meu olhar.

Uma voz rouca e grossa atingiu meus ouvidos, e levantei

meu olhar. Aquele espanhol perfeito soou e tentei disfarçar o que

apenas sua voz me causara. Analisei o homem a minha frente e

cogitei estar ficando insana. Ele era lindo. Um ar de bad boy

pairava sobre ele, assim como o sorriso cafajeste que emoldurava

o belo rosto. Olhos claros e cabelos louro escuros completavam a

beleza, assim como a barba por fazer.

— Sempre canta aqui?

Estranhei sua pergunta e dei um passo atrás. Não era

acostumada com tais abordagens e aquilo sequer me apetecia.

— O que quer? — perguntei direta, e fechei meu

semblante.

— Convidá-la para jantar, talvez. — sugeriu e o sorriso

permanecia em seu rosto. Não saberia dizer o que aquilo me

causava, mas ao mesmo tempo que pensava em correr,

permaneci parada ali.

— Estou sem fome.

— Tudo bem. — falou com cuidado, percebendo a forma

como me protegia com os braços. — Desculpe pela forma como a

abordei.Ok.

Dei-lhe as costas e resolvi voltar para o restaurante, sem

olhar para trás. Com olhos verdes presos em minha mente, e

tendo a certeza, que me seguiram a cada passo.Olhei de relance para as pessoas na pista de dança.

Pensei rapidamente nos prós e contras de deixar a noite me levar.

Fazia um bom tempo que não me dedicava a tal coisa. A

simplesmente, curtir a noite e quem sabe, levar um desconhecido

para o hotel em que estou hospedada. Policiei-me por muito

tempo a respeito. Entretanto, não poderia me privar para sempre.

Ser mulher não era algo que pedi, porém, no dia a dia, assim

como muitas de milhões, tinha que enfrentar os medos.Amarrei a jaqueta preta na cintura, deixando minhas costas

à mostra. Notei o sorriso do barman mudar, e não pude negar que

sabia que estava bonita. Até mesmo desejável para alguns

olhares. Porém, não era algo que queria. O problema era pensar

que as mulheres se vestiam para homens, e até mesmo para

outras mulheres. Em meu caso, poderia falar com propriedade.

Vestia-me com o que queria, o que me tornava bonita ao olhar

para o espelho. Não me importava com opinião alheia. E doía

lembrar, muitas vezes, o que meus traumas falavam a respeito.

Andei em direção a pista de dança e deixei a música me

embalar. Tinham várias pessoas sozinhas dançando, um

reggaeton que energizava ao redor. Era como se a música nos

obrigasse a entregar. Ao menos, eu, estava completamente

entregue.

“Fechei os olhos de acordo com a batida, e deixei meu

quadril trabalhar por si só. Cantar era minha essência, mas

dançar, fazia-me tão bem quanto. Lembrei-me das aulas de funk

que fizeram há um bom tempo. Com toda certeza, valeram cada

centavo gasto. Aprender a dançar foi uma das maneiras de

conhecer meu próprio corpo, e assim, passar a me conhecer. De

alguma forma, entendi que precisava cuidar do que era meu,

começando pelo simples passo de me olhar com atenção.

Senti algo queimar sobre minha pele, porém, não era o

calor de fogo em brasa. Era como se algo estivesse me seguindo,

e pela primeira vez, em muito tempo, não levei tal sensação para

o negativo. Abri os olhos, e olhei ao redor. O bar ainda estava

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