capítulo 4

...MURILO...

Estou a caminho da minha empresa, curtindo a música, com o pensamento vagueando entre lembranças, sonhos e prospecções futuras. Quando ao olhar o retrovisor central vejo que um carro vem em alta velocidade e os carros a frente começam a parar devido a obras na pista, não tenho chances nem de desviar para os lados por terem carros também e logo acontece o pior, o carro se choca contra a traseira do meu e por sorte, eu tenho a mania de já sair de casa com cinto de segurança.

Sinto a pressão da batida , mas não sofro nada devido o cinto de segurança me prender. Desço do carro apressado mas ainda meio tonto para verificar como estão as pessoas carro. Uma mulher desce pelo lado do motorista com os cabelos bagunçados, provavelmente pela batida, constato em minha mente já que o salto alto, o vestido justo marcando as suas curvas até a altura dos joelhos e um blazer por cima, não condizem com uma mulher que sai de cabelos bagunçados.

Estranhamente, não consigo raciocinar direito com a figura daquela mulher a minha frente e sou tirado dos meus pensamentos com a voz dela, um pouco alterada.

— Moço, ei, moço... Meu Deus ele deve estar em choque! O que eu fiz... moço fala comigo

— Oi! desculpa, me chamo Murilo. A senhora está bem? Mais alguém no carro?

Ela suspira como que em alívio , mas logo isso se esvai e ela corre em direção ao carona. Acompanho ela e vejo outra mulher com a testa sangrando , ela está sem cinto e provavelmente por isso, com a colisão, deve ter batido a cabeça em algo.

— Aika, ai meu Deus... amiga, fala comigo.

Ela se vira para mim e ordena que eu chame a ambulância, e isso de certa forma me irrita, pois deveria ela mesma fazer isso, dado o fato que todos somos vítimas da sua desatenção e imprudência. Respiro fundo e começo a falar com ela:

— Desculpe, seu nome?

— Heloísa, Heloísa Sobral.

Ela responde ainda olhando para sua amiga no carro.

— Então, senhora Heloísa, creio que seja melhor você mesma ligar, não sei os dados da sua amiga, nem os seus e muito menos o que houve com ela.

Ela imediatamente me olha e vejo uma raiva no seu olhar, que sinceramente, não entendo. Mulheres!!

Heloísa se afasta para falar ao telefone e fico próximo de sua amiga para caso acorde, quando a ouço gemer bem baixinho

— Ai,hum...

— Aika? Ela abre os olhos com certa dificuldade e com olhar confuso

— Meu pai do céu, eu morri né? Para você que não conheço estar me chamando pelo nome... Ei, espera!

Ela me olha de cima até em baixo, e eu não sei se acho graça da cena ou fico preocupado.

— Oh não! Você está de terno, que saga a minha...fala com ar de lamentação e pondo a mão na cabeça.

Sem conseguir conter, sorrio timidamente do bom humor da mulher que mesmo ferida parece ser alguém engraçada e tento acalma-la

— Vocês bateram no meu carro, a sua amiga está a chamar o socorro e fiquei aqui para garantir estar segura.

Ela arqueia o seu corpo e olha a frente, põem as mãos na boca como estar surpresa e logo em seguida joga a cabeça devagar no encosto do banco.

— Puta merda, ela diz bem alto! Uma Mercedes GLA 200, se eu não morri agora a Heloísa me mata

Fazendo-me assim lembrar que hoje foi o primeiro dia que sai com meu novo carro, sou apaixonado por carros e hoje, justamente hoje, decidi estrear meu novo brinquedinho. A raiva começa a surgir e levanto para olhar o carro, quando Heloísa chega próxima a mim.

— Sr. Murilo, já chamei o socorro e gostaria primeiro de cuidar do estado de saúde da minha amiga, poderíamos conversar outro dia sobre como resolveremos isso?

Ela olha para o carro que ficou consideravelmente amassado e deixa sair um pequeno comentário como se tivesse pensado alto

— Droga! Vou ter que vender um rim, talvez, os dois.

Ainda com bastante raiva e confuso em como essa mulher que dirige feito uma louca consegue ser tão pragmática, tento elaborar uma resposta para ela.

— Provavelmente, terá de ser os dois rins

Ela revira os olhos e a sua ousadia mexe comigo de todas as formas. Ter o controle de tudo é uma característica forte minha, isso inclui mulheres bravas como essa.Antes que eu possa responder , as sirenes ecoam.

— Olhe, tome meu cartão, agora preciso ir. Fique tranquilo que ainda que eu tenha que usar ate mesmo os rins de Ayka – diz olhando por cima dos meus ombros para a amiga- eu lhe pago esse conserto.

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