SENTIMENTOS CONFUSOS

Logo após a assinatura do contrato, eu saí da sala do Sr. Hoffmann. A partir dali, eu seria uma "modelo trainee", mas nada me impedia de atuar como modelo profissional, se surgisse algum trabalho para mim.

A única condição era que eu deveria seguir as regras, na verdade, todas as regras do treinamento do Sr. Hoffmann. Ele queria me explicar melhor sobre o treinamento, mas naquele dia não era mais possível. Sua agenda lotada fez ele apenas se despedir de mim e me dizer um "até segunda", antes de eu entrar no elevador. 

Ele realmente deve ser um homem muito ocupado, pensei. Desci o elevador, sozinha, até o térreo do prédio e então, peguei o ônibus de volta para casa. 

No caminho, eu não consegui parar de pensar no Sr. Hoffmann, meu mais novo chefe. Eu sei que eu não devia ter esse tipo de pensamento com meu chefe, mas ele era diferente de todos os homens que eu já tinha visto. Eu não podia negar que ele tinha mexido comigo de um modo diferente.

Não era apenas sua bela aparência e sua voz profunda que chamou minha atenção, mas também seu modo de falar, o modo intenso com que ele me olhava, o modo como ele corrigiu minha postura, o modo como ele tocou em mim… eu fiquei pensando em tudo isso no caminho de volta para casa, enquanto meu coração batia forte. 

Além disso, ele era tão sério e misterioso, seu jeito me intimidava, mas, ao mesmo tempo, me deixava curiosa. O ônibus parou na rua da minha casa e eu desci. 

Já tinha passado da hora do almoço quando cheguei em casa. Abri a porta e entrei, largando minha bolsa no sofá. Então, peguei o meu celular e liguei para Dafne, minha melhor amiga. Ela disse para eu ligar para ela, para lhe dizer o resultado do teste. 

Oi, Liv. - falou ela, assim que atendeu o telefone. 

Dafne, tá almoçando? - perguntei, depois de ouvir barulho de talheres ao fundo. 

É, eu tô, mas já estou terminando, o que é?

Eu passei!

Passou?

Sim, eu passei no teste de modelo, agora eu sou uma modelo da Hoffmann Models, acredita nisso!? - falei, não conseguindo esconder meu entusiasmo, enquanto caia com tudo no sofá. 

Uau, sério? Nossa, que incrível! Essa é uma das melhores agências do país, isso é muito bom! - respondeu Dafne, contente por mim. 

É, eu sei. Se lembra que eu te disse que não acreditava que seria aceita? 

Lembro, ué.  

Pois é, mas pelo visto eu estava errada. Nossa, você não sabe o quanto eu tô feliz! Na hora que o Sr. Hoffmann falou "bem vinda a agência" eu quase tive um troço ali na frente dele!

Quem é esse Sr. Hoffmann? 

Ah, é só o CEO da agência, nada demais…

Que!? Não, peraí, como assim nada demais? Foi o próprio CEO da agência que fez o seu teste!? - perguntou Dafne, chocada.

Sim, apenas ele. 

Olivia, você sabe que ele deve ser um dos homens mais ricos desse país, né?

É claro que eu sei disso. É por isso que eu fiquei tão nervosa…

Tá bom, mas ele era… bonito? - perguntou Dafne, com uma voz meio provocante. Eu não aguentei e dei uma risada. Dafne era a única pessoa que podia me deixar mais transparente que água. 

Lá vem você de novo…

Vai, responde, ele é bonito? 

Dei uma boa respirada, antes de responder. Às vezes, eu achava que Dafne tinha quinze anos de idade, sendo que ela era dois anos mais velha que eu.  

É, um pouco… - respondi, com vergonha. 

Um pouco? Aí, fala a verdade, amiga!

Tá, ele é muito bonito, muito bonito e jovem, deve ter no máximo trinta anos, ok? Mas, isso não significa nada, ele é o meu chefe, nossa relação vai ser apenas estritamente profissional…

Nesse momento, escutei Dafne dando uma risadinha do outro lado da linha. 

Hum… tá bom então, boa sorte com esse seu chefe rico e gostoso!

Dafne!

Mas, amiga, eu não sei se ficaria tão comportada no seu lugar. Ainda mais com aquele mal caráter do Danilo te secando todo dia… aí, vou ter que ir, meu horário de almoço acabou.

Bom trabalho, até amanhã!

Até amanhã, tchau! - se despediu Dafne, antes de encerrar a chamada.

Depois de desligar o celular, fiquei pensando no que Dafne tinha dito sobre Danilo. Danilo era o meu gerente no supermercado e desde o meu primeiro dia de trabalho, não perdia a oportunidade de ficar dando em cima de mim. Ele era cinco anos mais velho que eu e isso até que não seria um problema se ele se comportasse de uma maneira menos cafajeste. 

A verdade era que eu não via a hora de sair daquele emprego, não apenas por causa dos assédios de Danilo, mas também porque eu odiava aquele trabalho. Voltei a pensar no encontro que tive com o Sr. Hoffmann e meu coração começou a acelerar. Balancei a cabeça e procurei afastar esses pensamentos. Então, fui até o banheiro e tomei uma ducha fria. 

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