius aconselhou.

Marcos achava engraçado a preocupação do seu velho e fiel amigo, como se não soubesse que o único perigo, era ele mesmo.

Conforme atravessava aquela trilha sinuosa que levava até o bosque, uma parte de Marcus ansiava por sair numa carreira desabalada para expulsar os demônios que o atormentavam, mas sabia que não iria funcionar. Já fizera isso antes e de nada adiantou. Tinha que se contentar em ouvir o bramido do mar e acalmar-se.

Ficou parado no topo do penhasco, observando as ondas se arrebentarem nas pedras. Puxou o ar refrescante para os pulmões.

Quando estava sozinho, apenas ele e a natureza, quase conseguia ignorar os problemas associados à sua família.

Quase.

O seu olhar ergueu-se até onde O sol estava. Mais algumas horas e ficaria escuro. Em poucos dias, haveria uma lua cheia suspensa no firmamento.

Depois de alguns minutos, ocorreu-lhe uma idéia de como revelar a verdadeira identidade do assassino do seu livro. Levantou-se num salto, disposto a colocar tudo no papel, antes que esquecesse.

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Comments

Fátima Ramos

Fátima Ramos

Marcus É lobisomem e é para perto dele que roni vai levar a amiga, mas o perseguidor se for também o lobo vai-se dar mal porque vai enfrentar outro lobo

2025-02-01

0

Josilda silva

Josilda silva

Agora me veio a cena do filme crepúsculo kkk quando eles humanos corria e virava lobos kkk

2025-01-31

0

Gicelia Santos

Gicelia Santos

já imagino a cena...

2024-07-07

1

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