Aniversário da melhor amiga

Mel acordou no meio da noite com a boca seca e os olhos pesados de sono. O quarto estava mergulhado em silêncio, e a única luz vinha da lua que invadia a janela, desenhando sombras no chão de madeira.

Com um bocejo preguiçoso, ela se levantou. Vestia uma camisola delicada, de tecido leve e com um perfume suave de lavanda que parecia ter ficado impregnado no tecido. Era da mãe de Carlos — a única peça que ela encontrou no fundo de uma gaveta esquecida. Apesar de ser um pouco maior do que o seu tamanho, a camisola lhe caiu bem. A barra roçava seus joelhos, e as alcinhas escorregavam sutilmente pelos ombros, dando a ela um ar ainda mais feminino.

Mel adorava esses detalhes. Mesmo sendo tão jovem, havia nela uma vaidade natural, uma feminilidade que se revelava em pequenos gestos — o jeito de prender o cabelo, o cuidado ao andar na ponta dos pés, para não fazer barulho.

Desceu devagar pelas escadas, sentindo o friozinho da madrugada nos pés descalços. O silêncio da casa era reconfortante. Na cozinha, pegou um copo e abriu a geladeira, piscando com a luz que a ofuscou por um instante. Bebeu a água com calma, olhando pela janela o jardim adormecido.

Naquela casa nova, tudo ainda era estranho. Mas naquele momento, o frescor da noite acariciando sua pele, Mel se sentiu, de certa forma, acolhida.

Ela já não era mais uma garotinha. Era mulher. E sem querer, sabia que isso chamava atenção… inclusive de quem não deveria.

— “Vou aproveitar e tomar um chá. Quem sabe me acalmo… tô nervosa demais.” — sussurrou para si mesma.

Ela colocou a água para esquentar, escolheu as ervas calmamente, e tentava não fazer barulho. Sabia que a qualquer momento Carlos poderia aparecer e transformar aquele pequeno momento de paz em mais uma discussão.

Mas era inevitável.

Carlos entrou na cozinha sem que ela percebesse. Seus olhos cravaram nas costas de Mel, na forma como a camisola desenhava o corpo dela sob a luz fria da madrugada. Algo dentro dele subiu — raiva, desconforto, desejo... talvez tudo junto. Aquilo o deixava fora de si.

— “Mas que droga de roupa é essa, mocinha?” — a voz dele cortou o silêncio como um chicote.

Mel levou um susto tão grande que deixou a xícara escorregar, derramando o chá quente sobre os próprios seios.

— “Aah! Você é louco?! Me machucou, seu ridículo!” — gritou, levando as mãos ao peito.

Carlos deu um passo em sua direção, mas ela recuou.

— “Se não gosta de mulher, então fecha o olho! E se isso deixar cicatriz… juro que eu te mato!” — falou com raiva, mas sua voz fraquejou.

As lágrimas vieram sem permissão. Por mais que tentasse ser dura, era só uma garota cansada de ser tratada como um estorvo.

Ele se aproximou com um pano na mão, mas ela não deixou. Olhou-o fundo nos olhos, sentindo a dor física se misturar com tudo o que carregava por dentro.

E então correu… chorando.

Carlos ficou ali parado, com o pano ainda nas mãos. Uma mistura de culpa, raiva e algo mais estranho o dominava. Foi atrás.

Subiu as escadas e viu o chuveiro ligado. Mas não entrou. Encostou na parede e esperou. Não sabia ao certo o que queria — protegê-la, afastá-la, ou se proteger de si mesmo.

Mel saiu do banho segundos depois, surpresa ao vê-lo ali, e com o corpo ainda nu, apenas de calcinha e sutiã.

— “O que você tá fazendo aqui?” — gritou, correndo para pegar uma toalha e se enrolar.

— “Vim ver se você tá bem.” — respondeu ele, tentando parecer calmo.

— “Some daqui!”

Carlos segurou firme no batente da porta.

— “É melhor se cobrir mesmo... Porque, ao contrário do que pensa, eu gosto — e muito — de mulher.”

Fez uma pausa, e completou, com um olhar duro:

— “Mas é claro… você ainda é só um bebê chorão. Sempre foi.”

E saiu, batendo a porta.

Na manhã seguinte…

Maria arrumava a mesa do café, colocando com carinho os pratos e pães.

Mel passou direto, sem sequer olhar. Tinha vestido uma roupa neutra, larga, sem cor, sem forma. Preferia passar despercebida a provocar outra guerra.

Mas é em vão… o olhar de Carlos já a seguia antes mesmo dela cruzar a sala.

Carlos estava sentado à mesa, com o jornal aberto à sua frente, mas os olhos fixos nela.

— Bom dia, mocinha.

— Só se for pra você — respondeu Mel seca, passando direto.

— Bom dia, minha menina — disse Maria com doçura, tentando amenizar o clima.

— Bom dia, meu anjo — sorriu Mel, com um carinho sincero na voz.

Carlos fechou o jornal com firmeza.

— Vá trocar essa roupa.

— Tchau, Maria. Te amo muito! — disse Mel ignorando a ordem e saindo em passos firmes.

— Boa aula, minha pequena menina! — respondeu Maria, em tom maternal.

Ela esperou que Mel saísse para encarar Carlos.

— Carlos, pare com isso. A menina é inocente. Não tem malícia nenhuma como você pensa.

— Inocente? Com aquela roupa? Maria, por favor…

— Outra coisa, o uniforme não é obrigatório na escola, não. Ela só se veste como qualquer outra garota da idade dela! Você precisa ser mais compreensível. Isso que você sente... é só ciúmes. E bem tolo, por sinal.

— Ciúmes? — Carlos deu uma risada forçada. — De uma garotinha?

— Você tá se achando um pai muito bravo — disse Maria, rindo e saindo da cozinha.

Mais tarde naquele dia...

Carlos decidiu tirar o dia de folga. Estava inquieto, com algo no peito que ele não sabia nomear — ou talvez soubesse e só não queria admitir.

Ficou dentro do carro, do outro lado da rua da escola, só observando.

Mel saiu sorrindo, ao lado de algumas colegas. Mas seu sorriso sumiu assim que uma voz conhecida se aproximou.

— Senhorita Mel — disse Éric, um antigo amigo de Carlos. — Meu coração não aguenta te ver assim... Quando vamos sair de novo? Você tá sumida, gostosa... sinto falta de você.

Mel arregalou os olhos, surpresa.

— Éric?! Você conta aquelas saídas como algo sério? Eu não! — riu nervosa.

— Seu pai não deixava você demorar, né? Tinha que ser rapidinho... Mas era gostoso, a gente fazia loucuras — disse ele com um sorriso malicioso.

Carlos ficou vermelho de raiva . Buzinou com força.

Éric virou, ainda com o sorriso no rosto.

— Carlos veio buscar minha garotinha?

— Quando ela fizer 18 anos, você pode falar o que quiser. E como quiser. Até lá... abre o olho, Éric.

— Estúpido — cuspiu Éric.

— Entre agora, garotinha — ordenou Carlos, olhando fixamente para Mel.

Sem reação, Mel entrou no carro, calada, engolindo as palavras e o medo de mais fofocas na escola.

No caminho, Carlos não disse uma palavra. Ela também não. O silêncio era sufocante.

Chegando em casa, Mel foi direto pro quarto. Não almoçou.

Apenas se trancou e começou a se arrumar para o aniversário da sua melhor amiga, Helena. Aquela noite, ela prometera a si mesma... seria só alegria. Mas por dentro, tudo era um turbilhão.

(Mel desce as escadas correndo, empolgada, gritando)

Mel:

— Maria! Maria! Como eu tô? Será que hoje eu já dou um…

(Antes que ela termine a frase, Carlos aparece na sala com cara de poucos amigos.)

Carlos:

— Vai aonde desse jeito, semi nua? Enquanto estiver sob os meus cuidados, não vou permitir isso, não!

(Maria entra, rindo, com um vestido nas mãos.)

Maria:

— Menino, hoje é o aniversário da Helena, é baile! Eu te mostrei o convite…

(Virando-se para Mel, sorridente)

— Você tá um arraso, menina!

Carlos (resmungando):

— Vou me arrumar então…

Maria (batendo palmas animada):

— Ótimo! A gente te espera aqui. Eu também vou! Kkkk

Mel (revirando os olhos):

— Aff…

Carlos desce pronto. Está impecável, sério como sempre.

Carlos

— Vamos.

No carro, o silêncio pesa. Chegando ao salão, cada um segue seu rumo.

Maria encontra as amigas e some entre risadas. Mel se junta às amigas, radiante.

Mel estava deslumbrante. O vestido marcava seu corpo jovem, mas já revelava traços de uma mulher feita. Ela dançava com leveza, naturalidade, chamando atenção sem querer. Mas os olhos de Carlos a seguiam com tensão.

Éric se aproxima e tenta roubar um beijo. Carlos, já de longe, dá um passo à frente, mas para ao ver Mel reagindo.

Mel

— Você está maluco?!

Ela dá um tapa no ombro de Éric e sai o deixando só …

Carlos ri, aliviado. Mas no fundo, ainda incomodado.

Mel volta à pista, dança com intensidade. Seu vestido gira, sua risada ecoa. Carlos não aguenta mais.

Ele se aproxima, sério, e a puxa pelo braço.

Carlos

— Chega de show grátis, mocinha. O “papai” vai te levar pra casa.

No carro, o silêncio vira briga.

Carlos

— É isso que você quer? Sair beijando por ia ?Dinheiro? Homens aos seus pés? Quer atenção? Eu te dou tudo isso, mas não manche meu nome com suas atitudes levianas!

Mel (fria)

— Eu não beijei ninguém. Mas se quiser, posso fazer escondido da próxima vez.

e o que tem de mais beijar ? To na idade de curtir a vida mesmo .

Carlos

— Garota insolente! Acha que isso é um jogo? Você vai ser minha esposa em breve, mesmo que só no papel. Me deve respeito!

Mel

— E você? Tem me respeitado como mulher?

Ela salta do carro e corre para dentro da casa. Trêmula, vai direto à piscina. Joga o roupão de lado e mergulha nua na água fria, tentando fugir da raiva e da vergonha.

Carlos observa tudo da sacada. O corpo dela na água. O cabelo grudado no rosto. Os olhos fechados. A beleza dela o desarma.

Ele desce, tenso, sem saber o que o move.

Carlos

— O que você tá tentando, hein, Mel? Me enlouquecer?

Mel se assusta, cobre o peito e vira o rosto.

Mel

— Eu não sou uma criança… mas você me faz sentir como se fosse. Me deixe em paz!

Carlos se aproxima, mas para antes de tocá-la.

Carlos

— Desculpa… eu não deveria… você merece mais do que isso.

Ele se afasta. Mas horas depois, ao notar que ela não voltou pro quarto, sente algo estranho. Vai procurá-la.

Ele

Procura ela pela casa inteira e não encontra aí ele lembra que ela deve estar no lugar favorito deles de anos atrás …

Carlos entra no velho porão da casa. Lá está Mel, dormindo no chão, agarrada a um ursinho antigo que ele deu pra ela no aniversário de quinze anos ,Suando. Tremendo.

Carlos

— Mel? Ei… Mel!

Ele a pega no colo e corre para o quarto. Prepara uma compressa. Vê a febre. Vê o corpo frágil dela.

Carlos (pensando)

— Por que você me desarma assim? Por que você me deixa tão… louco?

Ele cobre Mel com cuidado. Suspira. Pega na mão dela suavemente e sai do quarto, deixando a luz baixa acesa.

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Comments

Luisa Nascimento

Luisa Nascimento

Ele é apaixonado por ela e ainda não deu conta.😂😂

2025-01-29

1

Fatima Maria

Fatima Maria

MISERICÓRDIA QUE SUFOCO. ELA PRISIONEIRA DA PRÓPRIA SORTE.

2024-11-26

0

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Affffff...... esses homens machões e cafajestes......

2024-08-19

1

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