Nós

Ela me olha, com um sorriso de canto, parece que não ficou mais tão surpresa com as minhas perguntas abruptas, e diz:

--Samuel você é tão direto... e ri, eu fico em silêncio, esperando a resposta... então simplesmente ela começar a recitar seu número 0099-9900, eu rapidamente pego o meu celular no bolso e começo a digitar, mas exclamo:

--Que raios de número é esse? Tem certeza? E antes que ela responda, eu clico no botão verde, a chamada se completa e de repente, uma jovem senhora aparece andando rápido na nossa direção com o braço estendido dizendo:

--Samira, seu telefone estava em cima da mesa, e está tocando, a senhora fica parada e Samira atende dizendo: Alô?

Coloco o telefone no ouvido e respondo: Alô?

Nossos olhares se conectam, e começamos a rir, logo desligamos os aparelhos e Samira apresenta sua irmã para mim:

--Essa é a Jessica, minha irmã, mãe do Miguel e amiga da noiva, eu levanto e estendo a mão comprimentando-a, Samira continua:

--Jé esse é o Samuel, não sei mas acho que é parente do noivo? As duas me olham e eu falo:

--Sim, sou primo do Marco, prazer em conhecê-la

--Igualmente ela responde, já se virando quando fala: Vou procurar o Miguel, Licença.

--A beleza é de família, suponho?

-- Não saberia dizer, mas acho minha mãe bem bonita, meu pai também... ela pausa é como se ela quisesse dizer mais alguma coisa, mas se refreia... não pressiono, afinal ainda somos dois estranho, confiança requer tempo, eu posso esperar... posso mesmo? Me pergunto mentalmente, e respondo: Sim você pode, fique quieto! Para quebrar o assunto eu falo, você trabalha em horário comercial! Ela diz que sim, Bom, é só para saber quando eu posso te enviar mensagem, à propósito você mora aqui ou na cidade? Eu moro na cidade, respondo diretamente, pois já aprendi a lição, então ela fala:

--Moro na cidade, mas sempre gostei do interior, é mais tranquilo de viver...

--Morei aqui a vida toda, faz uns 6 anos que me mudei... mas as vezes sinto falta, e venho passar muitos dias aqui para a felicidade de mamãe.

-Que fofo você chamar mamãe, então me diz você é o filhinho da mamãe, é? Ela zomba... e eu não me ofendo, respondo sorrindo...

--Na verdade, ela queria que eu fosse, mas na realidade, eu sou muito independente para ser filhinho de mamãe, minha mãe se irrita por isso, mas é uma ótima mãe...

--Fico feliz por você! Desculpa a brincadeira...

--Sem problemas, não sou melindroso, sorrio, ela fica pensativa, mas o silêncio é confortável entre nós, olho para a pista de dança, a festa está fervendo, uma algazarra danada, olho para o pratinho de doce e está vazio, aponto para ele e ela entende, então aponto para a mesa indicando que vou lá, então ela estende o braço por cima da mesa e segura minha mão, impedindo que eu levante, ela olha fixamente nos meus olhos, eu não consigo entender exatamente o que ela quer dizer, então ela fala baixinho:

-- Você acha que eu sou uma boa garota? Eu sou uma boa garota? Parece que ela quer uma confirmação e apesar de não conhecê-la, eu quero que ela fique bem, então confirmo:

-Lógico que você é uma boa garota, eu diria que você é uma ótima garota, nunca duvide disso.. Os olhos dela ficam rasos d'água, sua mão aperta a minha, e ela suspira para não chorar, eu coloco minha outra mão por cima da sua, seguro firme e espero ela falar, as dúvidas me atormentam, o que ocorre com ela? Qual o problema? Será que eu posso ajudar?

Mas agora não é a hora nem o lugar para isso, para perguntas tão pessoais, então me contenho, ela sussurra: Desculpe! Fiquei emotiva.

--Nao tem problema, tá tudo bem! Dizem que chocolate resolve tudo, é verdade?

--Sim, é verdade... então como se fosse um acordo tácito nos levantamos e seguimos em direção da solução dos problemas, os doces!

Eu olho para ela, e vejo que passou o momento nebuloso, ela está rindo novamente e falando sobre a decoração, de como estava linda, enquanto conversamos e falamos sobre banalidades, percebo que algo em mim mudou, eu fico tentando entender exatamente o que, mas não sei dizer, porém é a primeira na minha vida que eu olho para uma mulher e penso: Eu quero ser o homem que ela precisa, eu quero que ela confie em mim, eu quero estar ao seu lado nos momento difíceis e nos bons também, eu quero, eu quero... esses pensamentos ficaram rondando na minha cabeça, então para não enlouquecer, puxo ela novamente para a pista de dança e ela sorrir com a surpresa, gosto de vê-la sorrindo, e falando agora sobre as peripécias do seu sobrinho, no momento ela está tão falante, quero que ela continue assim, então vou fazendo mais e mais perguntas incentivando-a a falar ainda mais, gosto do som da sua voz, as músicas estão passando uma atrás da outra e eu não sei dizer quais eram, entramos no nosso mundinho particular, de dois pra lá e dois prá cá e praticamente não saíamos do lugar, entre sorrisos, e gargalhadas das histórias que iam sendo contadas, mais confortável ficávamos na companhia um do outro.

Um senso de realização foi me preenchendo, então fiz uma nota mental para agradecer ao Marco, por ter se casado, sorri comigo mesmo pensando, numa festa despretensiosa com pretensão fiquei, de rever novamente aqueles olhos brilhantes que combinava perfeitamente com aquela boca que estampava um sorriso estonteante!

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