Tá acabando tio? – a voz ansiosa da menina de apenas 4 anos chega aos meus ouvidos, precisou levar cinco pontos porque caiu da bicicleta sem rodinhas.
- É isso ai gatinha, agora sem mais estrepolias pra não precisar levar outros pontos. Não há nada de errado em aprender a andar de bicicleta com rodinhas. – termino de dar o último ponto no seu queixo, fazendo um curativo logo após.
- Mamãe ela vai ficar boa, não quebrou nada, só foi um susto mesmo, mas caso você vê que ela tá muito caidinha, sem comer, ou algo assim, você trás ela de novo – estendo as receitas para a mãe, que me agradece e pega sua filha da maca, ela sai o recepcionista chega.
- Dr. Pedro os exames de Lucas Rogers chegaram – o recepcionista entrega pra mim os exames. Pedi na recepção que quando chegassem fossem entregues diretamente pra mim.
- Obrigado Denis – começo a folhear os exames, e a minha suspeita se confirma. Anexo as folhas em seu prontuário e antes de dar o diagnóstico decido atender mais um paciente. Por mais que eu queira comer algo e dormir, meus pensamentos não sai de um garotinho de olhos verdes.
- Geovane Albuquerque – Chamo o último paciente antes do horário de descanso e uma mulher loira, esguia levanta segurando a mão de um garotinho loiro com cabelos espetados, vestido de Homem Aranha, sorrio amo criança com a imaginação solta.
- Temos um Homem Aranha entre nós? Nossa que honra – embarco na fantasia do menino, que tem um sorriso gigante no rosto como se fosse realmente o personagem.
- E o que o homem aranha está sentindo hoje? – pergunto depois de fechar a porta
- aqui tá dodói – o garotinho põe a mão em cima da cabeça.
- Poxa vida, que chato isso né, vem senta aqui pro tio ver - o menino vem de bom grado estendendo os bracinhos pra erguer ele. Coloco ele sentadinho de frente para mim, ele aproveita e cata meu estetoscópio para brincar.
- Mãe e aí o que acontece? – falo me virando pra ela, que está encostada ao lado da maca, quando foi que o decote dela ficou tão grande assim?
- Então doutor ele está sentindo muita dor de cabeça, anda tão caidinho, não brinca direito. – ela fala com uma voz melosa, melosa até demais.
- Não teve febre, vômito, diarreia, nada? Ele caiu ou bateu a cabeça? – ela nega – Só a dor de cabeça? – ela assente
- Certo – Estou ouvindo os batimentos da criança, enquanto ele brinca com o ursinho que está grudado no estetoscópio, quando percebo que a mãe tarada tá me cochando por trás, tô sendo assediado no meu trabalho. Jesus!
- Senhora com licença, estou tentando atender seu filho. – Ela dá um passo pra trás, me deixando livre.
Termino o exame físico e não encontro nada de anormal, mas foi um saco a mulher o tempo todo no meu encalço, era passada de mão “sem querer” em meu braço, peito.
- Geovane você quer brincar ali no cantinho onde tem um monte de brinquedos? O tio vai ter uma conversa muito chata de adulto com a mamãe. Pode ser? – ele pula da maca e corre pro lugar destinado para as crianças.
- Então Doutor Pedro o que o meu filhinho tem? – lá está a mão em meu braço novamente.
- Minha senhora, estou trabalhando, apenas fazendo minha função como médico e você está me assediando na cara de pau – tiro sua mão do meu braço, e ela dá um sorriso sem graça – Vamos deixar as coisas formais ok?
- Desculpa Dr, achei que pudesse estar sendo correspondida. Você o tempo todo gentil e bondoso com o Geovane. Que.. sei lá... Desculpa – ela agora parece bem constrangida
- Eu sei, você não é a primeira que infelizmente confunde as coisas. Mas eu sou assim com todos os meus pacientes. Agora vamos mudar de conversa, não tem nada com o seu filho pelo menos no exame físico não apontou nada. Não acho necessário fazer ele passar por agulhadas, ele tá corado, tá ativo, brincando, se alimentando. Acho válido você procurar um oftalmologista, fazer um exame de vista, pode ser a causa da dor de cabeça. Mas caso ele apresente outros sintomas você volta aqui por ora vou passar um medicamento para dor pra ele tomar aqui.– carimbo os papéis antes de entregar a ela.
- Certo, vou ver isso hoje ainda, desculpa mais uma vez. Você é um bom pediatra – ela pega sua bolsa em cima da mesa e coloca em seu ombro – Vamos filho? – agora ela nem olha na minha cara, suspiro, mais um dia normal. Não é a primeira vez que isso acontece mesmo.
- Tchau tio – Ele abraça minhas pernas, coloco minha mão encima da sua cabeça e bagunço seus cabelos.
- Tchau garotão, toma todo o remédio pra ficar livre da dor de cabeça e ir embora pra casa tá bom?
💉💊
Tem uma hora que estou tentando entrar em contato com o cirurgião para o Lucas ter uma avaliação com ele. Mas o cara simplesmente me ignora, já liguei para a recepção do andar dele e ele não está em cirurgia. Ou seja está me ignorando e pior nem sei o motivo.
- Toc Toc – ouço batidas na pedra de granito da enfermaria, olho pro André parado ao meu lado com seu gigante sorriso perfeitamente brancos
- Fala André
- Cara, sua cara tá feia agora. O que acontece?
- Acredita que estou tentando há mais de uma hora entrar em contato com o Pietro pra fazer uma avaliação em um dos meus pacientes. Porém ele simplesmente ignora.
- Ó então você não está sabendo?
- Sabendo o que? – franzo minha testa
- No hospital não fala de outra coisa, como você não soube? – ele arqueia suas sobrancelhas grossas pra mim
- André para de enrolar, você sabe que não ouço buchicho do hospital – Já tô irritado, ele com esses questionamentos não está me ajudando.
- Ah andam dizendo por ai que você saiu escondido com a mulher dele – ele da de ombros
- O QUE? – grito, olho ao redor e ganhei a atenção de duas enfermeiras próximas. Ótimo! – Ele tá doido? Eu jamais peguei uma mulher comprometida – quase cochicho agora.
- Eu não sei cara, é o que dizem – fico mais pistola ainda, puta merda, não tenho tempo nem de respirar. Vou ter tempo de pegar mulher comprometida.
- Onde você vai cara? – Nem percebi que estava andando
- Resolver essa merda – grito pois já andei uma distância boa.
Subo para o setor de cirurgia, o povo não tem o que fazer não? Odeio mexericos. Aposto que tem, no hospital sempre tem algo pra fazer.
- Oi Carla – cumprimento a enfermeira – Chama pra mim o Dr. Pietro, e parem de dizer que eu peguei a Natália – aponto, pois sei que ela é uma fofoqueira de marca maior.
Ouço o som do alto falante chamando Pietro e tento buscar na memória o porque dessa fofoca sair, conheço Natália tem uns cinco anos, desde que seu pequeno nasceu, sou pediatra dele. Amo demais aquele carinha, semana passada ele esteve aqui para sua consulta anual, Pietro não pôde vir, pois estava em cirurgia. Natália estava apreensiva, pois suspeitava que estava grávida. Ah porra! dei um abraço nela em sinal de conforto e encoraja-la a contar para o marido. Merda ela não deve ter contado ainda.
- Dr. Pedro queria falar comigo? – ah agora resolveu ser profissional.
- Sim, mano eu soube o que estão dizendo por ai. Mas cara não tem nada acontecendo entre mim e sua esposa. O que viram foi um abraço de amigo. Como você sabe Nicolas teve consulta semana passada, Natália me confidenciou uma coisa e eu dei um abraço nela como apoio. Só isso nada mais
- E o que ela te contou? – Agora sua expressão era de curiosidade.
- Isso ela mesmo terá que te contar, se você não quiser acreditar em mim, tudo bem. Mas confia na sua esposa.
- Tem alguma coisa a ver com o meu menino?
- Não, relaxa. Nicolas está ótimo e se desenvolvendo super bem para a idade dele.– ele parece se tranquilizar, pois sua expressão suaviza.
Consigo convencer ele a avaliar o Lucas, e minutos depois estamos descendo para a ala pediátrica. Pergunto do pequeno Nicolas, ele conta todo orgulhoso do que seu menino é capaz de fazer, as travessuras deles. Esse cara tem um amor tão grande pelo Filho que é palpável o sentimento deles. Mostro pra ele os exames de Lucas, o que deu e porque chamei ele.
- Você sabe que eu gosto de tampar todos os buracos – me informo na enfermaria onde Lucas está internado. Bato na porta antes de entrar e vejo ele já de banho tomado com a coberta em suas pernas assistindo um desenho que passa na televisão. Camila está na poltrona ao lado do filho, faço sinal pra ela vir até mim.
- Boa tarde Camila, esse daqui é o Dr. Pietro, cirurgião e veio examinar o Lucas tudo bem? – ela arregala seus olhos pretos de jabuticaba para mim. Mas nada fala.
— E ai carinha, vejo que já tomou banho. Já comeu? — Pergunto.
- Sim – ele responde tão rápido que cerro meus olhos pra ele, não me convencendo muito.
- Você mal tocou na comida Lucas. – sua mãe denuncia ele, e vejo ele revirar os olhos.
- Que isso campeão, tem que comer, se não o tio vai ter que passar um caninho pelo seu nariz, pra você receber os nutrientes e ficar forte, e a gente não quer isso né – faço uma careta pra ele, que ri da minha cara.
- Não, eu vou comer melhor tio. Prometo.
- Então combinado, bate aqui – ele bate na minha mão todo eufórico, ele tá mais alegre, e mais corado também.
- Agora deixa eu te apresentar, esse é Pietro amigo do tio. Ele veio ver você tá bom? – ele olha engraçado para Pietro mas por fim concorda – Então deita ai pra ele te examinar melhor – ele faz exatamente o que pedi, eu dou uns passos pra trás deixando Pietro trabalhar. Por sorte Pietro só levanta um pouco a camisa de Lucas, assim não aparece as marcas, ele vai apalpando todo o abdômen do Lucas
- E ai Lucas, fiquei sabendo que você estava com dor na barriguinha já passou? – Lucas olha em minha direção, como se pedisse minha permissão então apenas aceno pra ele.
- Já sim – engraçado comigo ele é tão falante. Deve estar tímido, Pietro faz um barulho com a boca simulando um pum.
- Você ouviu isso Lucas? Acho que Dr. Pedro soltou um pum – Pietro cochicha no ouvido do Lucas mas alto o suficiente pra mim ouvir, Lucas da risada
- Ei eu não fiz nada, acho que foi o Lucas – ele sacode a cabeça em um não cheio de risos – Não acredito deixa eu ver – chego perto dele e faço cócegas mas não muito por conta do acesso em sua mãozinha, e ele gargalha muito e esse som é o meu preferido a partir de hoje.
- Pronto Lucas, vou deixar você em paz agora – Pietro diz abaixando a camisa do garoto e cobrindo suas pernas novamente.
- O tio já volta, tá campeão? – acompanho o Pietro pra fora do quarto.
- Ele não tem nenhuma hemorragia interna ou algo que precise de uma cirurgia seu diagnóstico tá certo, já pode dizer pra mãe – agradeço ele com um aperto de mão, Ele é mais velho que eu em idade e carreira. Não me envergonho em pedir ajuda, ou ouvir uma segunda opinião. Não sou o fodão, sempre que estou em dúvida de algo, busco outras opiniões mesmo. Estou lidando com vidas, Deus me livre alguém morrer na minha mão por negligência da minha parte. Uns chamam de exagero eu chamo de precaução.
- Eu vou embora hoje tio? – Lucas pergunta assim que entro no quarto novamente. Ando até ele e sento na beirada da cama, quando me vê deita sua cabeça em minhas pernas, fico estático por uns segundos. Esse menino tá derretendo o meu coração com seu jeitinho simples.
- Hoje não carinha, mas se você comer direitinho, beber bastante água e seu organismo responder bem aos remédios, semana que vem você estará em casa. Tá bom. – digo passando a mão em seus cabelos, em um cafuné.
- Tá bom tio, você vai vim me ver amanhã? – não me passa despercebido seu tom ansioso.
- Todos os dias até você tá forte o suficiente pra ir embora pra casa – dou o meu melhor sorriso pra ele, um que não dou tem anos, ergo meu pulso pra ver o horário, já passou metade da hora do meu descanso. Acho que fico uns 15 minutos fazendo carinho em seus cabelos, até sentir ele com o corpo mais relaxado, posso até ouvir o ressonar baixinho dele. Ajeito ele na cama, cobrindo ele em seguida.
- Camila, posso conversar com você uns minutinhos lá fora? – ela afasta o cobertor para o lado e se levanta, ela tem belas pernas, não posso negar. Merda Pedro você nunca olhou pra alguma mãe de seu paciente, não vai ser agora que vai olhar. — Penso.
Digo pra ela o diagnóstico, e o tratamento que será necessário fazer. Conto com calma para não desespera-la, ela tira todas as suas dúvidas comigo.
- Preciso ir buscar roupas para gente, posso revezar com alguém? – Pergunta pensativa
- Sim, Lucas tem direito a um acompanhante – respondo
- Obrigada, vou resolver as coisas antes dele acordar.
- Tudo bem, vou voltar para o consultório, dá um beijo no Lucas por mim – ela balança a cabeça em positivo me abraça e volta para o quarto, foram coisa de 10 segundos mas o suficiente pro seu delicioso perfume floral ficar na minha roupa.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Adryelle de jesus😍
Qual foi o diagnóstico autora q n vir
2025-01-31
1
Vanessa MR.
hummm.
2024-09-06
1
Lindagloria Souza
quando ela viu vc
2023-12-08
6