Quando Moacir finalmente chegou àquela aldeia trouxe consigo uma mulher jovem e
bonita, pele muito branca, olhos cristalinos que carregava uma profunda tristeza, estava grávida e andava devagar. Depois de passar alguns dias no lombo de um animal de carga seus ossos estavam destruídos e mal conseguia conter as dores. Pousaram naquela noite no casebre de João e Mariana, era um lugar aconchegante se comparado ao local das últimas noites que se passaram. Cássia Escobar pertencia a uma família rica e tradicional, com características holandesas e uma educação impecável, era muito jovem, uma adolescente rebelde que em vão buscava unicamente a atenção dos seus pais. Aquela garota deitou-se na cama depois de ter sido bem alimentada, olhava a noite pelas fendas que tinham na parede de madeira, estava profundamente desgostosa, mas era impossível de corrigir seu erro, pensando nas horríveis palavras que tinha dito aos seus pais horas antes de morrerem caiu de joelhos com os olhos em lágrimas, rezou pedindo inúmeras vezes que Deus a perdoasse. Moacir estava no balcão com um copo de pinga na mão e ria alto na conversa com João.
- Uma garota fina e bonita não se encontra em qualquer lugar, o que fez com essa menina?
- Eu não fiz nada, ela insistiu para vir atrás de mim, mas vou te confessar, foi minha melhor caçada.
- E porque uma menina como ela, iria querer viver uma vida de cão ao seu lado?
- Ah, você faz perguntas demais, ela parecia um cachorro atrás de comida. Eu nunca jurei amor a ninguém, jamais acreditei nisso. Do andar de cima Cássia ouvia a conversa de Moacir e chorava de tristeza por ter aquele destino tão cruel. Durante os dias seguintes Mariana cuidava para que quando o bebê chegasse tivesse um lugar para ficar, pois o barraco que Moacir vivia não era lugar para uma criança, mas encontrava dificuldades para que ele entendesse, então ela mesma pediu para que João acrescentasse um vão à mais na sua casa e assim o fez. Não era nada sofisticado, nem aconchegante, mas Cássia sorriu quando o viu pronto. João olhou para ela e disse sorrindo:
- Não é nada comparado ao lugar que você vivia, mas dá para dormir. Cássia não pôde evitar que uma lágrima rolasse do seu rosto.
- Eu não sei como agradecer, vocês nem me conhecem direito e tem sido tão bom para mim.
- Oh menina, não precisa agradecer, vamos cuidar de você agora.
Com o passar dos meses Cássia já não conseguia fazer nada, sua barriga estava enorme e pesava demais para ela ficar andando de um lado para outro servindo comida ou arrumando os quartos. Mariana contratou Lara Valadi para lhe ajudar na cozinha, uma jovem que estava de passagem com os pais e os irmãos por ali, mas a garota só podia passar o dia e a noite Mariana tinha que se dividir em duas. E assim ela fazia, já que Cássia passava a maior parte do tempo na cama, mas ela fez com que esses dias fossem aproveitados de alguma forma, passou a ensinar para Mariana tudo que sabia, ela aperfeiçoou sua leitura e sua escrita, além de aprender a fazer novos cálculos.
Numa noite chuvosa um viajante apareceu na pousada, era um homem não muito magro, mas alto, com longos bigodes, chamava-se Alfred Albuquerque e tinha uma pele escura, um pouco queimada pelo sol, carregava uma grande pasta de couro velho e uma maleta. Mariana o acomodou num quarto no andar de cima e perguntou:
- Posso ajudar em mais alguma coisa, senhor?
- Não, eu só preciso dormir um pouco.
- Tenha uma boa noite.
- Espere um pouco senhora, como se chama mesmo?
- Mariana.
- Pelo que vi, não tem muitas casas nessa região, mas talvez você possa me ajudar, eu estou procurando um senhor, um índio por nome Moacir. Mariana permaneceu em pé na porta em silêncio, depois perguntou:
- O que o senhor realmente quer?
- Dona Mariana você conhece ou não o Moacir, eu tenho um serviço muito valioso para ele.
- Sim senhor, se quiser vê-lo realmente, ele estará à sua espera amanhã as seis da manhã. E assim aconteceu, as seis em ponto o homem de longos bigodes estava a conversar com Moacir a um quilômetro da pousada e não foi uma conversa longa, ele entregou-lhe um pacote e partiu. Mas todo aquele movimento pareceu estranho demais para Mariana, depois que Cássia disse que conheceu a voz do Alfred, um dos homens que trabalhava para seu pai, ela ficou atenta e não perdeu a chance de perguntar quando Moacir voltou:
- O que aquele homem queria?
- Não é da sua conta, você e o João agora deram para dizer o que devo fazer, eu só poupo vocês por causa de Cássia, estão cuidando muito bem dela, e que meu filho possa nascer saudável senão vocês vão se ver comigo.
- Estamos fazendo o que você deveria ter feito. Moacir balançou a cabeça com ironia e seguiu para seu barraco, logo em seguida saiu, montou no cavalo e partiu. Mariana voltou para a pousada e se dirigiu ao quarto de Cássia, ela gemia e segurava na cintura com uma das mãos.
- O que houve?
- São só algumas dores, logo passa, esse bebê não para quieto.
- Deite-se um pouco, vou lhe fazer uma massagem. Enquanto elas conversavam, João bateu na porta.
- Mariana, posso entrar?
- Sim, aconteceu alguma coisa?
- Não... e sim, olhem só isso. Hoje muito cedo eu fui ao quarto do Alfred e ele mim fez umas perguntas estranhas depois me deu isso e pediu que eu entregasse para Cássia.
- Eu sabia que o conhecia, eu sabia, meu pai está vivo?
- Não, pelo que disse somente um de seus irmãos, o mais novo eu acho, mas o que aconteceu realmente, você nunca nos disse nada Cássia?
- É doloroso, não sei se consigo falar sobre isso, mas porque Alfred não mim procurou?
- Ele tinha pressa, precisava falar com Moacir e partir imediatamente.
- Eu não entendo. João sentou-se aos pés da cama e olhou para Cássia com doçura depois disse:
- Sabemos que Moacir é pago para matar pessoas, não tenha medo de nos contar, ele matou a sua família?
- Vocês têm cuidado de mim tão bem, não posso esconder isso. Ela parou de falar por alguns segundos, depois levantando a cabeça continuou. - Moacir me enganou para conseguir entrar em minha casa, ele matou meus pais na minha frente, minha mãe ainda implorou de joelhos e ele não teve misericórdia. Ela transbordou em lágrimas e tentava em vão secá-las com as costas das mãos. Mariana sentou ao seu lado e acariciou seus cabelos.
- Já passou, fique calma.
- Não, eu preciso contar tudo para vocês. Ela soluçava, mas sentou-se, respirou profundamente e voltou a falar. - Tudo aconteceu em uma semana, ele esteve em minha casa como entregador e eu discutia com meu pai antes de sair, foi a primeira vez que o vi. Mariana e João olhavam atentamente para as palavras de Cássia. - Cinco dias depois ele mim surpreendeu no meu quarto, não sei como ele entrou em casa, como ele passou pelos seguranças, eu só sei que nem deu tempo de ninguém pedir socorro, quando eu cheguei à sala com ele, um outro homem mascarado já havia trancado todos os empregados na dispensa e meus pais estavam amarrados ali na minha frente, ele colocou um adesivo nos meus braços e na minha boca. Ela voltou a chorar, agora em silêncio, as lágrimas desciam copiosamente pelo seu rosto, mas não parou de falar. - Eu estava paralisada com tudo que estava acontecendo ali, mas ele foi muito cruel, atirou na cabeça do meu pai, eu o vi cair e o sangue escorrer rapidamente, formando uma poça ao redor de sua cabeça, minha mãe tremia incessantemente e chorava, seu olhar desesperador penetrava nos meus e não pude fazer nada, quando ele mim viu naquele desespero atirou também em minha mãe e a última coisa que lembro daquela noite, foi ela caindo lentamente no chão com os olhos abertos implorando por piedade.
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Atualizado até capítulo 87
Comments
Yumi Misuki
também achei 😟😟
2023-10-06
1
Day
👀👀👀👀👀👀
2023-02-20
1
Amanda
😔😔😔😔
2023-01-19
2