Deslumbre Entre Amigas

No caminho de casa, um movimento repentino entre as árvores capturou meu olhar.

Algo corria entre as sombras, veloz demais para que eu distinguisse com clareza... mas pelo porte e fluidez dos movimentos, era um lobo. Um deles.

Meu coração acelerou.

Por que estaria seguindo na mesma direção que eu?

Tentei acompanhar com os olhos, mas ele já havia sumido entre as copas espessas da floresta.

Suspirei, ajeitando o volante com mais firmeza até estacionar na frente de casa. Assim que entrei, ouvi vozes animadas vindo da sala. As meninas já estavam prontas, sentadas e conversando com Math, Vic e Sarah.

— Boa tarde, gente! — anunciei, entrando.

— Achamos que o Trevor tinha te sequestrado — provocou Math, com aquele sorriso malandro.

Todos caíram na risada.

— Haha, estou morrendo de rir, engraçadinho — revirei os olhos, jogando a bolsa no sofá. — Tivemos um probleminha para resolver.

Sarah me lançou um olhar mais atento.

— Está tudo bem?

Ela me conhece melhor do que qualquer um ali. Com os segredos que compartilhamos, fica mais fácil para ela ler o que está nas entrelinhas. E, como sempre, ela captou tudo sem que eu precisasse dizer nada.

— O mesmo de sempre... — murmurei, tentando disfarçar com um sorriso. — Vou subir, tomar um banho rapidinho. Me dá uns vinte minutos e estou pronta!

— Te conhecendo... não vai gastar nem dez — brincou Riley, rindo.

— Quase isso.— respondi, já subindo os degraus.

No quarto, separei uma saia leve e uma blusa básica. Tomei um banho rápido, deixando a água escorrer pelas costas, tentando lavar junto o peso da conversa com Trevor e o olhar cortante de Maya.

Me vesti, deixei o cabelo solto com leves ondas e fiz uma maquiagem suave, só o suficiente para dar uma cor no rosto.

Puxei a bolsa, respirei fundo e desci.

— Podemos ir, meninas! Sarah, vem com a gente?

— Hoje não dá... minha avó pediu minha ajuda com umas... Coisas. — disse ela com um sorriso compreensivo.

— Entendi... — pisco para ela discretamente. — Depois me conta, tá?

Sarah assentiu com um olhar cúmplice.

— Então vamos! Preciso voltar antes das 19h. Tenho compromisso.

— Deixa eu adivinhar... — começou Math, arqueando as sobrancelhas — com o Trevor?

— Ah, para de ser intrometido, muleque! Já basta ficar se metendo na minha vida, agora vai vigiar a da Sophie também? — retrucou Vic, batendo de leve no ombro dele.

— Deixa, Vic! É recalque. Está desse jeito porque não arranjou uma namorada ainda — provoquei, rindo.

As meninas gargalharam.

— Vamos logo, antes que ele resolva ir junto só para encher! — disse Vic, puxando minha mão.

— Hahaha, Barbie do camelô! — rebateu Math com uma risadinha debochada.

— Idiota! — Vic lhe deu um tapinha na cabeça.

— Ok, chega! — puxei Vic pelo braço, rindo. — Antes que sobre para mim!

Saímos entre piadas e provocações, entramos no carro e seguimos estrada afora em direção a Valley. Lá fora, o céu já começava a mudar de tom, e dentro de mim, um pressentimento estranho crescia em silêncio — como se o destino estivesse se movendo também, entre árvores e sombras.

Assim que chegamos ao shopping, as meninas mal esperaram o carro parar. Saltaram animadas, comentando vitrine por vitrine, apontando bolsas, botas e vestidos como se estivessem num parque de diversões.

Riley e Bruck dispararam na frente, deixando risadas pelo caminho. Eu fiquei ao lado de Vic, que caminhava mais tranquila.

Entramos em uma loja e, enquanto as meninas se perdiam entre cabides e provadores, aproveitei a calmaria ao lado de Vic para puxar assunto.

— Você e Dênio não vão sair hoje?

Ela soltou um leve suspiro, ainda observando um vestido no cabide.

— Ele ficou de me ligar. Disse que está preparando algo pra mim... que tem algo importante pra contar — murmurou, os olhos agora fixos no nada.

Finalmente, pensei. Já estava mais do que na hora dele contar a verdade antes que fosse tarde demais.

— E quando vocês vão para Beverly Hills?

— Ele insiste que precisa me explicar algumas coisas antes de pedirmos ao meu pai — respondeu, franzindo o cenho. — Sophie... eu sei que você sabe de alguma coisa. Mas por que não me conta?

— Eu já te disse, Vic. Não é meu segredo pra revelar. Ele precisa te contar, do jeito dele.

— Então é mais de uma coisa… — Ela estreitou os olhos. — Ele está doente? Porque se for isso, eu não me importo. Não vou abandonar ele por causa disso!

— Não é isso — disse com calma, tocando sua mão. — Dênio é saudável como nunca. E... seja lá o que ele te conte, posso garantir que vale a pena conhecê-lo de verdade. Ele é... único.

Vic me olhou com seriedade por alguns segundos.

— Vocês já tiveram algo? Por favor, Sophie, não mente pra mim.

— Você tá maluca? — dei um passo pra trás, surpresa. — Eu e Dênio? Nunca! Somos só amigos. Tenho um carinho enorme por ele, mas jamais passamos desse limite.

Ela soltou o ar como se estivesse segurando há dias.

— Eu precisava ouvir isso. Confesso que senti ciúmes de vocês várias vezes… Fiquei com isso entalado na cabeça.

Balancei a cabeça, sem entender como ela chegou a essa conclusão.

— Vic, eu nunca dei motivo. Na época que conheci Dênio, eu só tinha olhos pro Alec... e agora, só tenho olhos pro Trevor. E você... pelo visto, tá se apaixonando, não é?

Ela mordeu o lábio inferior, o rosto corando levemente.

— Vou confessar: nunca senti algo tão forte assim. Só não aconteceu ainda... você sabe. Ele sempre me para, como se estivesse esperando o momento certo.

Tive que segurar o riso. Era típico do Dênio. Ele era o oposto de Alec, que só faltava me devorar com os olhos.

— Como eu disse... ele é diferente.

Vic me deu um daqueles sorrisos sinceros, doces, que eu não via há muito tempo.

— Eu tô amando estarmos amigas de novo. Senti tanta falta das nossas conversas... das nossas loucuras.

— Eu também, Vic — sorri e a abracei apertado. — Senti muito a sua falta.

Ela me beijou o rosto com carinho.

— Que cena fofa! Tão fofa que me deu até vontade de voltar aos oito anos! — disse Bruck, surgindo com duas sacolas nas mãos.

— Como não lembrar daquela festa do pijama? — Vic riu. — Eu me joguei em cima da Sophie e quase arranquei o sofá da sala junto! Derrubei suco de uva no tapete e sua mãe quis me matar!

Rimos juntas, mas Riley nos lançou um olhar dramático.

— Ei! Eu fiquei traumatizada, tá? Até hoje não consigo comer nada na sua casa sem achar que vou ser expulsa!

— Ah, exagerada — rebateu Bruck, rindo. — A culpa nem foi sua, foi do suco de uva gourmet da mãe da Sophie!

— Vocês estão esquecendo que eu saí daquela festa toda machucada? Riley quase derrubou o bolo inteiro em mim!

Riley fingiu indignação e me deu um tapinha no braço.

— Sua chata! Não acredito que ainda lembra disso!

Depois das gargalhadas, as meninas pagaram pelas peças e seguimos pelo shopping, que estava cheio de famílias, casais e turistas. A luz do fim da tarde entrava pelos grandes vidros, dourando o chão e dando à cena uma aparência quase mágica.

Até que algo… mudou.

Minha respiração falhou. Um sussurro percorreu meu corpo como se tivesse vindo de dentro da minha própria mente.

"Sophie... pode me ouvir?"

Congelei.

A voz ecoava com familiaridade assustadora. Era real… mas ninguém mais parecia ouvir.

Eu conhecia aquela voz.

Não podia ser.

Como ela consegue se comunicar assim?

— Oi? Terra chamando Sophie! — Bruck estalou os dedos diante de mim.

— Ela tá em outra... deve estar pensando na noite de hoje — brincou Vic.

— O quê? Falaram comigo?

— Não! Com a princesa Diana! Claro que foi com você — provocou Bruck.

— Eu tava dizendo que a gente podia fazer uma festa no fim de semana que vem — disse Riley.

— Ah… festa. Claro, boa ideia — murmurei, ainda tentando processar o que tinha ouvido.

"Sophie, se conseguir me ouvir... me encontre nas escadas da saída de emergência. Terceiro andar."

Meu coração disparou. O ar ao redor pareceu ficar mais denso.

— Sophie, você tá bem? — perguntou Vic, me olhando com preocupação. — Sua cara tá branca. Parece que viu um fantasma.

— É... eu só acho que esqueci meu celular no carro. O Trevor vai me ligar e...

— Se quiser a gente vai com você lá fora — disse Riley, já se virando.

— Não! Não precisa. Eu... eu vou rapidinho. Ligo pra vocês quando voltar. Continuem vendo as lojas.

— Tem certeza? — perguntou Bruck, desconfiada.

— Tenho sim. Prometo que não vou demorar.

— Ok… só não desaparece. Se não a gente não aproveita nada! — disse Bruck, cruzando os braços.

— Prometo!

Dei as costas e fui direto para a escada de emergência. Desci apressada, desviando de algumas pessoas. O shopping continuava cheio, mas naquele trecho o movimento era mínimo.

Terceiro andar.

Era aqui.

Olhei ao redor, mas não havia ninguém.

— Oi...? Já estou aqui — chamei, tentando manter a calma.

Alguns segundos depois, ela surgiu diante de mim como uma sombra que ganhava forma.

Surgiu como se o ar tivesse se partido.

Dei um passo pra trás, o susto me arrancando o fôlego.

— Que bom que conseguiu me ouvir — disse ela, com a voz calma e olhos que me atravessaram como vidro.

Ágata

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