"Passado, passado querido, me diga, quando deixei de ouvi-lo ?".
— Confesso que o que me disse mexeu comigo — falou Dorion — de forma que não posso simplesmente ignorar, então sim eu topo.
— Não entraria de cabeça em algo que nem poderia existir, se não fosse importante, preciso de respostas — falou o vampiro sério.
— Estou aqui por coincidência do destino, mas não posso perder a chance de levar a paz para a minha alcateia — falou Anne.
— Então esse assunto está decidido.
— Só tem um problema — Disse Dorion e todos voltaram a prestar atenção nele — se a acharmos de fato, como vamos saber como funciona ?
— Mas isso é simples — respondeu Anne — o foguinho ali pode perguntar aos espectros, eles estão lá a muito tempo, devem saber algo — Heleonora gelou.
— Ma... Mas eu não sei como isso funciona — ela falou receosa.
— Se chegaram aqui pelos espectros e por sua causa, então só pode significar que seu poder está muito mais alto do que você imagina, você só ainda não testou.
— Mas então, qual é o plano ? — interveio Alastair.
— Posso levar a garota que tem poder sobre eles lá agora, ainda vão estar lá, não é mesmo ?
— Eles passam a noite toda naquele lugar, só regressam de dia — disse Anne.
— Mas e depois ? — perguntou o vampiro desconfiado.
— Nós voltamos, não posso levar todo mundo lá agora, o senhor lá dentro necessita repouso, então vocês cuidam dele.
— Ok, mas permita-me protestar, esses modos são horríveis.
— Como disse ? — perguntou Heleonora.
— Convenhamos foguinho, esse negócio de você isso, você aquilo enjoa, eu tenho nome.
— Olha só quem fala, não me parece que nomes são muito úteis para você, sabes muito bem o meu, mas ainda me chama de foguinho — Heleonora falou em tom acusatório.
— E pra não perder os modos — Anne deu de ombros.
Dorion riu daquela discussão boba das duas.
— Bom, de todo modo já ia me apresentar mesmo — ele falou ainda sorrindo — sou Dorion Dark senhoras e senhor — ele fez uma reverência extrovertida.
— Anne Fenrir — Disse a lobisomem, e imitou Dorion também fazendo uma reverência.
— Sou Heleonora Nighty — cumprimentou ela do mesmo modo, e o vampiro revirou os olhos ao ver toda aquela graça.
— Tinha que ser o sanguessuga — Anne falou mal humorada, o vampiro suspirou descrente.
— Alastair D'Avillar — pronunciar seu nome, levou a memória do vampiro a tempos tão antigos que foi inevitável ele não sentir um calafrio.
— D'Avillar — repetiu Dorion — faz tempo que não ouvia esse nome.
— E porque sou único — o vampiro falou debochado, mas só quem o conhecia realmente bem, que poderia notar o vislumbre de tristeza por seus olhos.
Mas alguém que realmente o conhecia naquele século era missão impossível, ele era um vampiro que andava sozinho, e fazia questão de não se apegar a ninguém a ponto de dizer o nome, tudo por conta daquela noite, que refletia chamas e estava guardada na história de Domini a tanto tempo, que somente seu sobrenome ultrapassou as eras em memória daquela família que ninguém voltou a saber o paradeiro.
— Ok, então não destruam a casa enquanto estivermos fora, crianças — Dorion falou divertido, em seguida pegou o ombro de Heleonora, após isso sumiram no ar, Anne bufou irritada.
— Deixa só quando voltarem, aquele miserável, vai ver quem é a criança — Alastair riu.
— Isso pouco importa, desde que tragam respostas — Anne gritou irritada.
— Como pode existir um ser tão irritante na face da terra, meu senhor — Alastair ainda divertindo-se com aquela situação retrucou.
— E você que tem um gênio complicado.
Naquele curto espaço de tempo, o vampiro que tomara fama como assassino de aluguel, onde até mesmo sua fama chegou num ponto de Morgana Maiser, que notoriamente era conhecida naquele tempo, e ainda levaria seus feitos num nível maior em um futuro não muito distante, o procurar para ter sua ajuda. Mas não que naqueles segundos algo do tipo importasse, Alastair estava se sentindo leve como nunca o fez a tantos séculos, a ponto de esquecer seu mais profundo medo de se apegar, embora fosse algo que ele só viria a descobrir bem mais tarde.
O que estava sendo criado ali, naquele momento, era um laço que espantaria as chamas que dançavam nas lembranças de Alastair a cada dia de sua eternidade.
Anne cruzou os braços ainda irritada.
...
Bem longe da cidade Anjo, como a muito tempo Dorion não fazia, ele havia se teletransportado para um ambiente realmente curioso a seus olhos, espectros vermelhos faziam uma dança lenta e mortal por onde quer que olhasse.
Ao lado de Heleonora, os dois estavam exatamente onde a quase uma hora atrás os espectros reagiram à visão da bruxa de cabelos vermelhos.
E como se tivesse tudo programado, os espectros que estavam ali, se afastaram mediante a chegada de Heleonora, até mesmo Jack, que vivia anos em seu interior, Dorion pode o sentir se remexer.
— É realmente curioso, senhorita Heleonora, realmente tens um poder que os influencia, mas ainda existe uma dúvida em minha mente, e creio que somente a senhorita poderá me responder.
— Pois não ?
— Estava tendo uma visão quando os espectros reagiram ao seu chamado ?
— Sim, mas é algo que ainda não entendi completamente, lembro-me de a princípio na visão ter alguém que não cheguei a ver o rosto, e esta pessoa me falava que os ventos podem trazer, como também leva embora coisas, em seguida, apareceu alguém muito semelhante a Anne, depois veio o anjo reluzente, e seguida acordei.
— Entendo — disse Dorion se lembrando dos momentos antes de ter aberto a porta " poderia estar tudo relacionado, se sim, algo realmente importante virá dessa busca".
— Quanto a parte de Anne e notório ser ela, o anjo suspeito ser o senhor, embora lhe falte asas, acredito que possa estar relacionado ao fato daquilo que os moradores de Anjo acreditam, por causa do que andou fazendo para continuar a memória da sua conhecia, mas o bruxo por trás da capa que não vi o rosto, eu não faço ideia do que venha a significar — Dorion franziu o cenho pensando.
— Talvez não seja literalmente um bruxo, tal como não foi literalmente um anjo no meu caso.
— Mas quem poderia ser ? — perguntou Heleonora mais para si mesma tentando desvendar aquele mistério.
— O último herdeiro da rainha.
— Aquela mulher que caiu do céu a muito tempo atrás com alguém.
— Sim, eles estavam envoltos em fogo, mas não se queimavam.
Vozes começaram a sussurrar como um canto, e Heleonora se surpreendeu pela urgência no tom para respondê-la, do seu lado Dorion sorriu e a estimulou a continuar com um meneio de cabeça.
— E quem seria essa rainha ?
— A Bonneville perdida.
— Hadassa de Bonneville — Continuou as vozes, podiam ser muitos os espectros, mas era surpreendentemente poucos que tinham as respostas para suas perguntas, estes Heleonora deduziu que podiam ser os mais velhos ali, ou os que conheciam realmente essa tal Hadassa.
— Aquela rainha, que fez as águas vermelhas para evitar uma guerra que iria dizimar seu reino.
Dorion e Heleonora arregalaram os olhos, estava ali um mar de respostas que eles não imaginavam ter.
— Sim, ela que também fez o pedido para que os seus tivessem ciência do que podia acontecer no futuro.
— E assim evitar que outra calamidade como aquela acontecesse.
— Sua varinha veio daquela flor que floresce aos montes na montanha, a flor de cristal.
— E essas águas vermelhas ? — Heleonora perguntou novamente.
— São um objeto de grande poder minha senhora.
— Criada a partir daquela que veio da lua vermelha.
— Um ritual foi feito para que tais águas tivessem ligação com o destino, ou o tempo como preferirem.
— Ela é capaz de alterar qualquer coisa que quiserem, mas somente no presente.
— Somente se fizerem o desejo certo.
— E como ela funciona ? — a garota de cabelos vermelhos continuou testando pra saber até onde iriam.
— Quando a tarde ficar escura, e a lua vermelha aparecer nos céus.
— Uma gota de sangue é mais que o suficiente para tornarem qualquer desejo realidade.
— E quando ela vai aparecer no céu ?
— Normalmente a cada cem anos o céu é somente dela — Heleonora começou a ficar descrente daquela viagem, mas foi por pouco tempo.
— E o ciclo já está se completando.
— Amanhã ela virá aos céus, e o poder das águas será ativado novamente.
— E somente aqueles que descendem das quatro crianças poderá fazer um pedido, mas isso não será problema pra você minha rainha, encontraste os mais fortes de todos que vêm da primeira geração.
— Não compreendi.
— Donos de poderes extraordinários, que ficam mais fortes a cada nova geração, tal como as águas.
— Aqueles que descendem daquelas crianças têm o poder de dominar o mundo se assim desejarem.
— Nós os reconhecemos assim que colocaram os pés em Bonneville.
— Aquela que tem o poder de fazer os mortos a reverenciar.
— O único de sua espécie que tem um poder tão forte de controlar pessoas com o olhar.
— O que tem poder inesgotável de magia, porque a tira direto da fonte, de um modo que não a fere.
— E aquela cujo os poderes jazem adormecidos, mas ainda a uma imensidão inigualável neles, tudo por conta da ligação com as águas.
— Não entendo, não eram todos bruxos ?
— Coisas aconteceram nesse tempo milady, não vemos com exatidão o que acontece além daqui, mas sentimos bem a mudança.
— Sim a mudança que afeta todo primogênito da descendência.
— Esses sim podem moldar as águas a seus desejos.
— São os únicos que têm tal façanha, porque foram os primeiros que deram seu sangue para a criar, então ela cresce com eles, os demais somente possuem uma característica desse vasto poder.
— Se for assim, então meu filho também poderia... — Dorion falou pensando alto, os espectro se silenciaram.
— Você tem um filho? Legal, ele poderia nos ajudar nessa.
— Demétrius Dark — falou outra voz mais arrastada — sentimos sua ascensão daqui.
— É incrível como um ser de luz possa se unir tão facilmente a um ser sanguinário.
Heleonora ficou surpresa, então o homem à sua frente tinha muito mais segredos do que imaginava.
— Não a poder das águas vermelhas sobre ele, porque o garoto não é feito somente das criaturas abaixo dos céus como os primeiros foram.
Dorion arregalou os olhos, aquela informação só lhe dava mais certeza a respeito do que Heleonora havia lhe falado.
" Droga Angel, todos esses segredos ainda acabam comigo".
— Parece que você ainda tem umas coisas interessantes para contar — falou Heleonora.
— Neste primeiro momento que nos conhecemos, dúvido que todos tenham contado tudo — respondeu Dorion se lembrando do que poderia vir a ser o passado de Alastair — mas mudando de assunto senhorita Heleonora, talvez seja isso que sua visão queria dizer — falou Dorion tentando prestar atenção em outra coisa que não fosse seus pensamentos em Angel.
— Sim, mas se for mesmo isso, Alastair pode ser a resposta para o ser de capa.
— Isso, o último descendente da rainha.
— Precisamos voltar senhor Dorion, isso foi o suficiente para hoje.
— Concordo, e também precisamos descansar, amanhã vai ser um longo dia.
— De certo modo sim.
...
Enquanto isso, Anne estava quase dormindo ali sentada, enquanto Alastair achava graça na sua postura, embora surpreendentemente não quisesse fazer piadinhas daquela situação, pois no fundo entendia que a lobisomem precisava descansar.
Foi a deixa perfeita, naquela sala mal iluminada, onde o silêncio dominava, para suas memórias voltarem para aquele tempo que tanto lhe doía.
" Vovó Hadassa, vovó Hadassa, me conte mais histórias vai..."
O vampiro suspirou frustrado, aquela eternidade era uma maldição nas suas mãos.
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Atualizado até capítulo 36
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