__Ah, claro! Peço que me perdoe, mas naquele dia eu estava um tanto apressada!
Respondo calmamente tentando parecer confiante, pois ainda tenho esperança de que ele não tenha percebido que fugia da polícia naquela noite, e preciso demonstrar tranquilidade, já que ele observa-me atentamente as minhas reações.
__É, eu percebi. Assim como também notei que a sua pressa, se deve ao fato de que fugia do comandante Malta, não é mesmo?
Ele pergunta arqueando o corpo mais para próximo de mim, com as mãos cruzadas sobre os joelhos e encarando-me de forma desafiadora, como se estivesse curioso para saber que tipo de desculpas eu inventaria agora.
Minhas esperanças vão por água a baixo e o meu coração gela ao ouvir as suas palavras, mais ainda assim, procuro manter a calma.
__Vai me entregar ao comandante então?
Pergunto de forma direta, pois sei que tentar negar é inútil nesse momento. Ele sabe que eu fugia, e pode muito bem me entregar à Ivo, se é que já não fez isso.
__E, Por que eu faria isso?
Ele retruca a minha pergunta, sem me responder, já se recostando mais relaxadamente na sua poltrona.
__A pergunta mais certa é. Porque não faria?
Retruco imediatamente ainda desconfiada das suas atitudes, afinal, ele não me conhece e sabe que fujo da polícia, porque então, não me entregar ao comandante? O que estaria planejando?
__Me responda você. Se de certo modo a ajudei escapar naquela noite, porque a denunciaria agora?
Ele novamente pergunta, com leve sorriso nos lábios e as suas palavras apenas me deixam mais confusa.
Como assim, me ajudou?
Os acontecimentos daquela noite ainda estão confusos em minha mente, mas ao ouvir as suas palavras, parece que uma porta se abre e tudo fica mais claro pra mim.
Realmente recordo-me que, enquanto fugia, depois do esbarrão que tivemos, olhei para trás novamente, pensando que jamais o encontraria outra vez, e o vi a colocar-se disfarçadamente, diante de Ivo e os seus guardas, o que os impediam de passar, dando a mim, o tempo que precisava para escapar.
Só não consigo entender porque ele fez isso?
__Porque me ajudou?
Sou direta, ainda o encarando com seriedade.
__ Não sei. Apenas achei que devia fazer alguma coisa. Mesmo não sabendo qual teria sido o seu crime, não achei justo três homens perseguirem uma mulher!
__Posso garantir que nunca transgredir a lei e que não carrego nenhuma culpa sobre mim, senhor!
Afirmo tentando convencê-lo da minha inocência sem precisar dizer a verdade, pois mesmo eu não tendo cometido crime algum, não sei se posso contar a ele, o verdadeiro motivo pelo qual Ivo me persegue.
__Eu acredito em você. Por isso, fique tranquila e descanse para se recuperar logo!
Ele afirma já olhando-me com suavidade.
__Não vai mesmo me denunciar ao comandante?
__Porque é tão difícil confiar em mim?
Ele pergunta mostrando-se ofendido.
__Não é pessoal, senhor, mas a vida me ensinou a não confiar em estranhos!
Respondo ainda de forma ríspida, pois realmente não sei se posso confiar nele. Quem me garante que não esteja mentindo?
__Mas eu não sou nenhum estranho. Se levarmos em conta o esbarrão no vilarejo, e o dia que a encontrei no galpão, podemos dizer que esse é o nosso terceiro encontro. Será que já não pode considerar-me um amigo?
__Não se ofenda, mas, acho que ainda é cedo para saber se posso considerá-lo meu amigo!
__Não me ofendi. O tempo vai mostrá-la que pode confiar em mim!
Ele afirma olhando-me de modo meigo, e mesmo sentindo como se o seu olhar invadisse a minha alma em busca de algo que está adormecido, e nem eu mesma sei que existe, o meu coração dispara quando ouço leves batidas à porta do quarto.
Nesse momento o meu pensamento é um só. Ivo finalmente chegou para capturar-me. É claro. Só pode ser isso.
O senhor Veranese certamente me denunciou e toda essa conversa sobre amizade e confiança era somente para ganhar tempo, e impedir que eu partisse antes do comandante aparecer, e agora, realmente não tenho saída.
Olho para aquele homem diante de mim, que agora encara-me com seiredade, atento a todas as minhas reações, e não consigo acreditar que por um momento, pensei que poderia fazer dele meu amigo. Como pude ser tão idiota?
Outra batida a porta é ouvida e dessa vez com um pouco mais de vigor do que anteriormente, como se estivessem com pressa para entrar, o que só me dá mais certeza de que é Ivo do outro lado, e não sei o que vou fazer agora.
Olho ao redor rapidamente e não encontro nenhuma rota de fuga segura, pois a única saída é a porta, por onde Ivo certamente entrará, assim que alguém abri-la.
Meu coração está cada vez mais angustiado e aquele homem parece bastante calmo diante de mim. Por várias vezes em uma fração de segundos, olho para ele e para aquela porta, sem entender porque não acaba com essa tortura de uma vez por todas, pois se mantém imóvel naquela poltrona, como se estivesse se divertindo com todo o meu visível desespero, e somente quando as batidas ecoam pela terceira vez, é que ele decide enfim levantar-se, e segue até a porta.
Assim que a porta se abre imagino que Ivo Malta entrará com tudo para prender-me e, até já esperava por isso, no entanto, nada acontece.
O senhor Veranese fica parado de costas para mim enquanto conversa e gesticula com alguém do outro lado, e embora eu me esforce para descobrir quem seja, não consigo ver nada.
Olho em volta rapidamente ainda tentando encontrar uma maneira de fugir desse lugar, e a única alternativa que vejo, são as janelas à minha esquerda, no entanto, não sei se essa seria uma boa ideia, afinal, não conheço o lugar onde estou e pode não ser seguro tentar fugir por ali, porém não terei escolha. Se Ivo entrar por aquela porta, a minha saída certamente será a janela.
Já estou quase levantando-me da cama, quando o senhor Veranese volta para dentro do quarto trazendo uma bandeja em suas mãos, e nela posso ver um bom prato de sopa, alguns pedaços de pão e também um grande copo de água, o que deixa-me duplamente aliviada. Primeiro porque, só agora percebi que não se tratava de Ivo, afinal de contas, e segundo porque, o cheiro delicioso daquela sopa fez-me perceber o quanto estou faminta.
__Espero que esteja com fome. Mandei preprar-lhe uma sopa bem nutritiva!
Ele diz já pondo, cuidadosamente a bandeja sobre as minhas pernas.
__Obrigada. Não tinha me dado conta, mas estou realmente faminta!
Respondo já começando a comer, enquanto ele volta a sentar-se na sua poltrona e me observa com um pequeno sorriso de satisfação.
Como em silêncio por alguns instantes e aquela sopa está realmente divina.
__O que houve?
Pergunto ao olhar para ele e ver que ainda me observa, mas agora não mais sorrir, pois seu semblante parece entristecido.
__Achou mesmo que eu tinha denunciado você?
Ele pergunta de forma direta, como se as minhas suspeitas o tivesse ofendido grandemente.
__Desculpe, mas já disse que a vida me ensinou a não confiar em estranhos!
__Eu já disse que não sou um estranho! Mas não importa. Vou provar que mereço ser seu amigo e que pode confiar em mim!
Ele afirma já voltando a sorrir e sinto o azul do seus olhos invadirem a minha alma, de modo a deixar-me desconcertada.
__E...Essa sopa está uma delícia!
Digo já voltando a comer tentando desviar os olhos dos dele, pois não consigo entender porque toda vez que o olho, sinto como se uma força mística me atraísse profundamente.
Enquanto termino minha refeição, o senhor Veranese continua ao meu lado, e até faz inúmeras perguntas ao meu respeito, querendo saber um pouco mais sobre mim, o que não é estranho, afinal, qualquer pessoa iria querer conhecer melhor quem coloca dentro da sua casa, no entanto, sou um pouco evasiva nas minhas respostas. Não posso dar muitos detalhes sobre a minha vida. Disse apenas que vivo aos arredores de São Martim, quando me perguntou onde moro, e que não tenho ninguém, quando quis saber se precisava que avisasse alguém sobre onde estou, o que não deixa de ser verdade, pois os meus pais se foram, quando eu ainda era uma criança.
__Estava tudo uma delícia. Muito obrigada!
Digo após acabar de comer, pois realmente estou satisfeita.
__Fico feliz que esteja melhor, mas agora aconselho que descanse. A Senhorita ainda precisa se recuperar!
Ele afirma ao retirando a bandeja, já preocupando-se em me fazer descansar.
__Obrigada!
Agradeço após ele acomodar os travesseiros para que eu fique confortável, e tenho apenas um leve sorriso como resposta.
...****************...
CONTINUA...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 29
Comments