Capítulo 5

Antony

Saí do hospital muito mais cansado do que imaginava. Foram 5 partos e hoje eu estou quebrado! Eu sou ginecologista e obstetra, trabalho em consultório e faço os partos das minhas pacientes, mas também atendo as emergências.

O desejo de ser pai e ver o quanto minha mãe sofreu com as complicações da gravidez do meu irmão mais novo, Ricardo, contribuíram para eu decidir qual área da medicina eu trabalharia. Me encantei por tudo o que envolve a obstetrícia e o privilégio de ajudar a trazer um novo ser humano ao mundo. Já perdi a conta de quantos nascimentos eu presenciei e contribuí até hoje.

Claro que, sendo um médico jovem, bonito e com pai milionário, eu acabo atraindo muitas pacientes cheias de segundas intenções. O fato de ser solteiro também ajuda...ou atrapalha, nem sei ao certo.

A rotina casa/trabalho é normal pra mim, pois tenho feito isso com bastante frequência ultimamente. Quando estou em casa fico estudando, me atualizando e curtindo minha família. Já que minha rotina de trabalho é bem puxada, mal fico com meus pais e irmãos, então tento aproveitar ao máximo.

-Mãe, tô em casa! - gritei assim que pus as chaves do carro no aparador.

-Oi meu filho! - minha mãe veio me abraçar. - Pensei que chegaria mais cedo, Tony! - beijou meu rosto.

-Dois bebês resolveram nascer antes da data prevista...

-Ai que coisa linda! Tirou fotos pra mim?

-Claro, mãe!

Peguei o telefone e mostrei as fotos minhas com os bebês no colo. Eu peço autorização dos pais antes detiras as fotos, claro. E sempre gosto de tirar foto com cada bebê que ajudo a vir ao mundo. Minha mãe ama ver as imagens, e como toda boa mãe, fica toda orgulhosa.

-Cinco num só plantão? Minha nossa! Você deve estar exausto.

-Estou só o pó, como diz a prima Heloá.

-Imagino que sim. - ela me olhou com carinho. - Suba e tome um banho. Vou pedir pra Rosa preparar algo pra você comer.

-Mãe, eu tô sem fome. Só quero banho e cama!

-Mas nem pensar. Saco vazio não para em pé, menino! Precisa estar forte pra aguentar trazer essa meninada toda ao mundo. Vai tomando um banho e relaxando que já já eu levo seu lanche.

Sorri pra ela e beijei seus cabelos. Não adiantava discutir com a dona Mônica. Subi direto pro meu quarto. Pelo silêncio que estava em casa, meu pai já devia ter saído pra empresa, junto com o Ricardo.

Estou muito orgulhoso do meu irmão. O único Stewart que decidiu seguir os passos do nosso pai e do tio Felipe. Ele têm levado à sério o trabalho na empresa. Acorda cedo, vai pro grupo Donartti, trabalha o dia todo, e de lá vai pra faculdade, onde ele cursa economia. Sou muito ligado à Anne, pois somos gêmeos, apesar de não sermos idênticos, e eu a amo demais. Mas minha ligação e amizade com o Ricardo parece ser ainda mais forte, não sei nem explicar direito. Sinto muito orgulho do meu irmãozinho...

Depois de tomar um longo banho quente, vesti uma calça de moletom e deitei na minha cama, tentando desligar minha mente e dormir um pouco, mas quando estava pegando no sono, batidinhas fracas na porta, me fizeram abrir os olhos lentamente.

-Sr. Antony...Sr. Antony? - a voz era suave e me fez sorrir instantaneamente.

-Pode entrar. - falei e me sentei na cama, cruzando os braços e me preparando para o embaraço da Mel ao me ver sem camisa...

Ela abriu a porta devagar, e quando me viu sentado, quase deixou cair a bandeja que trazia em suas pequenas mãos.

-Oh, mi madrecita! Me perdonas senhor, eu...eu...

Ela queria cobrir os olhos, mas as mãos estavam ocupadas, e eu me divertia com a situação e o completo desespero em seus olhos, enquanto suas bochechas ficavam vermelhinhas.

Ela fechou os olhos, envergonhada.

-Mel, pode abrir os olhos, menina! Não estou pelado não...

-No...digo, não! É melhor assim, senhor...

-Para de me chamar de senhor. Eu sou só 7 anos mais velho que você, sabia? E eu te conheço desde os seus 15 anos...

-Eu...eu sei..- seus olhos continuavam fechados.

Me levantei e peguei a bandeja de suas mãos... Meus dedos tocaram aquelas mãos macias e que agora estavam geladas pelo susto e vergonha.

Fiquei parado, observando cada detalhe do seu rosto, os cílios longos, o narizinho empinado, as maçãs do rosto redondas e vermelhas, os lábios rosados...

E aí, eu me pergunto...porque estou parado feito um bobo, admirando essa menina na minha frente? Porque essa garota têm tirado meu sono nos últimos meses! Nem sei quando, como ou porquê...só sei que eu sinto um calor gostoso no meu coração quando eu olho pra ela, e uma vontade de prendê-la nos meus braços...

Eu nunca me apaixonei. Namorei sério duas vezes, mas elas não entendiam bem esse meu trabalho, que exige muito de mim, por isso terminaram comigo depois de alguns meses de namoro. Fiquei com algumas mulheres, sem compromisso mesmo, só por uma noite ou duas. Mas esse negócio de pegar e não se apegar, sexo sem compromisso, não funciona comigo. Eu gosto de estabilidade, do que é previsível, de ter alguém do meu lado, ligar no final da noite, mandar flores sem motivo, sair pra jantar quando tenho tempo...o que é bem difícil por conta da profissão que escolhi.

E eu estava tranquilo, de verdade. Mas agora, não sei o que tem acontecido desde o dia em que a Mel caiu naquela bendita piscina.

Foi assim...eu estava nadando, como faço todas as manhãs. Um dos cachorros se soltou e foi correndo pra cima da Melissa, que por sinal, tem pavor de cachorro. Ela saiu correndo tão desesperada que acabou caindo na piscina...mas o detalhe é que a menina não sabe nadar.

Eu peguei ela no colo e tirei ela da água. E foi aí, que não sei porque, senti uma atração estranhamente forte e num impulso, dei um beijo nela.

A moça se assustou e me empurrou, olhou em meus olhos, murmurou alguma coisa que eu não entendi e saiu correndo, toda molhada e chorando muito. Eu fiquei completamente sem ação, mas depois me xinguei em pensamentos por ter beijado uma moça que trabalha aqui e que praticamente vi crescer.

Pedi desculpas a ela pelo beijo...mas estranhamente, eu não me arrependi. Pelo contrário, estou aqui, olhando pra ela e...cara, eu só penso em beijá-la de novo! Mas que droga tá acontecendo comigo?

Melissa

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