Não era sua insegurança, era por conta de seu verdadeiro amor.

Analisei sua expressão e notei o franzir de seu cenho por

um segundo. Talvez ele quisesse tudo, menos a minha visão em

sua cozinha depois da noite anterior. Entretanto, ali estava eu.

Pois tinha conseguido o dia de folga. Como ele mesmo diria:

surpreendente e imprevisível. Talvez eu fosse. Naquele momento,

por um bom motivo.

— Bom dia.

Apenas aquela simples fala em português, pegou-me

completamente desprevenida. Não era o Guilherme brincalhão e

bem-humorado pela manhã. Era a versão mais perto de fria que já

conhecera dele. Ele geralmente gritava buenos días e me dava

um beijo na testa. Em que momento perdemos tal coisa?

Minha mente me castigava, assim como, cobrava que

fizesse algo. Aquele era o momento. Olhei diretamente em seus

olhos e tomei coragem. Vamos lá! Não era algo tão difícil assim.

Talvez fosse, para mim. Deveria seguir seu conselho e não me

forçar. Porém, não era um esforço, era mais o fato de estar

sufocada com meus próprios sentimentos.

Abri a boca para falar, ao mesmo instante que a campainha

soou alta. Paralisei e soltei o ar que mal sabia que segurava.

Guilherme me encarou por alguns segundos, e então, o som da campainha soou mais uma vez. Vi-o se virar e praguejar algo em

espanhol. Sorri, pois era completamente engraçado vê-lo se

enrolar com as duas línguas.

Permaneci com a mão em minha barriga e pensei o que

poderia fazer para confessar meu amor e para ele acreditar.

Sentia-me pronta para aquilo.

— Olha, Gui, eu...

Minha frase morreu, assim como aquele momento. Tinha

uma mulher sobre Guilherme, abraçando-o com afinco, e poderia

mentir que não a reconheci, mas a conhecia de fotos em seu

notebook. Melina.

Esperei que Guilherme a afastasse prontamente, porém,

ele não o fez. Pelo contrário, ele passou as mãos em suas costas,

como se assegurando-a de que era seu lugar. De que ele esperou

por ela. Abaixei a cabeça e fui para o quarto no mesmo segundo.

Finalmente entendendo, que entendi completamente errado. Eu

era sua amada, até que ela chegasse. No fim, talvez ele

duvidasse de meus sentimentos, por não ter certeza sobre os

próprios. Não era sua insegurança, era por conta de seu

verdadeiro amor.Aquilo explicava a forma como me olhou minutos antes de

ela aparecer. Ali não era o meu lugar. Era o dela. Sorri sem

vontade, e senti as lágrimas descerem. Arrumei-me rapidamente,

e joguei a mochila que deixara com algumas coisas, nas costas.

Precisava sair dali. Não era a protagonista daquela história. Como

sempre. Tinha que aceitar a realidade de que aquele homem

fizera uma escolha bem antes de nos conhecermos.“confie no seu corpo

ele reage ao que é certo e errado

melhor do que a sua mente

- o corpo fala com você”

o que o sol faz com as flores

Meses antes...

— Eu não preciso disso, Will.

Meu cunhado sorriu abertamente e deu de ombros, saindo

em seguida, sem dar atenção ao que falava. Bufei baixinho e

ajeitei o microfone na altura necessária. Olhei rapidamente ao

redor e sorri, pois, aquele restaurante era como ele descrevera –

misterioso e aconchegante. As pessoas comiam e conversavam,

sem dar atenção ao redor, era como se cada um estivesse emseu próprio mundo, ou compartilhando algo apenas para os

companheiros de mesa.

Encarei mais uma vez as músicas escolhidas para aquela

noite e sorri, era completamente apaixonada por cada uma delas.

Coloquei uma mecha insistente em cair no rosto, atrás da orelha,

e me sentei no banco alto, ajeitando-me ali. Encarei o relógio e

faltavam cerca de cinco minutos para começar.

Suspirei fundo e olhei para o lado, vendo Will fazer um

sinal de positivo com as mãos, assenti com a cabeça e logo uma

fraca, mas suficiente luz, iluminou o pequeno palco até então

vazio. Ter música ao vivo era o que diferenciava alguns

restaurantes de muitos outros, as pessoas se sentiam curiosas a

respeito, e se o cantor fosse bom, sentiam-se ainda mais parte do

lugar. Música unia pessoas, e era por isso, que tanto amava

passar as noites cantando em lugares diferentes. Música me

ajudava a unir pessoas.

— Boa noite a todos. — saudei-os, testando meu espanhol

que há muito não era usado. Segundo Will estava ótimo, mesmo

assim, para os espanhóis que me encaravam atentos naquele

momento, resolvi me explicar. — Me chamo Jéssica Medeiros.

Esse leve sotaque, ou não tão leve, se deve ao fato de não ser

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