Paro na porta do hospital, e peço para a mãe – que descobri que se chama Camila – fosse fazer a ficha dele enquanto eu estacionasse o carro em minha garagem. Não sei se a preocupação ou nervosismo estava guiando ela, pois ela foi sem me questionar, deu um beijo na testa do filho antes de sair do carro.
Vou fazendo o trajeto conversando com o garoto sobre sua escola, amigos, até não obter nenhuma resposta, olho pelo retrovisor e encontro ele dormindo todo encolhido no banco traseiro. Desligo o carro quando já estacionei, aproveito e troco a camisa, sempre trago uma reserva para o caso de algum acidente acontecer, também já coloco meu jaleco.
Com uma mão pego minha maleta e com a outra, pego o menino no colo, ajeito ele de um jeito que ele fique deitado, então ele se aconchega no meu peito, e sinto uma paz em meu coração, como a muito tempo não sentia, não depois de ter perdido meus pais.
Cumprimento alguns colegas pelo caminho, não falam muito comigo, pois sou bem reservado e respondo só o básico, as duas pessoas que conversam comigo de boa é Carlos da ginecologia e André o cardiologista, isso porque já eram meus amigos antes do acidente. Depois da morte dos meus pais eu me fechei por completo. Não tenho relacionamentos sérios, não crio laços com ninguém. Minha única alegria é as crianças, neles eu vejo esperança de um mundo melhor. Não acredito em crianças ruins, acredito em situações que deixam as crianças revoltadas por não saberem lidar com a situação.
Saio dos meus pensamentos, quando estou na frente da porta do consultório, deixo minhas coisas em cima da mesa e coloco o garoto na maca com cuidado. Abro a ficha dele no computador.
- Tio – ele abre os olhinhos pra mim
- Ei campeão o tio vai chamar sua mamãe e já volta tudo bem? – ele concorda e se senta com os pés pra fora balançando as pernas.
No caminho peço pra uma enfermeira ficar com ele pra mim, vou até a sala de espera que graças a Deus não é longe, pois imagino como sua mãe deve estar aflita.
- Camila Rogers! – chamo, ela levanta e vem até a mim – Me acompanhe por favor – ela anda sempre de cabeça baixa, quase não sorri, mas quem sou eu pra intrometer na sua vida, sou apenas um desconhecido.
- Obrigado Belle, pode ir – agradeço a enfermeira, que sai não sem antes de me comer com os olhos me deixando sem graça.
- Vamos ver o que está acontecendo com você? – meço sua temperatura e caralho! 40° de febre, olho sua garganta, ouvido, mas quando vou levantar sua camisa pra examinar melhor, ele endurece seu corpo e olha pra mãe que a mesma segura em meu braço.
- Dr. é mesmo necessário tirar a camisa?
- Sim, eu não gosto de deixar escapar nada dos meus olhos – ela ainda não soltou meu braço e parece estar em uma discussão interna – Olha, eu não encontrei nada na garganta e no ouvido dele, eu não costumo pedir exames laboratoriais sem antes avaliar o paciente por inteiro, tem vez que os exames nem são necessários. – ela não se dá por convencida, está relutante. Tento outra tática.
- Lucas, vou falar com você ok? Tem algo acontecendo dentro do seu organismo, por isso tá com febre. O tio quando olhou a sua garganta e seu ouvido não achou nada para dar essa febre, porém o tio não examinou seu corpo, você deixa o tio ver se tem alguma coisa? Prometo que vai ser rapidinho e não vai doer. Você deixa? – Ele sacode a cabeça concordando comigo, e sua mãe por fim deixa eu levantar a camisa do garoto, e o que vejo me traz uma raiva tão grande, tem hematomas roxos em seu peito, algumas bolinhas que tenho certeza ser de cigarro.
- MAS QUE MERDA É ESSA?! – direciono meu olhar pra uma Camila pavorosa que tem as mãos na boca tentando abafar o choro. – Me explica Camila o que é isso?
- Foi o pai dele, ele estava nervoso e acabou batendo nele, mas ele não é agressivo foi no momento de estresse.
- ELE NÃO É MEU PAI! – O menino grita chorando.
- LUCAS não fala assim ele te ama – ela fala chorando tentando passar a mão na cabeça do filho que afasta pra trás.
- Com licença que eu quero examinar meu paciente – falo ríspido, mas eu tô muito puto agora. Fiquei tão possesso quando vi os hematomas que nem olhei seu corpo direito, devo estar com uma expressão muito ruim, pois Lucas olha ressabiado pra mim.
- Tio, você tá bravo comigo? – sua voz detona medo, e meu coração se aperta com isso.
- Claro que não campeão – tento suavizar minha expressão, e coloco sua camisa de volta.
- Eu tenho que contar isso Camila, não posso ficar calado – dou um passo pra sair da sala mas ela me segura pelo ombro.
- Por favor não fala nada, eles vão querer tirar o Lucas de mim, por favor – ela pede chorando e agarrando meu ombro com força.
- O que você quer que eu faça? Que colabore com essa merda? – viro bruscamente pra ela – É ISSO QUE VOCÊ QUER?! – Grito na sua cara, que dá um passo pra trás
- Tá tudo bem aí Dr Pedro? – o segurança pergunta batendo na porta.
- Sim Diego, obrigado pela preocupação – ele fala um sem problemas e ouço passos dele indo embora.
- Não é isso, é só que... É complicado – quando vou responder, vejo Lucas vomitando sangue no chão, corro pra ampara-lo, sem me importar se ele vai sujar meus Crocs.
- Tio.. Ai! – ele se curva pra frente com os braços em sua barriga – Minha barriguinha tá doendo muito – ele chora e seus lábios vão ficando cianóticos
- Calma aí campeão, o tio vai te ajudar – pego ele no colo e corro pra sala de emergência. A enfermeira vem me ajudar quando vê eu correndo com o garoto.
- Quero um cateter de oxigênio, um hemograma completo, preciso de um acesso também... - Tento fazer tudo rápido, mas a hora do acesso é sempre o mais demorado. Lucas quando vê a agulha chora pra valer se sacudindo, seguro ele firme pra não se machucar mas sem colocar força. Ele para de se mexer, mas ainda chora muito. A enfermeira não faz nada, ela sabe como trabalho.
- Não... Tio... Por favor – ele pede soluçando, lágrimas escorrendo, sua voz cansada.
- Lucas presta atenção no tio – falo um pouco mais alto que o normal mas sem gritar, e tenho a atenção dele – Essa parte é ruim, ela dói né? – faço uma careta – O tio quer te ajudar, quero fazer essa dor desaparecer, mas pra isso preciso que colabore com o tio. Ok– Ele se acalma e olha pra mim.
- Você pode segurar a minha mão? – ele pede com os olhinhos brilhantes por conta das lágrimas
- Claro – ele dá um sorriso que acerta em cheio meu coração, segura minha mão bem forte
- Pode ir Belle – ele fecha os olhos nessa hora e aperta muito mais minha mão, quando a agulha perfura a pele dele.
- Prontinho – a enfermeira diz depois de puncionar, agradeço e ela nos deixa sozinhos.
- Acabou viu só – ele abre os olhos devagarinho – Agora o tio vai ajudar essa dor a ir embora, você é um garoto muito corajoso – elogio ele, mas o sorriso que ele me dá não chega aos seus olhos, começo a administrar as medicações.
- Tio o senhor tem filhos? – ele pergunta observando tudo que estou fazendo.
- Não tenho Lucas, Porque a pergunta? – termino de colocar a bolsa de soro no suporte, mas a resposta dele não veio, quando olho em sua direção ele tinha se sentado.
- Se eu tivesse um pai queria que ele fosse como você, obrigado tio Pedro por cuidar de mim – ele me agradeceu e abraçou minha cintura, levei uns segundos pra abraça-lo de volta, e ter meu coração batendo mais rápido que o normal, acho que foram os segundos mais felizes da minha vida nesse abraço, ele me solta e deita novamente, o cubro com um lençol, não demora muito pra ele dormir.
Saio da sala deixando ele dormindo, e vou atrás de sua mãe, a encontro sentada no banco da sala de espera com a cabeça baixa e as mãos sobre o rosto.
- Camila – ela levanta sua cabeça rapidamente quando escuta minha voz.
- Então Dr? – pergunta com evidente preocupação.
- Lucas já foi medicado, está estável apenas dorme por conta de todo o cansaço, já solicitei alguns exames de sangue e mandei para o laboratório. Ainda não posso dar um diagnóstico, mas tenho minha suspeita. Se quiser ficar com ele, ele está na sala de observação, daqui a pouco peço para transferi-lo para um quarto. Agora com licença, tenho que atender outros pacientes – falo como profissional que sou, mas confesso que estou morrendo de vontade de ficar naquela sala e não deixar ninguém chegar perto do Lucas.
- Obrigada Dr Pedro – ela agradece me estendendo a mão, quando aperto sua mão que eu noto um roxo em seu olho esquerdo, mas como estava preocupado com o garoto não notei esse hematoma em seu rosto.
- O que é isso? – pergunto segurando em seu queixo e virando sua cabeça pra ter uma boa olhada.
- É nada, Eu bati na porta – ela responde e da um passo para trás.
- Camila não mente – Digo bravo – Eu tenho 29 anos, não sou uma criança tá na cara que alguém deu um soco aí – falo incrédulo
- Obrigada mais uma vez Doutor mas agora eu vou ficar ao lado do meu filho – e simplesmente assim ela me vira as costas, penso em ir atrás mas tenho outros pacientes para atender, então por ora deixo quieto. Passo na turma da limpeza e peço para limparem meu consultório, vou ter que atender em outra sala por enquanto.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
**Apresentação do personagem
...Dr.Pedro Lopes**...
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Aparecida Fabrin
bonitão hein./Tongue//Tongue/
2025-02-22
0
tuca
/Drool/
2024-12-26
0
Clecia Almeida
valha que Dr.Lindo 😍
2024-11-19
0