Quando vi aqueles dois homens se aproximando, abaixei a cabeça, torcendo para que não me reconhecessem. Meu coração martelava dentro do peito, minhas mãos suavam, e meu corpo tremia levemente. Enquanto passavam ao meu lado, virei o rosto na direção oposta, tentando desaparecer dentro de mim mesma. O homem que estava comigo percebeu minha inquietação—dava para ver isso em seus olhos atentos—mas, por algum motivo, ele não disse nada. Apenas observava, analisando.
Um dos homens parou, hesitou por um breve momento e, então, colocou a mão sobre o meu ombro. Meu corpo enrijeceu. O toque, mesmo leve, pareceu um peso esmagador sobre mim. Mantive a cabeça baixa, como se isso fosse suficiente para me proteger, e foi ali, naquele exato instante, que uma lágrima solitária escorreu e caiu sobre o prato à minha frente. A dor, o medo, a exaustão—tudo se transformando em gotas silenciosas.
O militar, que até então permanecia em silêncio, se levantou abruptamente. Com um movimento firme, afastou a mão do homem, talvez com mais força do que pretendia. O impacto fez o sujeito cambalear para trás. Um clima de tensão tomou conta do ambiente. Os dois começaram a discutir, e a troca de palavras foi se tornando cada vez mais intensa.
Foi então que um dos homens disparou uma justificativa improvável, desesperada—disse que eu era sua filha e que havia fugido de casa, sofrendo de uma doença psicológica que me fazia acreditar que estava sendo perseguida. Um argumento frágil. O militar franziu a testa, cruzou os braços e encarou os dois, seu olhar calculista avaliando cada palavra, cada expressão.
O restaurante inteiro assistia à cena em silêncio absoluto, olhos cravados em mim como se eu fosse uma peça de teatro em exibição. Queria desaparecer. Queria me encolher, me enfiar debaixo da mesa e fingir que não existia.
Enquanto os três homens continuavam do lado de fora, minha mente estava em um turbilhão. Não sabia o que fazer. Não sabia se corria ou se ficava. Então, por um impulso quase automático, apenas continuei comendo. Cada garfada misturada ao sal das lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Meu corpo se movia mecanicamente, ignorando o olhar inquisitivo dos clientes. A vergonha me corroía, mas o instinto de sobrevivência falava mais alto.
Foi quando o som dos tiros explodiu no ar.
O restaurante mergulhou em um caos repentino—gritos, cadeiras tombando, corpos se jogando ao chão em busca de abrigo. Eu fiz o mesmo, instintivamente. O ruído ensurdecedor ecoava em meus ouvidos, e a única coisa que conseguia sentir era meu coração quase escapando pela garganta.
A porta se abriu com força, e Gustav surgiu na entrada, seu semblante tenso, mas controlado. Ele arrumava o cinto, e seu olhar varreu o ambiente, avaliando a situação. Todos estavam aterrorizados, e minha mente disparou suposições. Seria ele o responsável pelos disparos? Queria assustá-los ou matá-los? E o pior—teriam contado algo sobre mim que o fizesse me enxergar como um problema?
Minha respiração estava descontrolada. Eu ainda estava no chão, mesmo depois do alvoroço diminuir. E, mais uma vez, o militar se aproximou, estendeu a mão e me ajudou a levantar.
— Você está bem? — perguntou, seu tom mais suave do que eu esperava.
Ao invés de responder sua pergunta, decidi perguntar o nome dele.
— Gustav. — Sua resposta veio firme. — Sou estrangeiro. Meu nome não é muito comum por aqui.
Achei um nome bonito. Estrangeiro ou não, parecia combinar perfeitamente com ele. Aproveitei para agradecer.
Ele me analisou com curiosidade, e seu próximo questionamento veio quase como um desafio.
— Qual o seu nome, garota?
Respondi sem pensar muito, no calor do momento:
— Miku.
Foi seco. Rápido. Quase rude. O peso da situação me impediu de suavizar a resposta. Espero que ele não me odeie por isso.
O silêncio pairou por um instante, mas logo Gustav retomou sua postura firme.
— Quem eram aqueles homens? Por que estavam atrás de você?
Minha mente acelerou, procurando uma saída. Não podia contar a verdade. Não agora.
— São ladrões. Roubaram meus pertences. — Disse, tentando soar convincente.
Ele estreitou os olhos, ponderando minha resposta. Talvez tivesse acreditado, talvez não. Mas o que veio em seguida deixou claro que, independentemente disso, seu ódio por aqueles dois homens cresceu.
— Eles fugiram. Mas eu não confio nisso. — Ele olhou ao redor, analisando tudo com cautela.
Meu peito ainda estava apertado. O medo persistia. Mesmo sabendo que os dois haviam partido, eu não me sentia segura o bastante para ir embora sozinha. Gustav percebeu isso. Se aproximou, e sua voz veio firme, mas acolhedora.
— Quer uma carona até sua casa?
Levantei os olhos para ele. Sorri, aceitando.
Mas... deveria contar para ele que não tenho uma?
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Anonymous
rapaz, isso aqui ta muito e bom 😎
2021-11-22
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