A dor

A Rotina de uma semana normal se inicia, e os dias vão passando rapidamente, mas existe uma tremenda diferença no meio disso tudo, as mensagens diárias que envio para Samira, hoje é sexta feira e todo dia conversamos, parece que quanto mais falamos mais assuntos temos, não se esgota ontem fui dormir 1:00 da manhã peguei no sono no meio da ligação, acordei atordoado sem saber que dia era, o problemas disso tudo é que não me importo, talvez hoje tudo se repita de novo, e eu amo essa sensação de euforia que o fim do dia traz com eminência de que falarei com ela.

Termino meu trabalho, e constato que preciso de um banho, o dia foi quente, o verão chegou sem dó, trabalhar em casa tem suas vantagens, agradeço à Deus por isso, saio do escritório e vou direto para o banho, moro num bairro tranquilo, meu apartamento fica no 5 andar em direção do sol, por isso esse calorão...

Não sou muito bom de cozinha, mas sei me virar, me visto, e olho a bancada e fico com preguiça de sujar tudo, é melhor pedir alguma coisa para comer, decido pelo básico pizza, faço o pedido e confiro às horas, são sete horas, geralmente a gente conversa as 9:00, será que posso ligar mais cedo? vou enviar uma mensagem digitei:

--Tô saudade... posso te ligar?

Cinco longos minutos depois ela responde

--Saudade também... pode sim

O telefone toca somente uma vez, e ela responde prontamente

--Oi lindo!

Oi linda! Como passou o dia? Meu sorriso está enorme no rosto...

--O mesmo de sempre, cobrança dali, cobrança de acolá, a nutricionista esqueceu de enviar o cardápio, então tive que montar um, a temperatura dos alimentos estava desregulada de novo acredita? Ninguém me escuta nesse lugar viu, e você precisava vê a unha da cozinheira pintada de rosa, é o cúmulo, tô exausta mas amanhã é folga, obaaa, e você?

--Você é uma profissional maravilhosa, se preocupa com tudo Sam, mas infelizmente em todo lugar tem esses que gostam de atrapalhar quem gosta de trabalhar direito, continue firme... Escuto ela agradecer continuo, amanhã não vou fazer nada, bora no cinema?

-- Cinema? hum, e se eu te falar que não gosto muito de ficar assistindo filme? Mas se você fizer questão eu vou com você...

--Eu gosto de filme, mas não faço questão, então me diz do que você gosta de fazer?

--Eu gosto de ler, andar de patins, e amo comer...

--Ficou nítido seu entusiasmo pelo o último citado, então vamos procuram rodízio de alguma coisa para ir, ela concorda, então o meu interfone toca, já sei que a pizza chegou então falo... Sam a comida que pedi chegou vou lá buscar, não desliga... ela diz: Ok

Saio apressado, esqueci de conectar o fone de ouvido, então prefiro deixar o celular na bancada, abro a porta e aciono o elevador quando a porta se abre o zelador me entregar a pizza e eu reclamo:

--Não precisava ter trazido sr José, eu descederia rapidinho...

--Eu tava de bobeira jogando conversa fora com o João da portaria, e vim trazer foi rapidinho também, não foi incômodo algum...

--Então vem sr José comer comigo!

--Obrigada meu filho, mas não como essas coisas depois das seis, a idade chegou tenho que me cuidar... Bom apetite...

-Tá certo sr José, muito obrigada e tenha uma boa noite!

Volto para dentro, coloco a pizza no balcão da cozinha, e pego o celular, quando coloco no ouvido, escuto uma gritaria, uma voz de mulher dizendo:

--Samira sua ingrata, pra quê que eu te carreguei 9 meses? Toda vez que te peço ajuda, você nunca pode... então escuto um som de tapa, minha garganta fecha eu chamo Samira, Samira...

Sons abafados de choro, a Samira tá chorando? O que tá acontecendo meu Deus?

Então escuto a mulher que deve ser a mãe dela, falando de novo:

--Eu escutei você marcando de sair, quero vê se vai ter coragem de sair do jeito que você vai ficar quando eu te pegar...

Sons de tapas, Samira não reage, agora nenhum som eu escuto dela, somente das agressões, eu fico impotente, não sei onde ela mora, não posso parar a sua dor, fico atordoado e quando o som cessa, uma lágrima desce pelo meu rosto, porque eu não pude fazer nada, eu não entendi nada, mas eu sei que ela está sofrendo...

Muito tempo passa, escuto sons mas a ligação é encerrada abruptamente...

Eu ligo para ela mas cai na caixa postal, ela desligou o celular...

E agora eu não consigo comer, não consigo fazer nada, ela está incomunicável, saio do meu estupor e ligo para o Marco que ainda está viajando em lua de mel, quando ele atende eu o comprimento e tento ser o mais normal possível, falo que preciso de um favor, ele diz que eu posso pedir, então explico que preciso levar algumas coisas para a Samira, mas não sei onde ela mora, será que sua esposa poderia me passar o endereço, porque eu não consegui falar com ela pelo celular, ele diz sem problemas cara, então ele chama sua esposa enquanto ele explica, lembro que fui muito zoado essa semana por toda a família, dizendo que não larguei um minuto do pé da Samira, então esse não será um pedido estranho... Logo ele passa o endereço eu o agradeço, desligo o telefone, corro no quarto e calço um tênis, pego minhas chaves e a carteira, entro no elevador, não demora muito e estou deslizando pelas ruas, o endereço no jps, então avisto uma farmácia, para o carro e compro, saco térmico, pomada, calmante de pele, tudo que a balconista indicou...

Estou um pouco ansioso, não sei o que acontecerá, mas estou bem decidido, 20 minutos depois chego em frente a uma casa no subúrbio, simples mas pintada de uma cor alegre laranja, até apreciaria se não fosse a situação...

Bato na porta e uma senhora abre, tenho certeza que ela é a mãe da Sam, eu me controlo e falo:

--Boa noite, me chamo Samuel sou amigo da Samira, eu poderia falar com ela?

--A Samira não está!

--Está sim senhora, falo irredutível, mas ela apenas dá de ombros e diz: Acredite se quiser, e faz menção de fechar a porta, eu rapidamente falo...

--Enquanto a senhora espancava a sua filha, eu estava escutando tudo pelo celular, então eu sei que ela está aí machucada ou senhora me deixa vê-la ou chamarei a polícia... seus olhos ficaram esbugalhados mas ela não diz nada, apenas abre mais a porta e fala: segunda porta á direita, eu entro na casa e tem um homem jogado no sofá da sala dormindo..

Não presto atenção mais em nada sigo até a porta do quarto e resolvo não bater, abro devagarinho a porta e visualizo sua silhueta deitada na cama, tem um abajur do lado com uma luz bem fraquinha, eu entro fecho a porta atrás de mim, o quarto é pequeno logo estou do lado da cama, coloco a sacola na mesa onde está o abajur, me aproximo ela está deitada de barriga para cima, seus olhos estão fechados mas acho que ela não está dormindo... eu falo seu nome num sussurro:

--Samira, ela abre os olhos e muita surpresa diz :

--Saamuel? É você? Estou sonhando?

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