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Janeiro de 2015

Levanto e mais um dia não tenho nada para fazer, desde que me casei com Lucas que não trabalho. E isso é um tédio! V ou ao banheiro tomar um banho e pensar no que farei hoje para me distrair e enquanto a água cai sobre meu corpo, penso em como deixei minha vida se tornar tão vazia.

Trabalhei com meu pai por pouco tempo em sua empresa, e foi lá que o conheci. Nunca tinha visto homem mais bonito e educado que ele, até então.

Eu, recém-formada em administração, estava há um ano trabalhando diretamente com meu pai, Carlos Fontes, na C.F . Importação e Exportação Ltda. E foi em uma reunião que conheci Lucas Montenegro. Sua beleza e porte físico com quase dois metros de altura me impressionaram.

Mantinha um sorriso educado nos lábios, e sem querer me peguei analisando sua figura. Cabelo cor de mel em uma bagunça sexy, olhos na mesma cor do cabelo, barba por fazer, um corpo grande e definido vestido com um terno de três peças preto, uma camisa branca, gravata preta e sapatos sociais. Estava extremamente elegante e bonito.

Ruborizei no momento em que percebi que ele notou que eu estava admirando-o. Meu pai nos apresentou e durante toda a reunião, Lucas não tirou os olhos de mim. Eu me sentia constrangida e não estava gostando de como ele me olhava. Não consegui me concentrar, mal prestei atenção na pauta discutida na sala. Assim que terminou a bendita reunião, peguei meus pertences e me dirigi para a minha sala, que era ao lado da sala do meu pai. Coloquei meu tablet e minha agenda em cima da mesa e fui ao banheiro lavar as mãos que estavam suadas de tão nervosa que fiquei. Olhei-me no espelho e meu rosto estava vermelho como um tomate, fechei os olhos e respirei fundo. Em meus vinte e três anos nunca tive um namoro firme, minha mãe sempre quis que eu fosse como ela, que encontrasse um homem rico e me casasse para nunca precisar trabalhar. Nunca pensei ou agi dessa forma, sempre acreditei que quando me casasse seria por amor, e que meu marido e eu lutaríamos por nossos sonhos. Ledo engano.

Assim que abri a porta do banheiro, eu o vi sentado na cadeira em frente à minha mesa. Fechei a porta e ele, ao ouvir o barulho, se virou em minha direção e sorriu. Não sabia o que fazer ou falar, aquele homem enorme e eu, na minha sala, era intimidante, mas não o deixaria perceber o quanto me afetava.

Suspirei baixinho, ele era muito bonito.

Levantou-se, estendendo a mão esquerda em forma de cumprimento.

— Oi. Desculpe entrar em sua sala sem avisar, mas gostaria muito de me apresentar formalmente, senhorita Fontes. Sou Lucas Montenegro, é um imenso prazer, enfim, conhecê-la.

Toquei sua mão com a minha e senti um arrepio, pensei que fosse de excitação. Ele sorriu abertamente para mim e esperou que eu falasse algo.

— Prazer em conhecê-lo, senhor Montenegro. Sou Helena Fontes, mas você já sabe disso. Sente-se, por favor.

Indiquei a cadeira em que ele estava sentado há poucos minutos, dei a volta em minha mesa e sentei em minha cadeira. Queria a todo custo me manter longe dele, só não sabia o motivo.

— Obrigado. Mas me chame apenas de Lucas, por favor — ele respondeu, enquanto se acomodava na cadeira.

— Em que posso ajudar, Lucas?

Imagino que tenha um motivo para você estar em minha sala?

— Sim, tem um motivo, Helena. Vim convidá-la para almoçar.

— Agradeço o convite, mas terei que recusar. Tenho um compromisso.

— Tudo bem. Então, que tal jantar?

Às oito horas, pode ser?

Percebi que se não aceitasse, ele ficaria insistindo. E além do mais, não vi mal algum em jantar com um colega de trabalho.

— Tudo bem, às oito.

— Fico feliz que tenha aceitado.

Passo em sua casa mais tarde.

E foi assim, aos poucos, que ele me conquistou com seu jeito despojado e extrovertido, romântico ao extremo, e muito educado. Começamos a namorar e em pouco tempo me apaixonei perdidamente por ele. Ele parecia estar apaixonado por mim também, então quando me pediu em casamento três meses depois, eu aceitei. Nos casamos em menos de dois meses, tínhamos pressa em estarmos juntos. Eu realmente acreditava que seríamos felizes para sempre. Aos poucos, ele foi se mostrando ser ciumento, mas era com coisas pequenas e eu sempre achei que fosse uma forma de ele demonstrar que me amava. Eu até gostava, achava bonitinho. Depois de um ano de casada, Lucas implorou que eu deixasse de trabalhar e eu cedi. Eu o amava tanto, que tudo o que me pedia, eu fazia. Ele dizia que não queria a esposa trabalhando, e que queria sempre me encontrar em casa quando chegasse do trabalho. E eu boba e apaixonada, aceitei. Se arrependimento matasse!

Olho à minha volta, para o nosso quarto, e suspiro triste. Decido dar uma volta, já que hoje é domingo e o meu marido, que era para estar comigo, está em mais uma reunião de trabalho. Então escolho um vestido longo de tecido leve, morar no Rio de Janeiro tem suas vantagens. Coloco umas pulseiras no braço direito, no esquerdo um relógio, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, e vou comer alguma coisa.

Depois calço uma rasteirinha, pego meus óculos e bolsa, e saio da cobertura. É o único apartamento do andar, o elevador é particular, então nunca encontro os meus vizinhos. Até o estilo do apartamento foi escolhido para me manter isolada de tudo e de todos.

Meu pai se afastou de mim drasticamente, assim que me casei, ele assumiu o namoro com Maria Luísa, a recepcionista da empresa. Maria Luísa tem vinte e três anos, é uma mulher linda, mas totalmente fútil e invejosa.

Hoje estão casados e ela faz de tudo para que meu pai se afaste cada vez mais de mim.

Não tenho mais amigas próximas, não tenho ninguém além de Lucas. V ejo meu pai e sua esposa em algumas ocasiões sociais da empresa ou em alguma festa chique que eles inventam.

Saio do prédio e não sei para onde ir.

Na verdade, não tenho para onde ir. Sigo para a orla da praia, onde eu caminho um pouco. Paro em um quiosque a duzentos metros da cobertura, sento na cadeira de madeira e coloco minha bolsa em cima da mesa. Peço uma água de coco e fico olhando o mar. Suas ondas ora são calmas, outras agitadas.

Queria que minha vida fosse assim, que tivesse movimento, que tivesse frescor.

Mas minha vida está mais parecida com um rio, sem mudar o percurso, sempre seguindo a calmaria. Estou casada há cinco anos e mais parece cinquenta, não sei como isso foi acontecer.

A moça do quiosque traz meu coco com um canudo e eu volto ao presente por uns instantes. Pego-o nas mãos, me recosto na cadeira e continuo contemplando o horizonte, e pensando.

No início do casamento éramos felizes, apaixonados e estávamos sempre juntos, viajando, fazendo programas de casais.

Já não sei quanto tempo que não fazemos mais isso, aos poucos, Lucas passou a ter menos tempo para mim, principalmente quando deixei de trabalhar. Nunca tem tempo para sair, nunca está em casa, sempre em reuniões importantes. Passou a ser menos carinhoso, menos romântico. Achei que fosse natural acontecer isso com os casais, mas comecei a olhar em volta. E todos os que eu conhecia eram diferentes, pelo menos pareciam ser diferentes. Até esse momento, ele ainda reservava o domingo para passar comigo. Agora, nem isso mais. Passo sete dias da semana sem ter com quem conversar. A única conversa que ele quer é na cama. Sexo. O que não é sempre, já que ele mal me procura. É só nesse momento que temos alguma intimidade, e sempre que terminamos, ele parece voltar a ser aquele homem que conheci. Mas basta acordar no dia seguinte, que tudo volta ao que se tornou normal.

Além disso, passei a perceber que ele é muito arrogante e autoritário. Tudo tem que ser feito da forma que ele quer, não importa o que eu penso. Ele diz que toma essas atitudes pensando no meu bem-estar, mas são poucas as vezes que concordo com isso. Também passou a ser muito ciumento, mais do que já era, controla tudo a minha volta, inclusive a mim. Controla o que eu como, o que visto, onde vou e com quem vou.

Controla com quem falo, foi assim que ele conseguiu afastar todas as minhas amigas. Ele me controla através do motorista, Jorge. E quando Jorge não está comigo, rapidamente me liga para saber o que estou fazendo, me mandando voltar para casa imediatamente. Nunca fez cenas de ciúme em público, também nunca foi violento. Sempre achei que essa era uma forma de mostrar que me ama, mas hoje já não sei mais.

Depois de mais de duas horas sentada olhando o mar sem falar nada, apenas pensando muito, e de duas águas de coco, resolvo que tenho que tentar mudar essa situação. Ainda gosto de Lucas, não sei se o suficiente para amá-lo novamente, mas ainda assim gosto dele. Pergunto-me se ainda quero salvar nosso relacionamento. Sim, eu quero e acho que temos chance de voltar a ser o que éramos antes. Então preciso mudar de atitude, parar de ficar acomodada com a nossa situação e tentar mudá-la de alguma forma. Um pouco mais animada com essa nova perspectiva, pago minha conta e vou almoçar em algum restaurante perto de casa mesmo.

**** Após o almoço, pego um táxi e vou ao shopping. Ligo para Lucas para avisar onde estou, antes que ele o faça.

Pergunto como está a reunião e ele me diz que está produtiva, pergunto também se vai demorar para chegar e ele me diz que no máximo às sete da noite estará em casa. Ótimo! Dará tempo de fazer tudo o que eu preciso. Chego ao Shopping Leblon, pago ao taxista e entro. V ou olhando as lojas com calma até me deparar com o que eu queria.

Uma loja especializada em lingeries.

Entro e logo uma vendedora sorridente vem me atender.

— Boa tarde, senhora. Posso ajudá-la em algo?

— Sim. Preciso de uma lingerie extremamente sexy, mas romântica ao mesmo tempo. V ocê tem aqui?

— Sim, senhora. Por favor, me acompanhe até uma sala reservada — ela vai à frente, mostrando o caminho.

Abre a porta para mim e faz um gesto para que eu entre. — Aguarde um momento, por favor, já trago o que a senhora pediu.

— Tudo bem.

Espero alguns minutos, poucos minutos. Escuto a porta ser aberta e a vendedora prestativa entra com nada menos do que trinta lingeries diferentes, de todas as cores e modelos. Ela vai mostrando uma por uma. Sutiãs e calcinhas, espartilhos, camisolas e baby dolls estão sobre a mesa, enquanto olho um por um, tentando me decidir qual levar. Depois de uma hora olhando e experimentando, opto por três lingeries diferentes; um conjunto de sutiã e calcinha na cor vermelha; uma camisola branca com a parte do sutiã em tecido e o restante em renda e uma calcinha pequenina combinando; um espartilho preto com cinta-liga e meia-fina. Pronto!

Quando chegar em casa, decido o que usar. Faço o pagamento das minhas compras, saio do shopping, já ligando para o SPA. Preciso ficar bonita e relaxada para o meu marido. Pego um táxi e enquanto estou indo ao SPA, ligo para a casa.

— Casa dos Montenegro, boa tarde — Joana atende com sua voz firme.

— Oi, Joana, sou eu. Por favor, peça para a Ângela para que prepare o prato preferido do Lucas, uma sobremesa também. Separe, por favor, um vinho que combine com o jantar. Deixe tudo preparado no deque da piscina, e coloque velas, mas deixe que eu as acenderei na hora certa. Preciso disso tudo pronto às sete horas em ponto, tudo bem?

— Sim, senhora Montenegro. Mais alguma coisa?

— Sim, Joana. Prepare meu quarto também com velas e rosas vermelhas.

Estarei em casa às seis horas.

— Tudo bem, senhora. Estará tudo pronto.

— Obrigada, Joana. Até daqui a pouco.

Encerro a ligação. V ou para o SPA mais do que ansiosa, quero que tudo dê certo e que esse seja o primeiro passo para o nosso recomeço.

Chego à cobertura às seis e meia da noite. A tarde que passei no SPA foi maravilhosa. Fiz esfoliação, massagem no corpo todo, banho de ouro e mais algumas coisinhas. Saí de lá com a pele reluzente, como eu queria estar, com a pele macia e sedosa. Lucas vai adorar.

Assim que abro a porta, sou acometida pelos aromas mais divinos que já senti. Ângela é uma cozinheira de mão cheia, não há nada nesse mundo que ela não saiba fazer. E se ela não souber, aprende em dois tempos. V ou até a cozinha verificar se está tudo como pedi. Assim que entro na cozinha, vejo Ângela finalizando o prato preferido de Lucas.

— Boa noite, Ângela. Nossa! O aroma está lá na entrada! Fez o que eu pedi?

— Boa noite, senhora. Sim, fiz o que me pediu. Como entrada fiz uma salada crocante, que tem como ingredientes muçarela de búfala, tomates cerejas, rúcula, pão de forma sem casca, mostarda Dijon e mel, azeite e sal. Para o prato principal, fiz Lagosta ao Thermidor, a refeição preferida do senhor Montenegro.

— E para sobremesa?

— Fiz petit gateau, sei que a senhora gosta — ela responde, sorrindo docemente.

— Perfeito. V ou ligar para o Lucas e confirmar o horário que ele vai chegar — falo, já saindo da cozinha indo em direção à minha bolsa que deixei na sala.

— Tudo bem, senhora. V ou manter a refeição aquecida.

Chego à sala e pego o celular que estava em minha bolsa em cima do aparador. Desbloqueio a tela e ligo para o meu marido. No quarto toque, ele atende.

— Oi.

— Oi, Lucas. Só estou ligando para confirmar o horário que vai chegar — falo receosa, não quero que ele perceba que estou preparando uma surpresa para ele.

— Devo chegar aí às sete e meia, mais tardar oito horas. Por que quer saber?

— Por nada. É que hoje é domingo e queria um pouco da sua companhia.

Escuto seu suspiro através do aparelho. Fecho os olhos. Silêncio.

Alguns segundos depois escuto sua voz mais suave.

— Ok, Lena. Daqui a pouco estou aí.

Sorrio feliz.

— Tudo bem, estarei te esperando.

Encerro a ligação. Corro até a cozinha e aviso a Ângela para manter a comida aquecida, que Lucas chegará mais tardar às oito horas. Como está tudo ok na cozinha, vou até a varanda e encontro a Joana arrumando a mesa do deque, como eu pedi. Elogio seu trabalho, ela me fala que já arrumou o quarto, agradeço a sua dedicação e vou me arrumar. Na sala, pego minha bolsa e as sacolas com as minhas lingeries e sigo para o quarto.

Assim que entro no quarto, me surpreendo. Joana fez mais do que eu pedi. Além das velas brancas, largas e redondas colocadas em posições estratégicas próximas à cama, deixando o ambiente a meia luz, há também pétalas de rosas vermelhas em formato de coração na cama e algumas jogadas grosseiramente pelo chão do quarto.

Essa noite promete. Guardo minha bolsa e as sacolas no closet e sigo para o banheiro. Tiro a roupa rapidamente, prendo meu cabelo em um coque e tomo um banho lento e suave, já estava limpa devido aos tratamentos no SPA, mas não poderia ficar sem tomar mais um banho.

Seco meu corpo com calma e visto meu roupão branco. Pego no closet a sacola com as minhas armas da noite e escolho a que mais combina comigo. A camisola branca de renda com a calcinha combinando. Visto um robe de seda branco por cima da camisola e um chinelo próprio para usar depois do banho, ele é todo felpudo e macio.

V erifico as horas no relógio, são sete horas e vinte minutos da noite. Passo meu perfume suave, solto meu cabelo, dando uma leve bagunçada, o deixando com uma aparência mais selvagem.

Agora sim, estou pronta. Saio do quarto levando comigo uma muda de roupa para Lucas tomar banho, todos os dias ele já chega indo direto se refrescar, fecho a porta e deixo a roupa no quarto de hóspedes. Encontro com Ângela e Joana na cozinha, peço a elas que deixem a comida na bandeja aquecida, cada prato com sua tampa de inox.

Dispenso as duas, aviso que não precisarei mais delas por hoje, então elas se despedem e cada uma vai para o seu quarto, que ficam atrás da cozinha na ala dos empregados.

Repasso as coisas na minha cabeça.

Comida preferida? Ok.

Vinho gelado? Ok.

Mesa no deque? Ok.

Quarto lindo? Ok.

Eu e minha lingerie mais que perfeita? Ok.

Tudo está do jeito que eu queria, basta agora esperar por ele.

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Comments

Angela Silva

Angela Silva

ele deve ter e outra isso sim

2023-10-20

5

Amanda

Amanda

Não sei não hein, esse Lucas não me cheira nada bem

2023-08-14

0

Luciana Santos

Luciana Santos

ele esta traindo ela

2023-08-05

0

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