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Acordo disposta na manhã seguinte.

Lucas já não está em casa quando desço para tomar café. Faço algumas pesquisas na internet e depois de algumas ligações, marco com Alexander Bittencourt, o detetive particular. Já estou pronta para me encontrar com ele às dez da manhã, em uma cafeteria dentro do Barra Shopping. Antes de sair, envio uma mensagem para ele confirmando o local, não podia ser um local isolado porque Jorge com certeza estará na minha cola.

Mas no shopping, tenho como ficar longe dele por algum tempo, já que não gosto que ele entre comigo.

Aviso a Joana que estou de saída, mas que estarei em casa para o almoço.

Jorge está na cozinha me aguardando, então descemos juntos. Dentro do carro, ligo para o meu marido para avisá-lo para onde estou indo, antes que o X9 faça isso por mim.

— Helena — curto e grosso.

— Bom dia, Lucas.

— Bom dia. A que devo a honra da sua ligação a essa hora da manhã?

— Estou ligando para avisar que estou indo ao shopping.

— Fazer o quê, posso saber?

— Lucas, eu fico o dia todo sozinha em casa. Só vou dar uma volta, ver gente, talvez vá ao cinema. Sei lá.

— Tudo bem, mas não saia de lá sem o Jorge.

— Tudo bem. Tchau.

— Tchau.

Jorge me deixa em uma das entradas do shopping faltando vinte minutos para o meu encontro com o detetive. Digo a ele que pode descansar no carro que eu não sei a hora que sairei do complexo, mas garanto que não o farei sem ele. Ele acena afirmativamente e entra no carro.

Dou umas voltas pelo lugar, olhando as vitrines, dez minutos depois estou indo para o terceiro andar do shopping, mais precisamente para a cafeteria.

Reconheço logo de cara o detetive, primeiro porque vi fotos dele na internet e depois porque ele é o único de terno e gravata. Mas posso dizer que nenhuma das fotos que vi fizeram jus a tanta beleza. Misericórdia. O homem é um espetáculo. Muito alto, loiro com o cabelo bem curto estilo militar, olhos verdes, maxilar quadrado, barba por fazer e com um olhar de arrancar qualquer calcinha pela cabeça. Meu pai!

Respira, Helena! Eu me aproximo com cautela, assim que ele me vê, sorri. Ele se levanta e nos cumprimentamos com um aperto de mão.

— Bom dia, senhora Montenegro.

— Bom dia, senhor Bittencourt. Por favor, me chame de Helena.

— Digo o mesmo, apenas Alex — sorri de forma sedutora.

— Tudo bem — sorrio para ele. Ele puxa a cadeira para que eu me sente, espera que eu o faça e depois se acomoda na cadeira à minha frente.

O garçom se aproxima e fazemos os nossos pedidos, um café preto para ele e um chá de maçã para mim. Menos de cinco minutos, já estamos tomando nossas bebidas.

— Então, Helena. Diga-me para que precisa dos meus serviços? — ele olha em meus olhos, me dando sua total atenção. Muito sério e profissional.

— Quero que siga o meu marido e descubra se ele tem uma amante — assim que termino de falar, fico sem graça. Alex percebe e sorri para mim.

— Fique tranquila, Helena. Meu trabalho é sigiloso e não vou julgar sua atitude.

— Ok.

— Trouxe o que eu lhe pedi? — pergunta, depois de dar uma golada no seu café.

— Sim — abro minha bolsa e pego um envelope pardo de tamanho médio e entrego para ele. — Aí tem uma foto dele, o nome completo, nosso endereço, nome da empresa e o horário que ele sai de casa todos os dias.

Alex abre o envelope e verifica tudo o que eu disse, faz um aceno com a cabeça e guarda tudo novamente. Ele me estuda por uns segundos, bebe mais um pouco do café, e eu o meu chá.

— Diga-me, Helena, o que a faz pensar que seu marido tem uma amante?

— Bom, Alex. Lucas sempre foi compulsivo por trabalho, porém, sempre teve tempo para mim. Quando nos casamos, ele trabalhava como qualquer pessoa, de segunda a sexta em horário comercial, raramente trabalhava aos sábados — dou um gole no meu chá.

— Sim, continue.

— Mas de uns três anos para cá, ele mudou consideravelmente. Trabalha todos os dias, incluindo domingo.

Sempre chega muito tarde e o mais agravante, quase não temos relações sexuais — fico vermelha de vergonha e abaixo a cabeça. — Somos um casal jovem, temos cinco anos de casados.

Não acredito que com os outros casais seja assim.

— Entendi.

— Em quanto tempo você me dá uma resposta, Alex?

— Olha, depende da rotina do seu marido. Se tudo ocorrer como imagino, acredito que no máximo em dez dias eu terei a informação que você quer.

— Tudo bem. Quanto aos seus honorários...

— Já combinamos por telefone, não foi? Deposite a metade hoje e o restante quando eu lhe der as informações.

— Ok.

Nos levantamos ao mesmo tempo e apertamos as mãos.

— V ou te mantendo informada por e-mail. Foi um prazer conhecê-la, Helena.

Em breve nos veremos.

— O prazer foi meu. Até mais.

Ainda demoro mais uma hora no shopping, compro um vestido e uma bolsa, apenas para ter como desculpa de ter ido lá. Chego em casa por volta de meio-dia, tomo um banho e coloco um short jeans desfiado na barra, uma blusa regata e chinelo. Lucas detesta que eu me vista assim, fala que fico parecendo uma menina e não uma mulher casada.

Mas gosto de me sentir com vinte e oito anos, afinal, é a minha idade. Não como uma senhora de sessenta anos casada com um velho asqueroso.

Quando chego à sala de jantar, Joana tinha terminado de colocar tudo em cima da mesa. Sento e mais uma vez, almoço sozinha. Antes Joana e Ângela almoçavam comigo, até que um dia, Lucas chegou mais cedo do trabalho, e quando nos viu sentadas juntas conversando e rindo, humilhou-as.

Primeiro ele disse para as duas se colocarem em seus devidos lugares e que nunca mais queria que isso acontecesse. Depois que elas saíram da sala, antes mesmo de terminarem de comer, ele se voltou para mim com um olhar mortal, e disse “Nunca mais eu quero ver você sentada comendo com as empregadas! Você ouviu Helena?

Que coisa ridícula! Minha mulher almoçando com as empregadas!” e saiu andando em direção ao quarto. Fiquei com tanta vergonha, que passei o dia todo trancada na sala de cinema, sem coragem de olhar para elas.

Após o almoço não tenho mais o que fazer, então me pego sentada no sofá olhando para a parede e pensando em que merda minha vida se transformou.

Quando foi que meu casamento desandou? Quando me perdi? O pior de tudo isso é que não consigo me achar, não sei quem sou e para ser sincera, já estou muito cansada de tudo isso. Minha vontade é jogar tudo para o alto, mas como fazer isso sem um real motivo?

Como terminar um casamento sem sentido?

O cansaço é tanto, que tenho certeza que se o detetive confirmar que Lucas tem outra, não sentirei nada. Acho que nem alívio.

Decido dar uma volta no parque que tem próximo ao prédio, subo a escada em direção ao quarto, coloco uma roupa mais condizente, como meu marido diria. Visto uma saia soltinha e uma blusa de alcinhas, uma sapatilha, prendo o cabelo e entro novamente no closet atrás de uma bolsa. Depois de alguns segundos, decido por uma não muito pequena que combina com a cor da saia.

Coloco meus documentos, cartão, dinheiro, celular, um livro e saio do quarto.

Jorge vai comigo, a mando do Lucas.

Isso me irrita de uma tal forma. Por que eu preciso do Jorge na minha cola o tempo todo? Meu atencioso marido diz que é para me proteger. Eu só não sei do quê, exatamente. Eu me sento em um banco no parque e peço educadamente que meu motorista fique distante. Pego o livro, que faltam poucos capítulos para o fim e me concentro na leitura. O vento fresco acariciando o meu rosto e o barulho de crianças ao redor, não me incomodam, na verdade, é isso que eu quero. Quero vida, movimento, pessoas, conversas, tudo o que eu não tenho na minha casa, na minha vida.

Uma hora depois, eu estou com fome e sede, olho em volta e vejo um senhor com um carrinho de pipoca. Faço menção de me levantar, mas Jorge já está ao meu lado me perguntando o que eu quero.

— Senhora, deseja alguma coisa?

— Sim, Jorge — enquanto falo com ele, pego a minha carteira na bolsa e tiro uma nota de vinte reais e entrego a ele.

— Compra para mim, por favor, uma pipoca doce grande e uma Coca em lata.

— Sim, senhora.

Fico olhando ele se afastar até que me lembro que estou com a carteira na mão. Abro a bolsa novamente para guardá-la, então vejo a ponta de um cartão no fundo da bolsa. Estranho.

Sempre limpo minhas bolsas, tiro tudo que fica dentro delas. O que serve para alguma coisa eu guardo, o que não serve, eu jogo fora. Intrigada, pego o pequeno cartão negro, com letras bem distintas e leio.

S&A Assessoria Jurídica Marcos Assunção Advogado E-mail:

marcosassuncao@seaassessoria.com.bTelefones comercias: 0111-3425 / 231-0009 Celular: 90009-000 Como um flash, lembro do dono do cartão. Loiro, alto, olhos intensos que seguiu o ônibus onde eu estava há alguns meses, apenas para me entregar o seu cartão. Nossa! Nem lembrava que esse cartão estava na minha bolsa. Estendo a minha mão para jogar o cartão na lixeira ao lado do banco, mas algo me trava, não sei bem o quê. Recolho minha mão e depois de dar mais uma olhada no cartão, eu o coloco dentro da bolsa.

Minutos depois estou comendo minha pipoca doce e ainda pensando no loiro bonitão. Que atitude maluca ele teve aquele dia, seguir o ônibus e fazê-lo parar apenas para me entregar o seu cartão. Enquanto como a pipoca, fico rindo, foi a primeira vez que um homem quis chamar minha atenção de forma tão clara. Termino minha saborosa pipoca e meu refrigerante, e volto meus olhos para o parque, deixando de lado um certo advogado. Está uma tarde agradável, algumas babás estão com bebês e crianças. Elas correm, gritam, pulam, uma verdadeira farra.

Sorrio. Sempre quis ter um filho, mas Lucas sempre se esquivou. Primeiro dizia que estávamos em lua de mel e que éramos muito novos para sermos pais.

Depois, passou a dizer que não queria me dividir com mais ninguém, e que um bebê faria isso. Agora, ele simplesmente diz que não quer ter filhos, me obriga a tomar remédio e diz que se souber que parei de tomá-lo, me arrependerei amargamente.

V olto a atenção para o meu livro e em pouco tempo finalizo dois capítulos, sinto meus olhos cansados, olho para o relógio e vejo que já são quatro e meia.

Bom, pelo menos aproveitei meu tempo de uma forma diferente. Guardo meu livro na bolsa e me levanto, Jorge vem para o meu lado e juntos caminhamos para o carro.

E assim se foi mais um dia da minha maravilhosa vida.

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Comments

A Ribeiro

A Ribeiro

que merda de vida!!!

2024-03-28

1

Amanda

Amanda

Ela é uma prisioneira e nem sabe 😔

2023-08-14

1

Luciana Santos

Luciana Santos

esse cara tá aprontando

2023-08-05

1

Ver todos

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