Capítulo 26 - Amizade

As próximas semanas​ são uma repetição daquela segunda-feira, comigo passando o intervalo com Eric e ele me acompanhando para casa depois da escola. Fizemos uma espécie de acordo taciturno, sem que nenhum dos dois tenham combinado, apenas sabendo o que tem que fazer.

O combinado era que eu deveria contar para alguém sobre o problema que eu estava tendo com Eliza e sua gangue, só que eu preferi postergar essa conversa, e Eric não pareceu se incomodar comigo sempre por perto, para evitar ficar sozinha. Ele mesmo me espera todos os dias na porta para irmos juntos para o pátio – já que sua sala fica ao lado da minha – e para irmos embora.

Confesso que estranhei um pouco toda essa amabilidade. Por que ele estaria fazendo tudo isso? Ele não me deve nada. Pelo contrário, eu que devo a ele. Será que ele estava interessado em mim? Ele me deu umas indiretas, mas nunca dava para ter certeza se ele falava a sério ou de brincadeira.

 Só que ele não foi só gentil comigo, também foi com a Julia, por isso, acredito que é apenas a natureza dele, ser legal com as pessoas.

De qualquer forma, nada nunca vai acontecer entre nós. Depois que Max morreu, decidi que nunca vou namorar de novo. As pessoas dizem que isso é temporário, que um dia eu vou superar a morte do Max, só que para mim é diferente. Mesmo no dia que não doer tanto, que eu puder falar do Max sem sentir vontade de chorar, não quero começar uma nova história com outra pessoa. Não quero gostar de alguém, me entregar e depois sofrer quando as coisas acabarem, porque uma coisa que a vida prova, é que de um jeito ou de outro, tudo acaba, e eu não quero sofrer por ninguém mais.

E, tudo bem, o Eric pode ser bonito e talvez eu tenha sentido uma atração por ele, mas já sumiu.

Na realidade, Eric e eu estamos ficando bem amigos. No começo, só nos sentávamos em silêncio. Ele tocando seu violão e eu comendo o meu lanche. Então, um dia ele tocou a melodia de uma das músicas do Three Days Grace, e eu fiquei intrigada que ele conhecesse essa banda. Eu mesma não conhecia até um tempo atrás e ele disse que não são muitas pessoas que conhecem ela. Dai para frente, nos soltamos mais, conversando de coisas banais, como música e séries, sem entrar em assuntos mais pesados. O que, para mim, estava de bom tamanho.

- Desde quando você toca violão? – pergunto eu, um certo dia, no intervalo, sentada no lugar de sempre, perto da grade.

Eric para de tocar e sorri. Seus lábios são bem carnudos, o que é bem notável.

- Ah, bem, desde os 13 anos, eu acho – ele responde, passando os dedos por todas as cordas – minha mãe me deu esse violão de aniversário, porque eu brincava de astro do rock, e fazia qualquer objeto de violão. Vassoura, guarda-chuva... – seu sorriso fica pleno e seus olhos se perdem no horizonte.

Dou um quase sorriso, apreciando a história.

- E você faz aula de violão desde os treze, também?

Eric volta de sei lá para onde ele foi, tirando o sorriso da cara.

- Na verdade, eu nunca fiz aulas de violão – admite ele, com um certo orgulho – tudo que eu sei, aprendi em tutoriais na internet.

Assinto, quebrando outro quadradinho do chocolate que comprei na cantina.

- E você toca muito bem, para quem nunca teve aulas – elogio eu, um pouco sem graça. Não sou acostumada a dar elogios.

Ele faz um barulho de desdém.

- Que nada, eu não sou tão bom assim. Toco mais por prazer, por hobby.

Faço uma cara de quem diz “ah, fala sério".

- Você é bom sim – insisto, mastigando metade do pedacinho de chocolate em minha mão – talvez, se você cantasse, ajudaria a melhorar – eu sugiro, de boca cheia, como se fosse uma especialista no assunto.

Ele me encara, parecendo que vai falar alguma coisa, então desiste.

- E você? Tem algum hobby? – ele pergunta após um tempo que passamos quietos.

- Eu costumava desenhar – solto, antes de me lembrar que eu não gosto de falar sobre isso – mas não desenho mais.

- Por quê? – pergunta ele, curioso.

Como a outra metade do chocolate na minha mão, ponderando o que devo dizer. O chocolate derreteu e manchou meus dedos. Resta mais dois quadradinhos dentro da embalagem aberta.

- Eu só... Parei de gostar – digo por fim – eu não era tão boa.

Nem pensar que eu vou contar a ele que desisti dos desenhos quando meu namorado morreu. Ele deve saber do Max. É impossível não saber. Toda a escola sabe. Mesmo assim, não quero falar desse assunto com ele, como não quis falar com Julia, apesar dela ter se aberto tão facilmente comigo sobre sua irmã morta.

- Eu quero ver com meus próprios olhos – diz Eric – um dia quero que você faça um desenho para mim.

- Vai esperando – retruco, revirando os olhos.

Era bom ter a companhia do Eric. Não que eu fosse admitir isso a ele. Sentia falta de um amigo. Minha vida estava bem solitária sem Veve e Manu e eu queria alguém para conversar de vez em quando. Ou só me fazer companhia, sem precisar dizer nada.

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