Estou parada em frente a casa, ele vem na minha direção, parece tão grande. Mas não tenho medo dele, abraço o seu pescoço. Ele carrega-me como se eu fosse uma boneca. Leva-me até a casa, lá tem outros como eles são pequenos. Suponho que sejam seus filhotes. Eles estão na minha volta brincando comigo. Ele apenas me observa. Vejo-me deitada e eles em volta. Era uma cama de cachorrinhos fofos. Até algo fazer com que todos saíssem correndo. Isso faz com que eu acorde. Ele ficou comigo, não sei o que aconteceu, mas ele ficou lá. Os seus olhos são da mesma cor da pedra do colar. Não sei o que acontece, apenas sinto a conexão. Ela entrou em casa, pegou-me no colo e falou algo. Não consigo entender.
Acordo do sonho, com uma voz me chamando. Sento na cama, acendo a luz do abajur. A porta do quarto está aberta. Não lembro de deixá-la assim. Procuro o jarro para tomar água. Está vazio, se a minha sobrevivência dependesse apenas de mim, estaria morta. Devo ser a única pessoa na face da Terra que esquece de comprar comida, de pegar água. A cabeça não esqueço, pois está colada. Mas um dia vou acabar perdendo ela. Levanto e vou na direção da cozinha. Sinto um cheiro forte, um cheiro a algo podre. Abro a porta, e deparo-me com os restos daquele cervo. Não é possível, como chegará até ali. O fedor era horrível. Como vou tirar isso daqui? Foi o que perguntei a mim mesma. Colocar em sacos e por na lixeira seria uma possibilidade. Não vai dar certo. Entro e procuro por uma pá. Encontrei, e fui para o quintal. Comecei a cavar. Mais uma noite sem dormir, e do jeito que eu cavo, estou ferrada. Parece que o solo ajudou, a terra era tão fofinha que foi fácil cavar um buraco que coubesse os restos do animal. Coloquei ele no buraco e cobri novamente. Deixei a pá ali, tranquei a porta, e fui lavar-me. Quando me deito na cama, fico a pensar. Como aquele bicho chegou até ali. Um cachorro não iria até à floresta e carregar aquela carcaça até a porta dela. Justo a porta dela. Como não chegaria a conclusão nenhuma, procurou dormir.
Fui acordada por batidas na porta. Levanto-me e vou até lá. Abro a porta e deparo-me com a polícia.
— Bom dia, podemos entrar? — Bom dia, o que aconteceu? — Precisamos revistar a casa. — Mas porquê? — Temos uma ordem, e vamos entrar.
Entregaram o papel na minha mão, e entraram na casa. Olharam por tudo, mas não havia nada.
— Olhem o quintal. — O senhor poderia-me dizer o que acontece? - O seu vizinho ligou para a delegacia essa manhã, disse que viu uma movimentação estranha no seu quintal ontem à noite. — Sim... — Senhor tem uma carcaça aqui, sangue na porta, e na pá. — Algemem. — Com que acusação? — Veremos.
Naquele momento era presa, por motivo nenhum.
Eles olharam o quintal, cavaram o buraco novamente.
- Poderia explicar-nos isso? - Sim, ontem a noite acordei e vim até a cozinha tomar água. Senti um cheiro desagradável, e quando abri a porta tinha a carcaça de um cervo aqui. Eu cavei um buraco e enterrei. Isso é crime? - O vizinho disse que viu você na floresta ontem. - É proibido caminhar? — Na floresta? - É proibido? — Não acha muita coincidência, você foi para a floresta e do nada aparece um animal desse porte na sua porta. - E pensa que eu fiz o quê? — Ninguém vai à floresta, somente você. — E está-me a acusar de fazer o que ninguém faz? — Para o bem de todos eu vou dar uma oportunidade a você. Pegue as suas coisas e vá embora da cidade, sabe que não é bem-vinda aqui. — Não pode fazer isso. — Eu sou a autoridade maior por aqui. — Por ser uma autoridade deveria proteger as pessoas. — Eu protejo, todas as pessoas de bem que vivem aqui. — Eu nunca fiz nada para ninguém. — As histórias que sabemos sobre você diz o contrário. Você é a única diferente entre todos nós. — É tudo mentira, vocês julgam-me porque tenho uma aparência diferente. — Vai embora, vou dar 24h. Para sair da cidade. — Eu não tenho para aonde ir. — Problema seu, não me faça tomar uma atitude extrema. Chamem alguém para levar a carcaça desse animal e tentar descobrir como ele morreu. Solte ela. Amanhã se não for embora, as coisas vão se complicar.
Ele soltou-me, mas ficaram ali até alguém levar a carcaça do animal. Eu não sairia da minha casa, não fiz nada de errado. Tomei um chá, e fiz as minhas tarefas. De repente escuto barulhos, era como se alguém estivesse a jogar pedras.
Quando abro a porta as crianças jogavam pedras na minha casa. Chamando-me bruxa. Fechei a porta e procurei não dar ouvidos. Em pouco tempo não era somente as crianças. Adultos prestaram-se a fazer um papel idiota daqueles. Pergunto-me. Em que século vivemos? Eu vivo no século XXI, eles no século XV. Mas as pedras e a gritaria não foi tudo. Eles pincharam a minha casa.
Eu liguei para a polícia, mas disseram-me que não fariam nada, a decisão era minha. Saí na rua aos gritos.
- Saiam todos daqui, eu não vou embora. Vocês são pessoas ignorantes, nunca fiz nada a nenhum de vocês e cresci vendo os olhares que me lançavam, ouvindo as crianças me chamarem de bruxa porque ensinaram isso a elas. Eu vivo na minha casa, não fui a escola, mal posso ir ao mercado. Histórias inventadas sabe-se lá por quem, não dá o direito de virem até a minha casa, atirarem pedras, fazerem pinchações, e ficarem a gritar. Eu estou farta disso, voltem para suas casas, e deixem-me viver a minha vida. — Queremos você fora da nossa cidade. — Fora daqui.
Um coral foi formado, com todos gritando FORA.
Apenas sentei no chão da porta, e comecei a chorar. Não fiz nada a eles para me odiarem dessa forma. As pedras seguiram a ser atiradas. Depois de um tempo, escutei a sirene. Acredito que eles foram embora. Alguém bateu à porta. Levanto-me e abro a porta.
— Eu não posso conter todas essas pessoas se resolverem atacar você. Acho melhor arrumar as suas coisas e ir embora hoje mesmo. — Isso não é justo. — Para todos dessa cidade é. Eu levarei você até um ponto de ônibus, sugiro que vá. — Não irei, essa é minha casa e vou ficar. — Então se acontecer o pior não nos ligue, não viremos novamente.
Não podia acreditar naquilo, deveria ir embora. Para aonde?
Fecho a porta e vou para o meu quarto. Deito na cama, não acredito em tudo que está a acontecer. Preciso me acalmar, entrar em desespero não adiantará em nada. Sento na cama e fico pensando. Levanto e vou até a cozinha preparar alguma coisa para comer. Estava tudo calmo, não havia mais pedras e nem gritos. Almocei tranquilamente, lavei a louça e fui para o quarto. Deitei e fiquei pensando.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Marileide Alencar
A avó já não disse pra ela ir embora e voltar pra casa?
Ela é teimosa
2024-02-18
2
Nadja
essa garota só sabe comer e não toma uma atitude que garota chata
2024-01-05
1
Angela Valentim Amv
Tudo isso está acontecendo é pra vc ir embora ,pra casa da sua avó .
2023-11-24
6