No outro dia, Angel acordou com o barulho frenético do despertador. Ela caminhou até o banheiro para poder fazer sua higiene pessoal, e Gabriel que ainda estava acordado apenas continuou assistindo televisão. Ele já havia assistido vários canais, mas nenhum o agradava. Até que em um deles, algo lhe chamou atenção. Em um dos jornais locais, eles anunciaram a morte de uma jovem garota que faleceu na noite de ontem. Gabriel percebeu algo surpreendente, a menina morta era muito parecida com Angel. A única diferença das duas, eram as sardas. Gabriel começou a ligar os pontos, e se ele estivesse certo, essa menina era a garota que Angel havia esbarrado - Ele estava presente na hora em que as duas tinham se chocado uma na outra - "Talvez o destino de Angel mudou quando tocou na garota.".
A jovem saiu do banheiro, colocou sua calça jeans escura, uma regata branca e seu coturno preto. Sua vida era tão agitada que mesmo vendo Gabriel sentado no sofá, ela apenas respirou fundo e pensou: "Não foi só um sonho", antes de ir até a cozinha procurar algo para comer. O ceifeiro viu a garota, porém estava tão focado fazendo teorias em sua mente do que tinha acontecido que nem prestou atenção quando ela se aproximou.
- Meu Deus! - Angel colocou a mão na boca - Essa é a garota que eu vi ontem.
- Conhece ela? - Gabriel perguntou, agora prestando atenção na garota.
- Mais ou menos... Eu a vi ontem quando estava voltando para casa. Ela parecia tão apressada que acabou esbarrando em mim. Se não fosse a luz do poste não teria conseguido reparar em seu rosto.
- Angel, talvez quando ela esbarrou em você, o destino das duas mudou. Na verdade, é uma grande possibilidade.
- Está dizendo que ela morreu por minha causa?
- Ainda não tem como saber. Esse tipo de coisa é raro de acontecer, mas, se as duas estavam marcadas, isso aconteceria.
- Então de qualquer forma ela iria morrer?
- Exatamente.
- Entendi…
- Precisamos ir até o local.- Gabriel apontou para a televisão.
- O quê? Ficou maluco?
- Preciso vê a garota. Se ninguém vier recolhê-la, ela ficará perdida em seu mundo. - Gabriel se levantou e caminhou até a porta, só que antes de sair da casa, Angel o impediu segurando em seu pulso.
- Mas, ela já deve estar no necrotério. Nunca deixariam você entrar lá.
- Loirinha irritante, Você é a única que consegue me vê e me tocar. Mesmo se eu estivesse em um lugar movimentado, você seria a única a me vê.
- Todos os humanos com almas marcadas podem ver os ceifeiros?- Angel estava curiosa quanto a isso. Por outro lado, Gabriel estava furioso por cometer o erro de tocá-la e agora ela poder vê, ouvir e toca-lo. Em seus 200 anos, ele nunca havia quebrado uma regra antes, mas por impulso, acabou o cometendo.
- Alguns... Agora, preciso ir. - Ela soltou seu pulso, e ele saiu da casa dela em busca da outra garota. Como outra pessoa havia morrido, Gabriel poderia entrar em contato com algum outro ceifeiro para tentar resolver seu problema com a menina Angel.
No necrotério, ainda estavam algumas pessoas fazendo a autópsia para saber a causa da morte. Gabriel já sabia quem foi que a matou, só estava esperando algum ceifeiro aparecer para poder entrar em contato com eles. Ele sabia que ninguém havia levado a alma da garota, pelo simples fato de ela estar agachada chorando no canto da sala. " maldito assassino. Matou duas pessoas em duas noites seguidas. Se ninguém fizer nada, mais e mais pessoas inocentes irão morrer".
Uma pequena nuvem escura se formou atrás de Gabriel, e Thiago saiu dela com sua esfera em mãos. O garoto ficou confuso por ver Gabriel ali, mas logo o cumprimentou.
- Gabriel, meu amigo, o que faz aqui?
- Estou tentando resolver um grande problema em que me meti. Não sabia que você iria levar a garota.
- Nem eu. - Thiago riu - Sabes bem que nunca pego casos assim. Só que como você estava fora, eu tive que ficar com ele. Os superiores estão bravos com sua demora. Arthur está fazendo de tudo para tomar o seu lugar.
- Aquele filho da... - Thiago acabou se assustou com a "garota" que se aproximou deles.
- Vocês conseguem me vê? - A pobre menina perguntou com esperança.
- Sim, não se preocupe querida, estou aqui para ajudá-la.- Thiago falou para a menina que ficou calma ao ouvir isso.- Pode esperar um pouco? - Ela assentiu em resposta. - Obrigado. Agora - Thiago olhou para Gabriel - me explique por que ainda está aqui.- Perguntou ele.
Gabriel então lhe contou tudo o que eu aconteceu, só tomando cuidado para não falar que a alma da menina falecida, virara uma por um erro temporal. Thiago entendeu a grande enrascada em que seu amigo se meteu. Ele então decidiu ajudar Gabriel e, informou que assim que voltar para seu mundo, ele iria procurar registros para ver se algo assim aconteceu antes.
- Tem mais uma coisa... Pesquise sobre a garota chamada Angel Hagebak. Tem algo nela que é diferente dos outros humanos.
- Pode deixar. - O jovem ceifeiro entrou no portal dos mundos, acompanhado da falecida menina.
Gabriel tinha dúvidas sobre a origem de Angel. Claro, ela conseguia lhe vê porque ele a tocou, mas, não poderia tocar-lo de volta a menos que estivesse morta. Ele também sentia sensações estranhas quando estava no mesmo lugar que ela. Ao que parece, ela também não tem pais e nem amigos. Seu único conhecido é o garoto drogado - Brian.
Pela primeira vez, ele sentiu pena de um humano. Morrer e não ter ninguém nem para velar seu corpo, deve ser algo horrível.
Em outra parte da cidade, Angel trabalhava atendendo as pessoas no pequeno mercadinho. O dono era alguém que ela conhecia, por isso ele deu trabalho para a garota.
Todos em Eventide conhecia a garota pelo seu bom atendimento. Inclusive o pequeno Keve, que sempre fazia pequenas compras lá a pedido de sua mãe. As pessoas a chamavam de "Anjo''. Pena que não podia enxergar a verdadeira dor em sua alma, que ela lutava tanto para não demonstrar.
- Oi, tia Anjo. - Keve falou enquanto colocava os produtos para Angel poder passá-los.
- Olá, Keve. Fazendo compras de novo? - Ela dizia com um sorriso no rosto. Seu único sorriso sincero era dado ao garoto de 11 anos.
- Sim! Mamãe pediu para comprar leite e outras coisas para casa.
- Entendo, e, como está a dona Maria? - Angel colocou todas as compras do garoto na sacola, e ele lhe entregou o dinheiro.
- Está bem, ela só não sai tanto de casa quanto antes…
- Por causa do seu padrasto de novo? - O garoto timidamente assentiu.- Olha, não fique assim. Daqui a algum tempo as coisas irão melhorar. Enquanto isso, por que não vai brincar com seus amigos depois de entregar as sacolas para sua mãe?
- Isso parece uma ótima ideia, tia. - Ele sorriu para ela - Preciso ir logo para casa ou mamãe ficará preocupada. Tchau, tia!
- Tchau Keve. - Angel acenava para o garoto se despedindo do mesmo. Ela conhecia a mãe dele. As duas trabalhavam juntas até que Maria conheceu Renner. Um policial que mais a maltratava que amava ela. Angel até tentou convencer a moça a deixar ele e o denunciar. Só que assim como outras mulheres, Maria tinha medo dele fazer alguma coisa. Ela só esperava que no final, tudo acabasse bem.
Já era tarde quando a garota saiu do trabalho. Angel precisou ir ao banco para ver se tinha todo dinheiro que Brian pediu. Porém, ela não tinha nem metade do valor que devia. Ela sempre soube que não deveria ter pego o dinheiro em sua mão, mas precisava pagar as dívidas que havia feito.
Quando tinha 17 anos, Angel acabou entrando no mundo das drogas e pegou empréstimos no banco. Seu avô antes de morrer, deixou uma quantia alta de dinheiro para ela. Só que por causa desse erro, ela gastou quase tudo que possuía. Angel estava tão cansada da vida que tinha, que com ajuda de Maria, ela conseguiu se curar do vício. Os últimos meses foram os mais difíceis para ela, mas com o tratamento adequado e muito esforço, as drogas pouco a pouco foram saindo de sua vida. Fazia apenas um ano que Angel foi curada totalmente e, ela tentou ao máximo não chegar perto dos vícios outra vez.
Brian enquanto ainda era seu namorado, emprestou uma alta quantia para ela poder pelo menos morar em um lugar confortável. Só que ele era um perfeito agiota e Angel só percebeu isso quando o deixou.
A garota colocou as mãos no bolso de seu casaco e passou a caminhar pelas ruas. Já eram 22h e Angel ainda não teve notícias do seu “amigo Anjo da morte”. Ele havia dito que iria ver o corpo da falecida, mas ela nem sabia se ele iria voltar ou não.
Os finos flocos de neve caíam sobre suas madeixas e rosto. Por sorte, a menina tinha se lembrado do cachecol preto que ficou tanto tempo guardado. Ele protegia seu pescoço, fazendo com que seu corpo permanecesse quente. Angel entrou em uma das ruas e, a cada passo que dava, mais escuro o local se tornava. Quando já estava chegando perto da escadaria que a levava até sua residência, alguém a empurrou e a levou em um dos becos. Apavorada, Angel tentou gritar, só que a pessoa tapava sua boca impedindo qualquer som de sair. Ela também não podia fugir, já que o ser em sua frente a imobilizou por completo. A muito tempo Angel desejava seu fim. Ela só não esperava que fosse dessa forma.
— Finalmente eu te achei Angel. E, dessa garantirei que o meu serviço seja completado. — Disse o homem sorrindo diabólicamente para ela.
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Atualizado até capítulo 11
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