III

Durmo bem naquela noite, o que me surpreende. Só não esperava que seria levada ao meu sonho frequente.  Como sempre, seu rosto é vago na minha mente, só consigo distinguir seus olhos escuros e suas sobrancelhas grossas. Aqueles

olhos que me prendiam no lugar, enquanto suas mãos passeavam pelo meu corpo, como se já conhecesse o caminho. E não me surpreenderia, se de alguma forma, já conhecesse.     O sonho toma a direção que mais esperava. Em vez de me segurar em pé, como várias vezes fazia, com minhas pernas em volta de sua cintura, ele me tem segura sob ele na cama, seus dedos fortes prendendo meus pulsos.

Eu o sinto se movendo dentro de mim, seu pau longo e grosso, enquanto invade meu corpo, e o calor aumenta sob minha pele, meus mamilos duros e pulsando quando esfregam nos músculos do seu peito.

— Por favor — Imploro, enrolando minhas pernas em volta do seu quadril quando seus olhos intensos olham dentro dos meus. —, mais forte, por favor. Eu preciso de você.

Estou cheia daquela necessidade, ela explode dentro de mim, quente e sombria, e ele sabe disso. Ele sente isso. Posso ver na frieza do seu olhar de prata, na forma cruel da sua boca sensual. Seus dedos apertados nos meus pulsos, cortando minha pele como um lacre, e seu pau se transforma numa lâmina, me abrindo, fazendo-me sangrar.

— Mais forte — Imploro, meu quadril se levantando para encontrar suas estocadas. — Não me deixe. Me possui mais forte.

Ele faz exatamente isso, cada estocada me abrindo, e eu grito de dor e me viro de prazer, com alívio e doce agonia.Eu grito ao morrer nos seus braços, e essa é a melhor morte que posso imaginar.

Acordo com o meio das minhas pernas pegajoso e latejando e meu estômago doendo com náuseas. De todas as peças que meu cérebro tem me pregado, esses sonhos pervertidos são as piores. Posso entender os ataques de pânico e a paranoia, eles são o resultado natural do que passei e estava passando, mas não tem nada de natural nesses pesadelos com inclinação sexual. Apenas pensar neles me faz ficar envergonhada, como se fosse um pecado grave, diante do cenário em que me encontrava.

Meu coração dá um salto dentro do meu peito, quando vejo perto da cama, em pé, minha aia, Raya. Ela percebe que me assustei, pois arregala um pouco os olhos.

- Me desculpa, Amira - diz num tom baixo - Mas recebi ordens para acordá-la.

- O que a minha mãe encontrou de tão importante, para eu fazer essa manhã? - digo sentando na cama, percebendo que em poucos instantes acordada, que meu humor não estava diferente dos últimos três dias e tinha a certeza que estava num declínio para uma possível depressão.

- Não foi sua mãe, princesa.

Ergo o olhar de imediato do colchão, fixando-os em Raya.

- Não?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

- Foi Omar - murmura - Ele não quer que ocorra atrasos para a cerimônia.

Solto o ar que estava prendendo, lembrando daquele pequeno trágico detalhe. A coroação de Zayn como Emir. Se me dissessem isso anos atrás, eu riria da pessoa até perder o fôlego, pois nunca o conseguiria imaginá-lo como alguém importante, principalmente um Emir.

Afasto as cobertas de cima do meu corpo, levantando, tendo Raya ao meu lado como num piscar de olhos, me ajudando. Mesmo eu podendo muito bem pentear meu próprio cabelo e me vestir, ela fazia questão disso, já que segundo ela, era a obrigação dela me ajudar.

Quando Raya pega uma abaya lilás, por um instante esqueço que o período de luto permitido, já havia terminado e que poderia voltar a me vestir normalmente, mesmo meu desejo não sendo este. E apesar de ser eu no reflexo do espelho, não me sinto eu mesma dentro daquele abaya, era como se outra pessoa tivesse ocupado meu lugar ou só fosse apenas o luto ainda recaindo sobre mim.

Acompanhada por Raya, dispenso o dejejum e vou para o salão principal, aonde segundo ela, todos estavam se reunindo para a cerimônia.

O salão amplo, com quatro pilastras grossas em cada canto, cujo piso estava sempre brilhando, estava repleto de pessoas. Pessoas essas que tinham cargos importantes e eram apoiadores do antigo reinado. Logo a frente, podia ver com clareza Amina e Layla, ansiosas para a coroação, conversando com algumas pessoas que estavam por perto, até aquele momento não havia visto minha mãe entre as pessoas mas, logo deduzi que deveria estar se arrumando, já que temia passar a imagem de estar descuidada.

Os minutos começam a se arrastar e até cogito a ideia de terem visto que era um verdadeiro erro coroar alguém como Emir, como Zayn. E que iriam suspender a cerimônia. Mas é claro, que a decepção ficou estampada em meu rosto, quando vi Zayn aparecer diante do público vestido numa túnica dourada e branca que, por sinal havia ficado muito bem nele.

Balanço a cabeça bruscamente, pressionando meus lábios com força, me repreendendo. Nem roupas feitas de ouro, iriam esconder toda a prepotência que existia em alguém como ele.

Omar se encarregou em fazer um breve discurso, que de breve não teve nada, lembrando toda a trajetória do reinado do meu pai e como ele foi benéfico, trazendo muitas abundâncias. Na vez de Zayn, ele fez questão de ressaltar que não iria desapontar seus súditos e que seu reinado seria lembrado para sempre.

Estreito os olhos, sentindo meu maxilar doer por tamanha pressão que estava colocando.

- E para isso acontecer, todos sabem que terei que me casar, para garantir que aja herdeiros no futuro - diz com a voz firme, no silêncio que estava o salão. Parecia que todos estavam segurando a respiração, ansiosos para saber qual das filhas se casaria com ele - Minha primeira esposa, será Amira.

O silêncio continuou por mais uma fração de segundo, enquanto os presentes ali se olhavam e sussurros quase que auditíveis surgiam. Olho para Raya, pasma, olhando em seguida para Zayn, sem conseguir entender o plano maléfico dele e também não importava, eu não iria me casar com ele.

Ainda em pé no final do salão ao lado das grandes portas de madeira, dou alguns passos para trás, antes de girar meu tronco e sair as pressas do salão, correndo, ao sentir que Raya me seguia como uma sombra. Eu queria gritar só de raiva, pela raiva que estava sentindo naquele momento do idiota que havia sido coroado como emir.

O quê ele achava que estava fazendo? Não era possível, que estava mesmo convicto de que iria me casar com ele. Não quando havia deixado claro o ódio que sentia por ele e que sabia que ele sentia por mim. Era mútuo! Ele não podia ignorar este sentimento, assim como eu.

Passo por alguns guardas rapidamente, após sair do palácio e como imaginei poucos passos depois, ambos me seguem, como o protocolo, que agora deveria estar mais rígido.

- Não preciso da companhia de vocês - digo virando andando de costas, olhando para ambos separadamente, antes de voltar a andar.

Por um momento achei que iriam me obedecer, já que eu era a filha do emir, mas estava completamente errada, já que ouvi o rádio com eles chiar e ambos trocarem rápidas palavras, antes de voltar a me seguir.  E naquele momento, por alguma razão, senti que as coisas não eram mais como antes, que não só eu, mas o palácio num todo, iria passar por mudanças. E não conseguia ver essas mudanças como algo bom.

- Princesa - Um dos guardas chama, mas continuo andando, o ignorando, fingindo que por algum motivo minha burca estava impedindo de ouvir direito - Princesa Amira - Ele eleva a voz firme e máscula, tentando chamar minha atenção.

Aumento meus passos, sabendo que não havia para onde ir dentro dos muros do palácio, muito menos onde se esconder.

E antes mesmo que mais um pensamento surgisse em minha mente, um dos guardas passa na minha frente, impedindo que eu continuasse andando.

- Princesa Amina - diz este com a voz suave - Sua presença está sendo solicitada no interior do palácio.

Encaro ele sentindo lágrimas embaçarem minha visão, me sentindo idiota por isso, por estar demonstrando fraqueza, quando era para me manter firme. Eu queria fazer isso, mas não era tão fácil quanto imaginava e naquele momento, só queria o colo da minha mãe e ouvir alguma palavra sensata do meu pai.

O guarda não esperava ouvir alguma contestação da minha parte, simplesmente indica de uma forma gentil e educada, o caminho de volta para o palácio que, ocorre com um silêncio esmagador.

Faltando poucos passos para entrar no palácio, noto a presença de Omar diante das grandes portas. Seu olhar era ameaçador, além da expressão de seu rosto não sendo nem um pouco convidativa.

Erguendo uma das mãos, faz com que os guardas se afastem, me deixando sozinha com ele.

- Princesa Amira - diz forçando gentileza - Não deveria estar aqui fora num momento tão importante.

- Não vejo essa coroação como importante.

- Deveria ver como importante - diz mantendo a gentileza forçada - Já que se casará com o novo emir.

Engulo em seco, precisando fazer um grande esforço para não gritar tudo que estava achando sobre aquela ideia.

- Não quero me casar com Zayn - Me negava a chamá-lo de emir.

- A princesa não tem escolha.

- Se eu não estiver aqui, ele terá que se casar com outra - No momento, não soube bem o que quis dizer com isto, se iria apelar para um suícidio ou simplesmente tentaria fugir do palácio, claro que a segunda opção era mais viável e menos dolorosa.

Com um sorriso leve no rosto, sem mostrar os dentes, Omar encurta o espaço entre nós, fazendo com que o sorriso sumisse, ao estar a poucos centímetros de distância de mim, sustentando meu olhar.

- É melhor não tentar prejudicar o emir, pode não gostar das consequências, Amira.

Inclino a cabeça para o lado, entre abrindo os lábios.

- Isto é uma ameaça, Omar? Esqueceu com quem...?

- Said não está mais entre nós - diz ele sério, elevando a voz - Por agora, só tem o título de princesa, assim como sua irmã - Ele me olha de cima a baixo - Deveria estar contente, por ser a primeira esposa.

Não sabia o que me surpreendia mais, as palavras nunca ditas por Omar ou a agressividade em sua voz. Sem dúvida era a agressividade, já que ninguém, até aquele momento, ousava falar de tal forma comigo.

A tensão diminui rapidamente, quando ouvimos os passos rápidos da minha mãe vindo na nossa direção e pelo seu andar, já deduzi que estivesse com pressa ou preocupada.

- Amira - diz pouco passos de nós.

Omar se adianta em por um sorriso no rosto, se virando para ela.

- Samira, está tudo bem. Amira estava no jardim.

Minha mãe me olha desapontada.

- Amira - diz me repreendendo - Isto é hora de estar no jardim? - Ela passa as mãos pelas mangas do abaya, tentando desamassar alguma coisa.

- Se me derem licença, tenho que voltar para o salão - diz Omar, olhando fixamente para mim, antes de se afastar.

Espero ele se afastar o suficiente, para me virar para a minha mãe, tirando a burca de parte do meu rosto.

- Mãe, por favor - digo rapidamente, com a voz num suplício - Não quero me casar com Zayn. Eu não quero - As lágrimas voltam para meus olhos, embaçando a imagem da minha mãe em minha frente - E o Omar ele praticamente me ameaçou. Eu... eu...

- Amira - diz ela séria, segurando os meus braços.

- Me escuta, mãe.

Ela me sacode.

- Me escuta você - diz ainda mais séria, a voz séria, assim como seus olhos. Apesar da burca estar cobrindo parte de seu rosto, sabia que estava séria por de trás daquele pano - Você foi escolhida como primeira esposa e vai fazer jus a este título.

- O quê? Não, mãe. Não posso. O Omar...

- Está fazendo de tudo para nos manter bem e deveria ser grata á ele por isto - Não consigo ter uma reação adequada diante do comportamento da minha mãe. Ela estava agindo como Omar ou se não pior, pelo menos esperava que ela me apoiasse ou que fingisse, não que me obrigasse a me casar com uma pessoa que eu não queria, que vi se infiltrar na nossa família e que agora estava tomando o lugar que pertencia ao meu pai! - Agora se recomponha - Ela arruma a burca em meu rosto - E vá cumprimentar as pessoas que estão no salão - Sua voz soa entre dentes e ainda mais ameaçadora do que a voz de Omar - Estão todos querendo saber aonde você está e precisei mentir que estava terminando de se arrumar.

Ela se coloca ao meu lado, segurando meu braço, enquanto andávamos em direção do salão. No caminho, cumprimentamos algumas pessoas, diferente de mim, minha mãe conversa com todos com uma naturalidade impressionante, enquanto eu só conseguia dizer breves palavras, já que sentia como se tivesse um nó na minha garganta.

O salão estava cheio e não demorou para que uma pequena multidão se colocasse ao meu redor, me parabenizando pelo noivado e futuramente o casamento. Eu só conseguia agradecer, mesmo sabendo que não estava nem um pouco satisfeita com aquela decisão, assim como Amina, que me encara do outro lado do salão ao lado de Layla. Com o olhar, tentava lhe dizer que se pudesse mudar de lugar com ela, mudaria sem pensar duas vezes, já que ela ficaria mais contente do que eu.

O clima ao meu redor não demorou para mudar bruscamente, em se tornar pesado, quando os olhares mudaram de mim para a figura que se colocava em minhas costas. Não ousei me virar, pois já sabia muito bem quem estava ali. Conhecia aquela energia e a reconhecia até em baixo de água.

Zayn se coloca ao meu lado, conversando com as pessoas em nossa frente, mostrando uma leve animação com tudo que estava acontecendo. No momento, em que ele coloca gentilmente a mão em minha cintura, me afasto gentilmente, olhando para ele em seguida, esperando que ele entendesse que o que fosse que estivesse planejando, não teria êxito algum comigo.

Ele sustenta meu olhar por poucos segundos, antes de voltar para a conversa que prosseguia.

Me mantenho ao seu lado, desejando com todas as minhas forças que o chão se abrisse em baixo dos meus pés e me engolisse ou que o palácio fosse atacado mais uma vez, não me importaria se uma das duas coisas acontecessem, só queria que Zayn se afastasse de mim, que voltasse a não existir para mim e que tirasse da cabeça dele, aquela ideia insana de casamento, aonde nem nos meus piores sonhos, conseguia imaginar se realizando.

Quando o ar já estava ficando difícil de respirar, tento sair do salão disfarçadamente, mas como de imediato, sinto uma mão grande cobrir meu pulso, por um instante achei que fosse Omar, me lembrando da nossa breve conversa, mas só bastou olhar para trás, para perceber de que se tratava de Zayn.

Eu poderia xingá-lo naquele momento. Poderia. Mas acontece que fui muito bem educada e não permitia malcriações na frente de convidados, principalmente de tamanha importância. - Se me dão licença, preciso ir até o toilet - digo olhando para os nossos convidados, que assentem em concordância. Olhando para Zayn, puxo meu pulso disfarçando a agressividade naquele gesto, andando em passos largos para fora do salão, seguida por Raya.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!