capítulo 04

Luzes avermelhadas por todo ambiente, algumas mesas vazias, um DJ tocando no palco e algumas pessoas dançando. Esperava que o lugar estivesse completamente vazio a está hora, mas parece que as pessoas têm muito tempo livre. Vesti um vestido tubinho Midi branco, da coleção de primavera de Lorelay, e prendi o cabelo em um rabo de cavalo, deixando a franja longa solta. Mesmo ele estando preso no topo da cabeça, chegava a minha cintura, eu amava os meus longos cabelos.

 Fomos direto para o bar, onde as luzes eram mais em tons claros, de azul e rosa. Não havia ninguém no balcão, nos sentamos e o barman veio nos atender com um sorriso no rosto.

 — Duas vodkas. — Pede Lorelay.Ele nos serve enquanto nos sentamos.

 — "Za zdorovye". — Brindamos e tomamos em seguida.

Conversamos sobre a coleção nova, sobre como iam os estudos enquanto bebemos. Dois rapazes tentaram nos chamar para dançar, mas os dispensamos. Até Lorelay enlouquecer com a música e tentar me arrastar para a pista de dança, porém, consegui convencer que esperaria ali mesmo.

— Mais uma cerveja preta, por favor!

— Como uma gatinha dessas está sozinha? — Bufo revirando os olhos.

— Cai fora! — Respondi.

— Adoro garotas selvagens. — Encarei o cara com um sorriso debochado.

— Eu disse para cair fora. — O rapaz se afasta com as palmas da mão erguidas. — Bom garoto.

O barman me serve, tomo um gole grande. Fico um tempo brincando com o dedo na base da tulipa quase vazia, até outro rapaz aproximar o rosto do meu e sussurrar próximo ao meu ouvido.

— Se estivesse comigo, não estaria tão distraída. — O cheiro de esgoto podre alcançam as minhas narinas e o meu sangue ferve. Me seguro para não socar a cara do rapaz para se afastar. Umedeço os lábios mordendo forte o lábio.

— Se invadir o meu espaço mais uma vez, vou costurar a sua boca de uma forma que ninguém será obrigada a ouvir uma porcaria desta. — Ele se afasta.

— Garota mal amada. — Respiro fundo tomando o restante do copo, empurro o copo para o barman que segura o riso.

— Mais uma, por favor.

— Sim, senhora.— Ouço um risinho vindo do meu lado.

 Um Rapaz está sentado a duas cadeiras ao meu lado, cabelos escuros cor de chumbo, o encaro estalando a língua e arqueio a sobrancelha.

— Três caras em menos de meia hora. Estou impressionado.

— Que bom que estou te divertindo.— respondo em tom zombeteiro.

— Você é cruel com os caras. Fiquei com pena do último! — Rio de escárnio.

— Deveria ter pena de mim, a boca dele fedia a bosta. — Ele gargalha.

— Agora volto atrás. — Rebate ele.

— Ele deveria evitar contato físico com alguém, jesus.

— Pensei que pudesse te defender, mas, julgo que eu quem precisa de ajuda agora. — Rio.

— Eu juro que o próximo que tentar me cantar , vai ganhar um soco nas partes baixas. — Ele olha pelo meu ombro e balança a cabeça negativamente. Olho pelo ombro, e um rapaz coça a cabeça e sai andando. — Qual é?! Será que uma mulher não pode beber sozinha nesta cidade?

— Pelo visto, é difícil ser bonita por aqui.

— É terrivelmente difícil, como pode ver! — Rimos.

— Sou Stepan — Ele estende a mão. Pensa Angeline... Pensa. Olho para Lorelay que parece estar se divertindo e longe de voltar para o balcão.

— Lorelay — aperto firme a sua mão. Stepan passa para o banco que nos separava.

— Você vem muito aqui e sempre tem estás dificuldades? — Nego.

— É a primeira vez, o lugar foi inaugurado à pouco tempo. — Ele ergue as sobrancelhas assentindo.

— Aqui até que é legalzinho. — Afirma tomando sua bebida.

— Não gosto muito, mas fui arrastada. Então… Aqui estou. — Stepan encara meus olhos— O que foi?

— Os seus olhos são muito bonitos, são azuis? — Demorou. Estalo a língua.

— Não está tentando me passar uma cantada, ou está? — Ele ri.

— Não, juro que não. Preciso das minhas bolas.

— Acho bom... Os meus olhos são esverdeados, tem um pouco de azul neles. Depende do ambiente.

— São fascinantes, com todo respeito.

— Obrigada. — Lorelay segura os meus ombros ofegantes.

— Vejo que arrumou um gatinho. Sou Lorelay, amiga da Angeline. — Stepan comprime os olhos e um sorriso surge nos seus lábios. Covinhas aparecem nas suas bochechas.

Merda Lorelay, tinha que voltar logo agora? Como saio dessa, agora?

— Stepan, prazer. — Lorelay se senta ao meu lado. — Angeline? — Dou de ombros. Ele sorri novamente. — Serve dois Brandy para as garotas. — O barman assente — Foi um prazer conhecê-las meninas.

 Ele faz um sinal para o barman, que se aproxima. Stepan fala algo em seu ouvido e paga a conta.

 — Espero poder vê-las novamente.

— Obrigada pela bebida.

 Lorelay agradece e Stepan sai em direção a saída . Reviro os olhos, pegando a bebida que o barman acabou de colocar na bancada.

— Brandy é bebida de garotinha. — Balbucio.

— Ele é muito gato, por que não deu uma chance para ele?

— Estávamos apenas conversando, sem falar que você estragou tudo.

— Eu? — Indaga .

— Você mesma. Por que disse meu nome?

— Mas... — Ela toma o drink. — Imaginei que ele soubesse. — Respiro fundo enquanto pego a carteira.

— Preciso ir. — pago o barman. — Vai comigo ou irá ficar?

— Vou ficar.

— Me liga quando chegar em casa. — Ela assente — E obrigada pelo dia incrível.

— Não vai ficar brava comigo, vai ? — Rio negando .

...💠...

Estavam todos à mesa quando desci, o meu pai na ponta e Rowan ao lado de Garratt. Me sentei de frente para Garratt .

— Está atrasada, onde estava? — Questiona meu pai com rispidez, engoli em seco.

— Me desculpe, meu pai. Estava com Lorelay, perdi a noção do tempo. — Respondo de cabeça baixa.

Ele coloca os talheres sobre o prato,indicando que está satisfeito, apoia os cotovelos e cruza os dedos apoiando o queijo sobre as mãos.

— Posso saber o motivo de dispensar os dois guarda-costas? — A empregada coloca meu prato.

— Havíamos falado sobre isso a algumas semanas atrás, eu não preciso de guarda-costas, pai. — ele bate na mesa, nos três assustamos.

— Não tem conversa, Angeline. Minha casa, minhas regras. Eles vão onde você for, e não quero mais falar com você sobre isso.

— Sim, senhor. — Respondo com a voz falha.

— Teve uma grande movimentação na sua conta pela manhã. Devo me preocupar? — Nego.

— Comprei roupas novas . — Ele se levanta jogando o guardanapo na cadeira.

— Pai, o senhor ainda não me deixou contar como foi no Hipismo. — Diz Rowan com pesar na voz

— Conta para seus irmãos, preciso resolver alguns problemas. Sei que você foi incrível, Rowan.

— Está feliz Angel? Você sempre deixa ele irritado. — Rowan sai da mesa chorando.

— Rowan! — o chamo, mas ele corre em direção as escadas.

— Deixa ele se acalmar, depois você vai ao quarto dele. — Respiro fundo me afundando na cadeira.

— Estou tão cansada disso. — Lamentei.

— Angeline, você sabe o motivo dele te proteger demais.

— Por que ele não é assim com você? Por que você é homem? Temos a mesma idade. — Garratt respira fundo colocando os talheres sobre o prato.

— Você sabe bem que não é o fato de você ser mulher.

— Ah! Claro que não. — Garratt suspira.

— Eu pensei que você fosse mais inteligente, Angeline. — Faço sinal obsceno para Garratt que ri. — Ele vê ela em você, minha irmã!

— Mas eu não sou nossa mãe, mesmo que eu queira estar no lugar dela, eu não sou ela.— Rebati.

— Nosso pai anda mais preocupado que de costume, tente se colocar no lugar dele por um momento. — Rio de escárnio.

— O que foi desta vez? A carga chegou faltando ou atrasada? Ou os compradores não apareceram no lugar marcado? — Os lábios de Garratt tremem, o seu maxilar se contrai.

— Tudo para você é brincadeira e zombaria. — Ele sibila — A princesinha não sabe um terço das nossas preocupações. — Respiro fundo me ajeitando na cadeira.

— Então não me deixe de fora. — Garratt ajeita o cabelo respirando profundamente.

— A máfia russa está nos nossos calcanhares. — Ele faz uma pausa, minha expressão muda totalmente.

 Era mais sério do que imaginei, se tinha a máfia no meio dos nossos negócios, significava que a coisa podia ficar cada vez pior e Rowan poderia estar em perigo.

— Eles estão... — Continua ele — Estão receptando os nossos navios antes de chegarem no porto. — limpo a garganta.

— Dês de quando, Garratt? — sondo.

— Há alguns meses. Pensamos ser a polícia, mas, o nosso infiltrado constatou que eles não estão cientes dos abatedores.

 — E o que vocês pretendem fazer?

  — Estamos mudando as rotas das armas, não podemos ter mais prejuízos Angel.

 — Tem algo que eu possa fazer para ajudar? — Garratt dá um riso de deboche.

 — Se quiser se infiltrar dentro da máfia, iria nos ajudar bastante. — Ele brinca se levantando. — Não se preocupe, estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance.

  — Estou falando sério, Garratt.— Ele nega.

— O que poderia fazer, minha irmã? — ele coloca as mãos nos bolsos — Apenas deixe o nosso pai orgulhoso e aceite os guardas. — Assinto.

 Garratt não sabia que eu era capaz de me cuidar sozinha. Muito menos do meu currículo extenso de mortes, de como eu podia ser apocalíptica. Mas, se eu pudesse ajudar de alguma forma, eu iria fazer de tudo para mostrar meu valor dentro desta família.

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