Capítulo 3

Estacionei meu carro em frente ao prédio da construtora onde a Anne trabalha. Sei bem que o atual namorado dela é o dono dessa empresa, mas eu estou aqui pra pedir um projeto de decoração pro meu apartamento, e claro, rever a minha mulher. Pode parecer arrogante eu voltar e querer a Anne de volta, mas eu sei que a nossa história não terminou quando eu viajei, à quase 5 anos atrás...e eu voltei pra recomeçar de onde paramos!

Eu sou muito cauteloso quando o assunto é a minha Anne. Contratei um investigador particular e tive um relatório completo sobre o tal Jason e o relacionamento deles. Sei que ela é traída há meses, que as viagens frequentes são um disfarce para as traições dele e seus negócios não são tão lícitos quando ele diz. Ele não repassa os verdadeiros valores dos projetos que a Anne produz, além de superfaturar alguns e vender como se fossem dele. O cara é engenheiro, a Anne é arquiteta e designer, mas ele se diz criador da maioria dos projetos que ela idealiza, por ela ter noção de Engenharia, faz as correções de alguns projetos que ele diz ser do outro sócio, mas na verdade são uns trabalhos dele, que além de não ter talento, não tem a mínima competência pra gerir e comandar uma empresa com seu próprio trabalho, se aproveitando do talento da namorada e a explorando sem que ela perceba.

Além disso, a atual secretária dele, além de ser sua amante, parece estar grávida. E ao que tudo indica, ela está exigindo que ele se separe da Anne e assuma seu bebê. Mas o Jason é um homem ambicioso e, ao que parece, muito bom em enganar mulheres e se aproveitar delas. Ele têm levado a amante na conversa, enquanto mantém minha Anne ao seu lado, usufruindo do talento profissional dela para se destacar no mercado e levantar sua empresa. Só que ele não contava com a volta do homem que realmente ama a Anne e vai tirá-la desse relacionamento destrutivo e que só a faz sofrer. Eu sei que ela não o ama, e imagino que tenha vergonha de deixá-lo e admitir seu erro à família dela. Anne é orgulhosa, isso eu sei bem, e pra ela, deixar o atual namorado é admitir que ela estava errada, que ele não é o que ela pensava e que ela não conseguiu seguir em frente, esquecendo nossa história e sendo feliz ao lado de outro...mas estou aqui para livrá-la desse orgulho e fazê-la entender que não precisa mais passar por isso!

Entrei no prédio e pude notar o estilo da Anne em cada detalhe da decoração e design do lugar. Sorri, orgulhoso do trabalho dela, pois tudo é minimalista e de muito bom gosto.

Passei pela recepção e um jovem confirmou meu horário e me indicou o elevador que me levaria ao quinto andar. Já faz uma semana que voltei aos Estados Unidos. Ficar quase cinco anos no Canadá me permitiu terminar o último ano de faculdade e me especializar em obstetrícia, meu sonho! Sempre quis ser pai e acho que isso me fez seguir nessa área da medicina. Hoje eu ajudo mulheres a trazer ao mundo seus filhos, e tenho certeza de que, em breve, será minha Anne que me dará a felicidade de vê-la esperando um filho nosso!

-Senhor Choi, sente-se por favor. O Sr.Jason irá recebê-lo em breve.

A moça ruiva, com cara de golpista, me indica uma poltrona para que eu me sente, enquanto aguardo o seu atual amante me atender. Mas antes de voltar à sua mesa, ela faz questão de abaixar bem o decote, deixando mais do que deveria à mostra, para chamar minha atenção. Também rebola mais que o normal quando vem até mim com uma xícara de café, totalmente desnecessária, pois eu prefiro um bom chá.

-Deseja algo mais? - tenho nojo, tamanha a cara de pau e a explícita intenção em suas palavras, o que fica ainda mais evidente quando ela morde o lábio coberto por um batom, excessivamente vermelho, e ainda os umedece com a língua...que mulher vulgar!

-Não, obrigado. Estou aqui apenas para encomendar meu projeto! - sou bem direto e ela me olha com frustração, antes de seguir, rebolando, até sua mesa.

Após alguns minutos, o silêncio daquela pequena recepção é rompido por vozes alteradas vindo da sala à minha frente, que me parece ser o escritório do tal Jason. A ruiva tenta disfarçar, mas consigo ver o sorrisinho de contentamento em seus lábios, então imagino o motivo da discussão e quem está envolvida...Anne...

-..."sim, fria e seca...você não me satisfaz à dois meses, o que queria, Anne? Que eu ficasse *esperando? Eu sou homem, tenho necessidades!"

-Você mal para em casa, queria o quê, Jason? E eu sabia que estava transando com outras, por isso não deixei que me tocasse com esse corpo sujo.

-Não ouse falar assim comigo!

-Eu falo como quiser! Você é um aproveitador, isso sim. Um oportunista que eu tive a infelicidade de conhecer e me relacionar. Eu tenho nojo de você!

-Você vai ver só, sua*....

Anne se encolheu, esperando a mão pesada de Jason atingir seu rosto. Mas como o impacto não aconteceu, ela abriu os olhos, enxergando à sua frente costas largas e longos cabelos escuros presos em um coque. O braço forte segurava a mão de Jason no ar, impedindo que ele a acertasse com um tapa.

-Quem você pensa que é pra erguer a mão para a minha Anne? - a voz soou como um trovão, ecoando por todo o escritório. Anne sentiu seu coração se encher de esperança e felicidade, ela conhecia bem essa voz...Seong!

-Sua? Quem é você? - a voz de Jason demonstrava confusão e a dor nítida, por estar tendo sua mão quase esmagada.

-Eu sou Seong Choi, o homem que vai quebrar cada osso do seu corpo, se você ousar se aproximar da minha mulher novamente, fui claro?

-Eu...eu...- Jason não conseguia falar, tamanha a dor, já que Seong agora torcia seu braço até ouvir os primeiros estalos de seus osso.

-Seong...- uma voz aflita e baixa o chamou. - Por favor...- ela pediu, o fazendo largar o homem à sua frente, mas sem antes lançar um olhar mortal que fez Jason se afastar, assustado.

Me virei e encarei o rosto assustado e ao mesmo tempo aliviado, da minha menina...minha Anne. Puxei ela contra meu corpo e a envolvi em meus braços, beijando sua testa e acariciando suas costas. Senti seus soluços contidos e sabia que ela estava chorando. Assim que ouvi a voz dele se exaltar, sabia que precisava entrar na sala e defendê-la. Mas não imaginava que o covarde teria a audácia de tentar agredi-la. Uma raiva intensa tomou conta de mim quando o vi prestes a bater na mulher que eu prometi a mim mesmo que protegeria com a minha vida à partir de agora. Continuei sentindo seu corpo junto ao meu, a apertando, sem vontade de tirá-la do meu abraço.

-Shiii...calma, minha menina, eu estou aqui...eu voltei pra você! Tudo vai ficar bem agora.

Ouvi uma risada sarcástica...

-Então você me culpa por traição, mas estava com outro? Que bela vadia! - Jason falou baixo, mas eu o ouviu, e meu corpo inteiro tensionou.

Anne sentiu minha raiva e abraçou meu corpo com mais força, erguendo o rosto molhado pelas lágrimas.

-Não faça isso..- ela falou, somente movendo os lábios trêmulos.

Franzi a testa, confuso. Ela estava querendo defender aquele crápula? Ela percebeu minha dúvida e deu um pequeno sorriso, desanimado.

-Não é por ele...- tocou meu rosto. - É por você!

Senti um alívio me invadir e sorri carinhosamente pra ela, secando suas lágrimas. Ela não quer que eu me prejudique agredindo esse infeliz...mas posso fazer isso sem deixar vestígios...uma outra hora.

-Porquê agora? - ela continuou me olhando, com aqueles olhinhos vermelhos pelo choro.

Eu entendi seu questionamento. Eu voltei e não a procurei, pois estava aguardando o relatório do investigador. Queria ter certeza de que ela não estava feliz no relacionamento. Não seria capaz de interferir caso ela o amasse e fosse amada por ele, o que segundo o Antony, era impossível. Mas quando confirmei minhas suspeitas, vi que era hora de agir e reconquistar a minha mulher.

-Porque agora tenho certeza de que seu coração ainda é meu! Assim como o meu jamais deixou de te pertencer, minha Anne! - acariciei seu rosto, sorrindo por tê-la novamente junto a mim. - Vamos pra casa.

Ela me olhou, confusa. Sorri de seu jeitinho...continua a mesma.

Me virei para o verme, que agora estava sentado em sua cadeira, segurando sua mão que eu quase quebrei minutos atrás...mas ainda farei bem pior, em breve!

-A partir de agora, Anne não trabalha mais nessa construtora! - ele me olhou, surpreso. - Quero que transfira para a conta bancária dela todos os valores referentes aos projetos em andamento. - me virei para minha menina. - Querida, pegue suas coisas, seus projetos, esboços e plantas. Separe tudo, já já vou até sua sala e a ajudo a carregar tudo até o nosso carro. - falei a olhando de um jeito carinhoso, mas com a voz firme.

Ela apenas concordou e saiu. Me virei novamente para o tal Jason, que me encarava com um misto de medo e curiosidade.

-Vou ser bem direto, Jason...eu sei bem dos seus negócios ilícitos, dos desvios de verbas, vícios em drogas e jogos. - ele me olhou, assustado. - Também sei que você superfatura os projetos da Anne, além de plagiar a maioria deles, vendendo como s fossem seus. Eu sugiro que você pague à ela tudo o que ela tem direito, centavo por centavo, Então suma das minhas vistas. Se eu voltar a pôr os olhos em você, garanto que não terá uma outra oportunidade de ver o dia amanhecer novamente. - me aproximei mais dele, que se encolheu como um rato assustado. - E só pra você saber, a Anne não é seca, você que é estéril...mas acho que ficará bem feliz em criar o bastardo que sua amante, que se dizia virgem, está gerando. Felicidades ao casal.

Me virei e saí do escritório calmamente, com as mãos nos bolsos. Caminhei até a sala da minha menina, e ela já tinha arrumado tudo conforme pedi.

-Tudo pronto, minha menina?

-Sim...obrigada - ela me olhou, meio constrangida. - Eu fui muito burra...

-nunca! Você só estava confusa e não deixou seu orgulho de lado, não é? - a encarei e toquei a ponta de seu nariz. - Agora estou aqui, voltei pra você, vamos resolver tudo isso juntos. Mas antes vamos pra casa, comemorar o nosso recomeço!

Ela me olhou e franziu o rostinho. ...sorri e me aproximei, segurando sua cintura e esfregando meus lábios nos dela, enquanto colava seu corpo ao meu.

-Preciso matar as saudades de ter a minha mulher nos meus braços...eu estou com muita saudade, e não aceito um não como resposta, afinal...eu voltei pra pegar o que sempre foi meu!

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