“Nem sempre se rebelar começa após ouvir um “não”; às vezes começa com um “não” nunca dito.”
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Beatriz pulou da cama e fingiu arrumar o quarto: entulhou roupas nos armários, atirou outras debaixo da cama e, por fim, ajeitou o edredom sobre a cama.
Em seguida, desceu para almoçar com a mãe. Conversaram sobre a escola e sobre como ela sentia saudades dos irmãos mais velhos, que já eram casados. Rosa ficava radiante sempre que Beatriz interagia.
Márcio só apareceu quase às oito da noite. Devido a uma reunião, pegou trânsito e chegou tarde. Beatriz ainda estava na sala, assistindo à TV com Rosa, isso surpreendeu, era raro ela fazer isso.
— Chegou tarde, pai! — Coisas da vida, minha filha — Márcio respondeu, enquanto beijava as duas.
— Márcio, deixei seu jantar na cozinha — avisou Rosa.
— Comi qualquer coisa por lá, hoje só quero banho e cama — respondeu ele, bocejando e se esticando na poltrona.
Beatriz enxergou a oportunidade:
— Mãe, pai… A Júlia vai fazer uma festa do pijama neste sábado. É só com meninas. Posso ir?
— Beatriz, dormir fora está fora de questão. É uma das nossas regras; por favor, respeite — negou Rosa.
— Filha, queremos o melhor para você. É pela sua segurança — acrescentou Márcio.
— Vocês nunca confiam em mim! Qual é o problema? Só terá meninas, e a avó dela vai estar em casa. Por favor, deixem-me ir — implorou Beatriz, com lágrimas nos olhos.
Rosa tentou outra alternativa:
— Que tal você ir e, mais tarde, a gente passa para te buscar?
— NÃO! Todas vão dormir lá. Não há perigo em uma casa… Prefiro morrer! A vida não tem graça.
— Deixa, Rosa! Pensando bem, não há nada de mais em dormir na casa de uma amiga com outras garotas e uma senhora por perto — interveio Márcio.
Rosa suspirou, relutante:
— Tudo bem, Beatriz. Confiamos em você. Mas quero você de volta pela manhã. E é para ficar lá — ela enfatizou —, não sair dando voltinhas.
— Sim, combinado! Juro que não sairei, e de manhã estarei de volta.
“Odeio esta casa e odeio vocês dois me prendendo. Não sou prisioneira. Nunca me entendem e, já que me proíbem de tudo, farei escondida. Já tenho 17 anos; não sou mais criança”.
Ela saltou de alegria, agradeceu, beijou os pais e correu para o quarto, ansiosa para contar a novidade a Júlia.
— Ju! Consegui convencer os velhos! Vou dormir aí! Mas como a gente vai sair sem a sua avó nos ver?
— Vai ser tranquilo. Minha avó é o de menos. Depois que ela dorme, pode a casa cair que ela não acorda mais.
— Nem acredito que vou nessa festa! Preciso de um look seu; meus pais não podem nem sonhar. Nada de roupa de balada, porque minha mãe é uma bisbilhoteira.
— Claro, Bia! Parece um milagre que você conseguiu permissão. A noite vai ser pequena para nós duas.
— Sabe, Ju? Estou de saco cheio dessas regras idiotas. Quero viver do meu jeito!
— É isso aí! Temos que aproveitar mesmo. Já te falei meu lema: a vida é uma só. Beijos! Amanhã, na escola, terminaremos de planejar.
— Beijos, até amanhã! Beatriz se despediu com um sorriso de orelha a orelha.
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Dia da Festa
Beatriz acordou empolgada. Pela janela, conferiu o clima: céu limpo, sem nuvens, como se o universo conspirasse a seu favor. As horas arrastaram-se enquanto aguardava ansiosamente a hora de sair.
O combinado era estar na casa de Júlia às 17h. Era uma festa diferente de tudo o que Beatriz já havia experimentado. Haveria bebidas e meninos mais velhos, e ela estava decidida a aproveitar cada momento.
Até então, os seus pais só permitiam encontros em cinemas ou praças, sempre com horário para voltar. Beatriz cuidou de cada detalhe: das unhas perfeitamente esmaltadas ao cabelo sedoso e hidratado.
Preparou a mochila com o mínimo necessário para evitar suspeitas: celular, um tênis confortável e uma muda de roupa extra.
O dia transcorreu tranquilamente, e Beatriz se esforçou para manter-se amável e cooperativa com os pais. Qualquer deslize poderia colocar seu plano em risco.
Às 17 horas em ponto, Beatriz já estava na sala, mochila pronta e a ansiedade estampada no rosto. Então, chamou o pai para levá-la.
— Pai, vamos!
Seus pais estavam assistindo à TV quando Beatriz os interrompeu. Rosa levantou-se, analisou a filha e deu as últimas instruções.
— Bia, estamos confiando em você. Quero que volte antes do almoço, está bem?
Beatriz assentiu com um sorriso sereno, mas, por dentro, fervia de raiva. Sentia-se invadida em sua privacidade.
“Como ela pode ser tão controladora e irritante?” pensou.
Márcio, seu pai, observou a interação entre mãe e filha em silêncio. Pegou as chaves do carro e dirigiu-se à porta. Beatriz o seguiu, saindo sem se despedir da mãe.
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Casa da Júlia
Chegando lá, a avó de Júlia recebeu Beatriz calorosamente, envolvendo-a em um abraço afetuoso. Era uma senhora adorável, e sua gentileza parecia contagiar o ambiente.
Júlia e Beatriz se apressaram em direção ao quarto, rindo e compartilhando a empolgação de se arrumar para a festa.
Enquanto experimentavam roupas e ajustavam os últimos detalhes, Júlia começou a revelar mais informações.
— A festa será na casa do Iago, aquele cara que estudava na nossa escola. Como ele é uns três anos mais velho, já terminou o ensino médio. E o melhor de tudo? Ele fez questão de convidar nós duas.
Entre risos e conversas animadas, Beatriz e Júlia escolheram cuidadosamente seus looks, determinadas a causar uma boa impressão. As meninas estavam empolgadas, inconscientes do fato de que a vida, muitas vezes, oferece o doce antes do amargo.
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❝ [ Beatriz descobriria, da pior maneira, que nem tudo que parece diversão é inofensivo? Qual seria o preço da confiança que seus pais depositaram nela? Estaria tão intoxicada pela euforia da juventude que não enxergaria os perigos que se aproximavam?] ❞
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Giselda Wolmann Leão
Pior que eu tenho uma sobrinha assim acabou com a vida do pai de tanto brigar com a mãe e o pai
2024-01-27
1
Shirlei
Que menina mimada…
2023-12-24
2
Melina Mello
não, e não vejo a hora dela quebrar a cara
2023-12-03
1