Capítulo 05

Pouco a vontade, Alice esperava na recepção do elegante escritório, usando uma calça jeans e uma camisa branca de botão. Era a melhor roupa que ela tinha para uma entrevista de emprego. A secretária, que estava usando um elegante terninho preto, olhou para ela com desdém.

- O senhor Cole está em reunião, mas em pouco tempo você poderá entrar. - Informou a antipática mulher.

- Obrigada. - Alice agradeceu admirando a magnífica vista da enorme janela da recepção, que ia de piso a teto.

Uma coisa era fato, Tio Cole continuava rico como sempre. Há 10 anos, Alice teve a infelicidade conhecer toda família Hayward. A experiência foi bem desagradável, pois Robert e Diana, filhos de Cole, a tratavam de forma insultante, por ela ser humilde e a mãe deles, Mary, não fazia nada para defender Alice, que era mais nova que ambos. Ela esperava não rever nenhum dos dois hoje. Quando Alice soube que o pai tinha ligado para pedir ajudar ao primo, ela ficou desesperada. Preferia 1000 vezes vender a casa do que pedir qualquer favor aquela família.

Infelizmente, Stephen não chegou nem a discutir aquela ideia com ela. Simplesmente ligou para o primo, explicou o que estava se passando e ele ofereceu uma entrevista de emprego para Alice em Nova York, que ficava a quase 5 horas de distância de avião da sua cidade. Ela tentou dissuadir o pai de todas as maneiras. Alice não queria deixá-lo sozinho, nem ter que pedir favor para Cole Hayward e muito menos ter o custo com aquele voo. Contudo, o pai não aceitou suas desculpe e deu um ultimato a ela: Alice podia aceitar aquela oportunidade de conseguir um emprego melhor e consequentemente, mais dinheiro ou Stephen não faria tratamento nenhum. A venda da casa não era uma opção para seu pai.

Sem saída, ela estava ali agora. Tudo pelo seu pai. Precisava de dinheiro e era essa a oportunidade que surgiu de imediato. Alice não sabia que emprego seria oferecido a ela. Apesar do curso básico de secretária, ela não tinha experiência e seu currículo era bem parco de qualificações.

- Senhorita Alice. - Chamou a secretária o perceber que ela estava distraída. - O senhor Cole vai receber você agora.

Assim que uma mulher saiu da sala do senhor Cole, Alice se levantou e seguiu em direção entrada que a secretária lhe indicou. Ela não teve nem a gentileza de se levantar para levar Alice até a porta.

Cole Hayward estava de cabeça baixa, lendo uma mensagem de texto, quando Alice entrou.

- Olá senhor Cole. - Alice cumprimentou o parente que há anos não via de forma polida. Não sabia se poderia chamá-lo de “tio” como fazia quando era criança.

- Olá Alice. Por favor, sente-se. - Respondeu Cole sem ao menos levantar a cabeça para encará-la.

- Faz muito tempo que não vejo o senhor. Como estão Diana e Robert? - Ela perguntou mais por educação do que por interesse genuíno.

- Estão todos bem. - Nesse momento, Cole levantou a cabeça tomando um susto. A menina sem graça que ele conheceu tinha se transformado em uma mulher muito bonita. - Não precisa me chamar de senhor. Me chame de tio, como sempre fez.

- Tudo bem, tio Cole. - Ela falou sem graça pela encarada que Cole deu nela.

- Ambos trabalham aqui na empresa. Diana é arquiteta e Robert é engenheiro igual a mim. - Cole tinha orgulho dos seus filhos, apesar de serem dos encostados. Trabalhavam na empresa que o pai construiu e a contribuição deles era irrelevante.

- Que boa notícia. - Ambos os primos tinham feito universidade. Um dia, num passado distante, isso também tinha sido o sonho de Alice. - Eu trouxe meu currículo para o senhor dá uma olhada.

Pegando um envelope que estava na sua bolsa, Alice entrou o documento a Cole, mas já tinha enviado anteriormente por e-mail. Só não sabia se ele tinha verificado o isso.

- Você se tornou uma jovem muito bonita. - Ele falou assim que começou a ler o currículo dela, que infelizmente, não era muito extenso.

Um pouco desconcertada por conta do elogio, Alice observava Cole Hayward, ao mesmo tempo que ele lia seu currículo. Ele era um senhor bastante conservado, de cabelo grisalho e que deveria ser um pouco mais velho que seu pai. O terno que ele usava exalava poder e riqueza. O escritório dele era tão grande quanto a recepção, um ambiente chique com muitas obras de arte. Tudo era muito impressionante.

Era evidente que Alice tinha o primeiro e segundo grau completo, mas não tinha nenhum curso superior. O curso técnico de secretária também estava registrado no currículo dela, assim como as línguas que ela falava.

- Você fala francês fluente? - Ele indagou surpreendido positivamente.

- Sim. - Alice confirmou um pouco ofendida pela expressa de surpresa nas feições dele.

- Eu preciso ser sincero com você, Alice. Apesar dos idiomas que você fala com fluência, seu currículo não é tão grande como deveria. - Cole não queria ofender Alice, mas precisava deixar clara sua inutilidade.

- Nos últimos anos, eu me dediquei mais a cuidar de papai do que dos estudos. - Alice explicou num tom triste. O tio sabia claramente da situação dela e do seu pai, o motivo para ela estar ali e ainda seu achou no direito de reclamas das faltas de qualificações dela.

- Você também tem um curso de datilografia. - Ele falou ainda lendo o currículo. - Bem, isso pode ser interessante. Eu tenho um emprego para você, Alice. Só não será aqui na minha empresa.

- Como assim? - Ela falou sem entender.

- Eu preciso que você se candidate a um emprego em uma empresa concorrente a minha. - Ele começou a explicar. - Obviamente, nós vamos precisar incrementar um pouco seu currículo, para que você possa conseguir um cargo interessante lá.

- Então, o senhor não tem um emprego para mim? - Ela falou com tristeza. A viagem para Nova York teve um custo alto para Alice.

- Calma. - Senhor Cole pediu ao perceber o nervosismo dela. - Isso que vou lhe oferecer é melhor ainda que um emprego aqui, mas primeiro você precisa ouvir tudo o que eu tenho a dizer, ok?

- Certo. - Alice fez que sim com a cabeça e Cole voltou a falar.

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