Nojo. É tudo o que eu passei a sentir de Juliano. E decepção, mágoa por saber que não há nada que eu possa fazer para mudar a minha situação. Já liguei algumas vezes para minha mãe e me surpreendi quando ela foi compreensiva. Claro que ainda jogou algumas verdades na minha cara, mas me entendeu e garantiu que me apoiaria.
Mas, infelizmente, ela não pode me ajudar no momento. Afinal, ela não tem casa própria. Depois que meu pai morreu, ficamos sem nada e como não conseguiu pagar a hipoteca da nossa casa, ficamos sem ela. Hoje, minha mãe trabalha como merendeira em uma escola pública e o seu salário é quase nada, não teria como ela me ajudar e eu entendo perfeitamente.
Demoraria muito para eu conseguir um emprego. E tenho a impressão de que ela está escondendo algo de mim.
Juliano me garantiu que a ajudaria no que pudesse antes de nos casarmos. Ele até fazia isso enquanto estávamos noivos, mas tudo mudou e agora, já não manda um centavo para a minha mãe. Ela precisou se mudar para o Rio de Janeiro e até hoje não sei onde ela está morando e tenho medo de saber, sinceramente.
Tenho a impressão de que não é em um lugar nada bom.
E eu não gosto de pensar tanto nisso. Porque me sinto impotente, inútil por saber que minha mãe está numa situação precária e que não posso fazer nada. É tão triste.
Já pensei em trazê-la para morar comigo, mas ela prefere a morte a isso e meu marido também não a quer por perto.
Ele não quer ninguém que me ama por perto.
— Droga. — ele resmungou baixinho, encarando a estrada à nossa frente.
Estávamos fazendo algumas compras no supermercado. Juliano insistiu para vir comigo pois é "perigoso" andar sozinha por aí e tenho a impressão de que tem haver com esse novo emprego dele.
Ele acelerou ainda mais o carro e passou a olhar repetidas vezes pelo retrovisor. Fiquei desesperada, então olhei também e me assustei ao perceber que haviam dois carros pretos nos seguindo.
E eu tenho certeza que estavam nos seguindo, pois assim que entramos em uma rua totalmente aleatória e que com certeza não nos levará para a nossa casa, eles vieram bem atrás e Juliano começou a se irritar profundamente. — Bando de filhos da p̶u̶t̶a̶! — gritou alto, batendo diversas vezes no volante.
Arregalei os olhos. — O que está acontecendo? — perguntei na hora do pânico, me esquecendo completamente de que, quando ele está irritado, o melhor é não fazer perguntas.
— Melissa, fica na sua! Só fica na sua, merda! — disse rígido, ainda mais alto, virando uma outra esquina e então entramos numa outra avenida movimentada.
O trânsito de São Paulo a essa hora está um caos. Fiquei ainda mais nervosa ao perceber que estamos numa via de mão dupla, mas Juliano está percorrendo mais a contramão. — Juliano! — eu gritei desesperada, e quando ouvi sons de tiros serem disparados contra nosso carro, senti como se meu coração parasse de bater por um segundo.
Aconteceu tudo muito rápido e, em cerca de segundos, já estávamos rodopiando pela pista. Foi aí que percebi que eles atiraram no pneu do carro. Eu gritei, gritei muito alto e Juliano também, mas já era tarde para manter o controle da direção.
Fomos atingidos na traseira por uma caminhonete. Depois do impacto, quase voamos na direção da outra pista. Batemos em mais alguns carros, mas, por sorte, alguns haviam parado no momento do acidente.
Eu só lembro de bater a cabeça com muita força no para-brisa e uma dor aguda no rosto, seguido de um líquido quente escorrendo pelo meu pescoço.
Fomos socorridos não muito tempo depois. Fiquei sabendo, mais tarde, que fui resgatada inconsciente, mas meu marido estava acordado. Os homens que estavam nos seguindo não nos mataram por um milagre, eu ainda acho que eles pensaram que morreríamos com o acidente.
Virou caso de polícia, mas não deu em nada. Constataram que só estavam tentando nos roubar e eu devo admitir que Juliano ficou extremamente feliz depois de saber que o caso havia sido arquivado. Caso continuasse, ele poderia até ser preso por estar envolvido com o que não se deve.
E até agora eu não sei o que ele anda fazendo.
Eu quebrei a mão esquerda e acabei cortando o rosto no momento em que a janela que havia do meu lado se partiu em pedaços. O corte foi profundo e rasgou a minha bochecha, deixando, posteriormente, uma cicatriz que me faria lembrar desse fatídico episódio pelo resto da minha vida.
Juliano se ferrou ainda mais, mas ele não se importou com nada disso. Quando acordou, fez algumas ligações e ficou meio preocupado com o que ouviu da pessoa que o atendeu, mas não comentou nada comigo. Na verdade, ele ao menos pareceu se importar com meu estado de saúde, só perguntou se eu estava bem após uma visita de dez segundos no meu quarto e sequer se desculpou por quase me matar.
Eu descobri que, depois do envolvimento do meu marido com essas pessoas, eu virei um alvo e sei que podem me matar a qualquer momento, como se eu tivesse algo haver com o que ele anda fazendo.
Semanas depois, ao voltarmos para casa, precisei cuidar dele mesmo estando com a mão enfaixada e o rosto inchado, dopada de remédios pra dor. Juliano não teve dó de mim e garantiu que estava pior. Ele ainda disse: — Eu passei por isso por sua culpa, porque quero te dar uma boa vida. Foi por isso que você se casou comigo, Melissa. Eu sei. — e eu não pude sequer refutar, pois o mesmo não me deu brecha.
Afinal, ele acha que é o dono da razão.
Nos recuperamos depois de um tempo, mas a cicatriz continuou no meu rosto. Eu já achava horrível e me sentia mal por aquilo, mas não falava nada por estar grata por ter sobrevivido. Até Juliano comentar que, me ver com àquela cicatriz era 'broxante". Ele também passou a não olhar para o meu rosto enquanto fazíamos sexo.
Passamos a não sair muito na rua. Mas ele decidiu contratar seguranças e motoristas para auxiliar na segurança de casa e até na nossa segurança mesmo. Haviam quatro motoristas, estes que faziam, entre si, rodízios. Uns vinham um dia, outros vinham em um outro dia.
Juliano me apresentou todos eles. Só faltou um. E ele me disse que o nome desse último era Kevin. Não me apresentou-o antes pois ele não pôde vir por uma urgência em sua família, mas finalmente nos conhecemos em uma tarde de quarta-feira, quando Juliano sairia para uma outra reunião com seus "sócios" que eu já considerava como capangas.
A essa altura, eu já tinha noção de que o que o meu marido fazia era ilegal e muito, mas muito ruim.
Não que eu já não soubesse antes. Eu só não queria admitir para mim mesma.
— Este não é o seu motorista, mas vou apresentá-los para que você fique sabendo quem é quem. Os seus são o Lucas e o Fernando. — concordei, caminhando com ele até o lado de fora da nossa casa, que era onde o carro nos aguardava.
Juliano vai "trabalhar", mas aceitou me deixar no hospital para que eu possa retirar os pontos do meu rosto (Lucas iria me buscar depois). O corte já está quase cicatrizado, mas ainda preciso colocar remédios e pomadas para acelerar o processo de cicatrização.
Assim que passamos pela porta, eu o vi. O rapaz estava encostado na lateral do carro e tinha os braços cruzados.
Quando eu pus meus olhos nele e o percebi olhar para mim também, eu senti algo em mim estremecer. O rapaz meio que sorriu de lado e se afastou do veículo, passando as mãos pelo seu terno bem passado, acenando respeitosamente para o meu marido. — Boa tarde, senhor. — ele disse, sua voz grossa me causou arrepios, mas tentei imediatamente disfarçar.
— Boa tarde, Kevin. — Juliano respondeu e o homem olhou para mim de novo. — Ainda não pude apresentá-los, mas essa é a minha esposa: Melissa. — o tal Kevin assentiu, fazendo um gesto com a cabeça.
— É um prazer conhecê-la, senhora.
E, a partir desse dia, minha vida – que já estava virada de pernas pro ar – capotou.
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Maria Sena
Tomara que este Kelvin tenha culhao e seja macho o suficiente pra ajudar ela.
2024-08-19
0
Neria Silva
lamentável essa história
2024-01-21
2
Cris Ferreira 🖤
🖤 eu te entendo Melissa 🤣🤣🤣🤣🤣
2023-12-15
0